SóProvas


ID
2929
Banca
FCC
Órgão
TRT - 4ª REGIÃO (RS)
Ano
2006
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

As crônicas de Rubem Braga



Décadas atrás, afortunados leitores de jornal podiam
contar com uma coluna em que sobravam talento, reflexão,
observação atenta das cenas da vida, tudo numa linguagem
límpida, impecável, densamente poética e reflexiva. Era uma
crônica de Rubem Braga. Os chamados "assuntos menores",
que nem notícia costumam ser, ganhavam na pena do cronista
uma grandeza insuspeitada. Falasse ele de um leiteiro, de um
passarinho, de um pé de milho, de um casal na praia, de uma
empregada doméstica esperando alguém num portão de
subúrbio
? tudo de repente se tornava essencial e vivo, mais
importante que a escandalosa manchete do dia. É o que
costumam fazer os grandes artistas: revelam toda a carga de
humanidade oculta que há na matéria cotidiana pela qual
costumamos passar desatentos.
Rubem Braga praticamente só escreveu crônicas, como
profissional. À primeira vista, espanta que seja considerado um
dos grandes escritores brasileiros dedicando-se tão-somente a
um gênero considerado "menor": a crônica sempre esteve longe
de ter o prestígio dos romances ou dos contos, da poesia ou do
teatro. Mas o nosso cronista acabou por elevá-la a um posto de
dignidade tal que ninguém se atreverá de chamar seus textos
de "páginas circunstanciais". Tanto não o foram que estão todas
recolhidas em livros, driblando o destino comum do papel de
jornal. Recusaram-se a ser um entretenimento passageiro:
resistem a tantas leituras quantas se façam delas, reeditam-se,
são lidas, comentadas, não importando o dia em que foram
escritas ou publicadas.
Conheci Rubem Braga já velho, cansado, algo
impaciente e melancólico, falando laconicamente a estudantes
de faculdade. Parecia desinteressado da opinião alheia,
naquele evento organizado por uma grande empresa, a que
comparecera apenas por força de contrato profissional.
Respondia monossilabicamente às perguntas, com um olhar
distante, às vezes consultando o relógio. Não sabíamos, mas já
estava gravemente doente. Fosse como fosse, a admiração que
os jovens mostravam pelo velho urso pouco lhe dizia, era
evidente que preferiria estar em outro lugar, talvez sozinho,
talvez numa janela, ou na rede do quintal de seu apartamento
(sim, seu apartamento de cobertura tinha um quintal aéreo,
povoado de pássaros e plantas), recolhendo suas últimas
observações, remoendo seus antigos segredos. Era como se
nos dissesse: "Não me perguntem mais nada, estou cansado,
tudo o que me importou na vida já escrevi, me deixem em paz,
meninos."
E teria razão. O leitor que percorrer crônicas do velho
Braga saberá que ele não precisaria mesmo dizer nada além do
que já disse e continua dizendo em suas páginas mágicas,
meditadas, incapazes de passar por cima da poesia da vida.



(Manuel Régio Assunção)

As normas de concordância verbal e nominal estão plenamente atendidas na frase:

Alternativas
Comentários
  • a)correta
    b)os méritos ... reconheciam
    c)estipular ... cabe
    d)ficar aguardando ... custasse
    e)ter os olhos ... bastasse
  • quaisquer não indicaria qualquer um? Então poderia ser um mérito somente - reconhecia quaisquer méritos na obra.
  • As normas de concordância verbal e nominal estão plenamente atendidas na frase:Reservam-se os artistas o direito (ou privilégio?) de escolherem o gênero e a forma que lhes pareçam os mais adequados ao seu intento de expressão. Porém, não consegui achar o erro da letra "B"...Na minha opinião, a questão é passível de anulação...Alternativa correta pelo gabarito da FCC, letra "A".
  • a) Reservam-se os artistas o direito (ou privilégio?) de escolherem o gênero e a forma que lhes pareçam os mais adequados ao seu intento de expressão. (CORRETA) b) Não se RECONHECIAM na crônica, antes de Rubem Braga, quaisquer méritos que PUDESSEM alçá-la à altura dos chamados grandes gêneros literários. (ERRADA) c) Não CABE aos críticos ou aos historiadores da literatura estipular se o gênero de uma ou outra obra é maior ou menor em si mesmos. (ERRADA) d) Uma vez submetido ao poder de sedução de seu estilo admirável, é possível que CUSTASSE aos leitores de Rubem Braga ficar aguardando a crônica seguinte. (ERRADA) e) Não lhe BASTASSE, além do estilo límpido, ter os olhos de um grande fotógrafo, Rubem Braga ainda freqüentava as alturas da poesia lírica. (ERRADA) Questão Complicada. Mas é isso mesmo, bons estudos pessoal! Aceito críticas!
  •  Pessoal, permaneço em dúvida, já que acredito em erro na alternativa "a". O verbo reservar é vtdi não? Ou seja, quem reserva reserva algo a alguém. Não estaria faltando preposição "a" para que a assertiva estivesse correta?

     

    Grato. 

  • Respondendo a dúvida de Rafa...

    Reservam-se os artistas..., neste caso se é pronome reflexivo e não pronome apassivador. 

    Os artistas se reservam o direito (ou privilégio?)...= Os artistas reservam a si o direito..., realmento o verbo é VTDI

     

  • PAra ajudar...

    a) Reservam-se os artistas o direito (ou privilégio?) de escolherem o gênero e a forma que lhes pareçam os mais adequados ao seu intento de expressão.

    O colega Rafa disse: "quem reserva reserva algo a alguém", ou seja, o verbo reservar é VTDI.

    O colega MoSam disse: "neste caso se é pronome reflexivo"

    Se é reflexivo, então SE = a si

    Rafa perguntou: "Não estaria faltando preposição "a" para que a assertiva estivesse correta?"

    Essa "a" responde a sua dúvida.

    OBS: acho que essa era a dúvida de muitos.

  • Outro erro da alternativa D não seria "Uma vez SUBMETIDOS ao poder de sedução de seu estilo admirável, é possível que CUSTASSE aos LEITORES de Rubem Braga ficar aguardando a crônica seguinte"??? 

  • Indiquem para cometário do professor, por favor!

  • a. Reservam-se os artistas o direito (ou privilégio?) de escolherem o gênero e

    a forma que lhes pareçam os mais adequados ao seu intento de expressão.

    Os artistas → sujeito.

    O direito → objeto direto.

    Se → objeto indireto reflexivo.

    Estaria errada a seguinte forma: reservam-se aos artistas o direito...

    b. Não se reconhecia na crônica, antes de Rubem Braga, quaisquer méritos

    que pudessem alçá-la à altura dos chamados grandes gêneros literários.

    A informação está impessoalizada.

    Reconhecia → VTD.

    Quaisquer méritos → sujeito.

    c. Não cabe aos críticos ou aos historiadores da literatura estipular se o gê-

    nero de uma ou outra obra é maior ou menor em si mesmos.

    Cabe → VTI.

    Aos críticos ou aos historiadores da literatura → OI.

    Estipular se o gênero de uma ou outra obra é maior ou menor em si mesmos

    → sujeito oracional.

    d. Uma vez submetido ao poder de sedução de seu estilo admirável, é possível

    que custasse aos leitores de Rubem Braga ficar aguardando a crônica seguinte.

    Custasse → VTI.

    Aos leitores de Rubem Braga → OI.

    Ficar aguardando a crônica seguinte → sujeito oracional.

    e. Não lhe bastasse, além do estilo límpido, ter os olhos de um grande fotó-

    grafo, Rubem Braga ainda frequentava as alturas da poesia lírica.

    Bastasse → VTI.

    Lhe → OI.

    Ter os olhos de um grande fotógrafo → sujeito oracional.

  • GABARITO: A

    Creio que há, sim, erro de regência na assertiva A, mas a questão quer saber se as normas de CONCORDÂNCIA estão sendo atendidas, e neste quesito elas estão.