SóProvas


ID
2889100
Banca
IDECAN
Órgão
Câmara de Araguari - MG
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                              TEXTO I

                                             Meu valor


      Como todo homem tem seu preço e a corrupção é o que mais dá dinheiro no Brasil, hoje, decidi calcular o meu valor para o caso de quererem me comprar. É bom ter o nosso preço na ponta da língua e sempre atualizado, pois – para usar a frase-lema do Brasil dos nossos dias – nunca se sabe.

      Nossa autoavaliação deve ser objetiva. Costumamos nos dar mais valor do que realmente temos e há o perigo de, por uma questão de amor próprio, nos colocarmos fora do mercado. Também tendemos a valorizar coisas que, no mundo eminentemente prático da corrupção, não valem muito, como bons hábitos de higiene e a capacidade de mexer as orelhas. O que vale é o que podemos oferecer para o lucro imediato de quem nos comprar.

      As pessoas se queixam da falta de ética no Brasil e não se dão conta de que isso se deve à pouca oportunidade que o brasileiro comum tem de escolher ser ético ou não. Eu tenho tanto direito a ser corrupto quanto qualquer outro cidadão, mas não tenho oportunidade de sequer ouvir uma proposta para decidir se aceito. A corrupção continua ao alcance apenas de uns poucos privilegiados. Por que só uma pequena casta pode decidir se vai ter um comportamento ético enquanto a maioria permanece condenada à ética compulsória, por falta de alternativas? Quando me perguntam se sou ético, a única resposta que posso dar é a mesma que dou quando me perguntam se gosto do vinho Chateau Petrus: não sei. Nunca provei.

      Quem me comprar pode não lucrar com minhas conexões no governo ou com o conteúdo, inclusive, dos meus bolsos. Mas e o casco? Quanto me dão pelo vasilhame? Pagando agora eu garanto a entrega do corpo na hora da minha morte, com os sapatos de brinde. Tenho muitos anos de uso, mas todos os sistemas em razoável estado de conservação, precisando apenas de alguns ajustes das partes que se deterioraram com o tempo. Meus cabelos são poucos, mas os que ficaram são da melhor qualidade, do contrário não teriam ficado. Não dão para uma peruca inteira, mas ainda dão para um bom bigode.

      Meu cérebro, vendido à ciência, daria para alimentar vários ratos de laboratório durante semanas. Prejudicaria um pouco seu desempenho no labirinto, mas em compensação eles saberiam toda a letra do bolero No Sé Tú. Minhas entranhas dariam um bom preço em qualquer feira de órgãos usados, dependendo, claro, do poder de persuasão do leiloeiro (“Leve um sistema cardiovascular e eu incluo uma caixa de Isordil!”). Meu apêndice, por exemplo, nunca foi usado.

      Tudo calculado, descontada a depreciação, devo estar valendo aí uns, deixa ver… Mas é melhor não me anunciar. Vai que aparece um corruptor em potencial e eu descubra que não só não valho nada como estou lhe devendo.

                                                                          Luís Fernando Veríssimo

http://contobrasileiro.com.br/meu-valor-cronica-de-luis-fernando-verissimo/

Ao analisar a oração “Meu apêndice, por exemplo, nunca foi usado”, percebe-se que:

Alternativas
Comentários
  • a) Voz passiva analítica: é expressa por uma locução verbal formada pelo  ser + particípio passado do verbo principal.

    O gato foi retirado da árvore pelo bombeiro.

    O culpado sempre é descoberto.

    É importante ressaltar que somente os , que sintaticamente têm como complemento verbal objetos diretos, podem expressar a voz passiva.

    b) Voz passiva sintética ou pronominal: é formada pelo acréscimo do  pessoal se, na função de partícula apassivadora, a uma forma verbal na 3ª pessoa.

    Não se vê uma pessoa nesta sala.

    Descobre-se sempre o culpado.

    Note a presença da partícula apassivadora (se) junto ao verbo na construção da voz passiva sintética.

  • ANALÍTICA: verbo ser + particípio do verbo principal.

    SINTÉTICA: Verbo na terceira pessoa, seguido do pronome apassivador "se"

  • A) Ele está na voz reflexiva. ERRADO.

    Voz reflexiva é quando o sujeito pratica e recebe ao mesmo tempo a ação expressa pelo verbo.

    B) Ela está na voz passiva sintética. ERRADO.

    Passiva: O sujeito é paciente da ação. Sintética: verbo na 3ª pessoa e pronome apassivador SE.

    C) Ela está na voz passiva analítica. CERTO.

    Passiva: O sujeito é paciente da ação. Analítica: verbo auxiliar + particípio passado.

    D) Ela está reflexiva analítica. ERRADO.

    Gabarito: C.

  • Voz Passiva Analítica ou com Auxiliar.

    Dica boba caso tenha esquecido qual é o tipo de voz passiva. Na hora da cabeça fritando, ela pode te salvar.

  • Como distinguir se o verbo SER é verbo de ligação ou é parte da voz passiva analítica?

  • voz passiva sintética = Meu apêndice, por exemplo, nunca usou-se.

  • Note a presença do verbo auxiliar SER - na flexão "foi" - ladeado do verbo principal no particípio - "usado" -, o que configura a voz passiva do tipo analítica.

  • ANALÍTICA: Carlos não foi visto na sala

    SINTÉTICA: não se viu Carlos na sala

  • Voz passiva analítica: é expressa por uma locução verbal formada pelo  ser + particípio passado do verbo principal.

    Exemplo: O gato foi retirado da árvore pelo bombeiro.

    Voz passiva sintética: é formada pelo acréscimo do  pessoal se, na função de partícula apassivadora, a uma forma verbal na 3ª pessoa.

    Exemplos: Não se vê uma pessoa nesta sala.

    Descobre-se sempre o culpado.

  • FATORES QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA ACERTAR QUESTÕES COMO ESSA -

    • O sujeito tem valor paciente;
    • VOZ PASS. ANALÍTICA - SER + PARTICÍPIO;
    • VOZ PASS. SINTÉTICA - VTD/VTDI + SE.

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