SóProvas


ID
2895607
Banca
IBADE
Órgão
Câmara de Cacoal - RO
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Uma andorinha não faz verão

        No domingo de sol anterior ao Dia de Finados, evitei a praia lotada e subi para um refresco nas Paineiras. Morei dez anos em São Conrado e, na época, costumava fazer o trajeto com frequência, mas desisti do programa, depois de dar com dois corpos desovados pelo caminho. Agora só arrisco a visita nos feriados, quando o parque se enche de gente.

        A beleza do Rio é comparável à sua barbárie.

        No último mirante, depois da terceira queda d'água, o vento soprava forte, anunciando a virada de tempo na Guanabara. Dezenas de andorinhas aproveitavam a corrente de ar ascendente, impulsionando o voo num vertiginoso balé. Eu, conformada com as pernas, invejei a farra dos que nascem com asas. O espetáculo pontuou o fim do passeio.

        Uma semana depois, esperando o sinal abrir no cruzamento da Lagoa, ao lado do Clube do Flamengo, fui surpreendida por uma andorinha solitária, que cruzou o para-brisa do carro a toda. Depois de driblar o trânsito, arriscando a vida num rasante pela via expressa, ela se meteu no vão entre o verde e o vermelho do sinal de pedestres do outro lado da rua.

        Surpresa, percebi um resto de capim seco saindo da fresta do poste. Era um ninho em plena Avenida Epitácio Pessoa. Com tanta mata, tantas árvores e prédios altos na cidade, por que criar filhos num lugar tão desolado? Neurose urbana? Só pode ser.

        Chocar ovos requer um planejamento requintado. É preciso encontrar um parceiro disposto, um endereço seguro e esmerar-se para juntar a palha. Não é algo que pega uma ave de surpresa, como uma contração fora de hora que te obriga a parir na estrada. 

        Que anomalia era aquela que fazia um casal de andorinhas trocar o êxtase das Paineiras pela tensão do asfalto? A solidão de uma esquina feia? 

        O delírio da passarinhada do alto da Tijuca não tinha nada de humano. Era um estado natural, como o das plantas e o das pedras, sem consciência ou sentido em si. Mas o ser do sinal de pedestres da esquina na Rodrigo de Freitas era um indivíduo escarrado, um quase parente. Ao vê-lo, eu me reconheci na sofreguidão de seu retorno para casa, no esforço de criar os filhos num ambiente inóspito, no risco e na ansiedade.

        A andorinha aculturada sou eu.

        Neste mês, o Brasil assassinou um rio e o El aterrorizou Paris. O mundo não anda nada hospitaleiro. Mesmo assim, ainda creio nos ninhos e nas revoadas.

Fernanda Torres. In: fernandatorresvejario1@gmail.com

O verbo da oração “FUI SURPREENDIDA por uma andorinha solitária" encontra-se na voz passiva analítica. Ao ser passado para a voz ativa, deve assumir a forma:

Alternativas
Comentários
  • O tempo verbal em "fui surpreendida" encontra-se no pretérito perfeito do indicativo, assim como "surpreendeu-me"

  • isso tem relação com Hearts of Iron 4

  • O verbo auxiliar da voz passiva fica no mesmo tempo verbal que o verbo da voz ativa. Fui e surpreendeu são do pretérito perfeito do indicativo.

    Gab. A

  • Uma andorinha solitária surpreendeu-me.

  • Somando aos colegas:

    A voz passiva do tipo analítica é formada por alguns elementos:

    Verbo + Objeto direto

    voz ativa:

    ele chutou a bola

    na voz passiva o objeto direto transforma-se em sujeito , há a inclusão da partícula ser , o verbo deve vir no mesmo tempo e o sujeito da voz ativa vira agente da passiva..

    A bola foi chutada por ele

    “FUI SURPREENDIDA por uma andorinha solitária

    Uma andorinha solitária surpreendeu-me ..

    Sucesso, bons estudos, nãodesista!

  • Vamos converter para a voz ativa.

     

    1° Passo) O Agente da Passiva vira o Sujeito, para tanto, corte a preposição. Identifique em qual pessoa do singular ou plural seu novo sujeito está:

    uma andorinha solitária (= ela) ⇒ 3 ª Pessoa do Singular

     

    2° Passo) Identifique o tempo e modo em que o verbo auxiliar está conjugado.

    FUI = Pretérito Perfeito do Indicativo (está na 1 ª Pessoa do Singular - Eu fui)

     

    3° Passo) Elimine o verbo auxiliar e deixe apenas o verbo escrito em forma nominal.

     

    4° Passo) Reescreva o verbo principal conjugando-o no mesmo tempo e modo usados para o verbo auxiliar. CUIDADO: observe que agora o agente da passiva virou o sujeito, portanto conjugue de acordo com o que você identificou no 1° Passo.

    SURPREENDIDA (Particípio) = SURPREENDEU (3 ª Pessoa do Singular - ela , a andorinha, surpreendeu )

     

    5 º Passo) Reescreva o Sujeito Paciente como Objeto Direto (OD) do verbo conjugado. Como o sujeito era o pronome "eu", devemos transformá-lo no pronome oblíquo tônico "mim". 

    Uma andorinha solitária surpreendeu a mim

     

    Mas, você falou que era um OD, no entanto estou vendo uma preposição "a" antes do "mim". Não seria um objeto indireto? Não. Existem casos obrigatórios de Objetos Diretos Preposicionados. Um deles ocorre quando o objeto direto for um pronome oblíquo tônico, nesse caso é preciso escrever a preposição "a". 

     

    "surpreendeu a mim" não está entre as respostas! 

     

    De fato, agora entra a adaptação. O termo "a mim" é um Objeto Direto. Nas alternativas, todos os OD foram substituídos por um pronome oblíquo átono. A própria questão está nos ajudando, o pronome oblíquo átono que pode substituir um OD (com valor de 1 ª Pessoa do singular) é justamente o "me". Logo a resposta é:

    Uma andorinha solitária surpreendeu-me.

  • FUI SURPREENDIDA por uma andorinha solitária

    Uma andorinha solitária me surpreendeu ---> como não o termo anterior não obriga a PRÓCLISE, portanto, "ME SURPREENDEU" pode ficar "SURPREENDEU-ME"