SóProvas


ID
2943217
Banca
FACET Concursos
Órgão
Prefeitura de Esperança - PB
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                        Ano Bom   

                                                      (Sérgio Porto)
 
       Felizmente somos assim, somos o lado bom da humanidade, a grande maioria, os de boa-fé. Baseado em nossa confiança no destino, em nossas sempre renovadas esperanças, é que o mundo consegue funcionar regularmente, deixando-nos a doce certeza – embora nossos incontornáveis amargores – de que viver é bom e vale a pena. E nós – graças às três virtudes teologais, às quais nos dedicamos suavemente, sem sentir, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos; graças a elas, achamos sinceramente que o ano que entra é o Ano-Bom, tal como aconteceu no dezembro que se foi e tal como acontecerá no dezembro que virá. 

      Todos com ar de novidade, olhares onde não se esconde a ansiedade pela noite de 31, vamos distribuindo os nossos melhores votos de felicidades: 

      - Boas entradas no Ano-Bom! 

      - Igualmente, para você e todos os seus. 

      E os dois que se reciprocaram tão belas entradas seguem os seus caminhos, cada qual para o seu lado, com um embrulho de presentes debaixo do braço e um mundo de planos na cabeça.  

      Ninguém duvida de que este, sim, é o Ano-Bom. 

      Pois se o outro não foi! 

      E mesmo que tivesse sido, já não interessa mais – passou. E como este é o que vamos viver, este é o bom. Ademais, se é justo que desejemos dias melhores para nós, nada impede àqueles que foram felizes de se desejarem dias mais venturosos ainda. Por isso, lá vamos todos pródigos em boas intenções, distribuindo presentes para alguns, abraços para muitos e bons presságios para todos. 

      - Boas entradas de Ano-Bom! 

      - Igualmente, para você e todos os seus. 

      A mocinha comprou uma gravata de listras, convencida pelo caixeiro de que o patrão era discreto. O rapaz comprou o perfume que o contrabandista jurou que era verdadeiro. Senhoras, a cada compra feita, tiram uma lista da bolsa e riscam um nome. Homens de negócios se trocarão aquelas cestas imensas, cheias de papel, algumas frutas secas, outras não, e duas garrafas de vinho, se tanto. Ao nosso lado, no lotação, um senhor de cabeça branca trazia um embrulho grande, onde adivinhamos um brinquedo colorido. De vez em quando ele olhava para o embrulho e sorria, antegozando a alegria do neto. 

      No mais, os planos de cada um. Este vai juntar dinheiro, aquele acaricia a possibilidade de ter o seu longamente desejado automóvel. Há ainda uma jovem que ainda não sabe com quem, mas quer casar. Há um homem e o seu desejo, uma mulher e a sua esperança. Uma bicicleta para o menininho, boneca que diz “mamãe” para a garotinha; letra “O” para o funcionário; viagens para Maria; uma paróquia para o senhor vigário; um homem para Isabel – a sem pecados; Oswaldo não pensa noutra coisa; o diplomata quer Paris; o sambista um sucesso; a corista uma oportunidade; muitos candidatos vão querer a presidência; muitas mães querem filhos; muitos filhos querem um lar; há os que querem sossego; d. Odete, ao contrário, está louca pra badalar; fulano finge não ter planos; por falta de imaginação, sujeitos que já têm, querem o que têm em dobro, e, na sua solidão, há um viúvo que só pensa na vizinha. 

      Todos se conhecem com maior ou menor grau de intimidade e, quando se encontram, saúdam-se: 

      - Boas entradas de Ano-Bom! 

      - Igualmente, para você e todos os seus. 

      Felizmente somos assim. Felizmente não paramos para meditar, ter a certeza de que este não é o Ano-Bom porque é um ano como outro qualquer e que, através de seus trezentos e sessenta e cinco dias, teremos que enfrentar os mesmos problemas, as mesmas tristezas e alegrias. Principalmente erraremos da mesma maneira e nos prometeremos não errar mais, esquecidos de nossos defeitos e virtudes, os defeitos e virtudes que carregaremos até o último ano, o último dia, a última hora, a hora de nossa morte... amém! 

      Mas não vamos nos negar esperanças, porque assim é que é humano; nem nos neguemos o arrependimento de nossos erros, embora, no ano novo, voltemos a errar da mesma forma, o que é mais humano ainda. 

      Recomeçar, pois – ou, pelo menos, o desejo sincero de recomeçar -, a cada nova etapa, com alento para não pensar que, tão pronto estejam cometidos todos os erros de sempre, um outro ano virá, um outro Ano-Bom, no qual entraremos arrependidos, a fazer planos para o futuro, quando tudo acontecerá outra vez. 

      Até lá, no entanto, teremos fé, esperança e caridade bastante para nos repetirmos mutuamente: 

      - Boas entradas de Ano-Bom!

      - Igualmente, para você e todos os seus.
 
Porto, Sérgio. O homem ao lado: crônicas / Sérgio Porto – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

A construção adiante transcrita servirá de base para a questão: “Mas não vamos nos negar esperanças, porque assim é que é humano;...”  

 


A conjunção “porque” estabelece, entre as orações da construção, uma relação de: 

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    Mas não vamos nos negar esperanças, porque assim é que é humano; >>> observamos que pode ser substituído por "pois" e está explicando algo dito anteriormente.

    Porém, as classificações causal e explicativa são justamente de ordem semântica e interpretativa. Incluem as conjunções porque, pois, porquanto, que no conjunto das conjunções coordenativas explicativas, com a descrição «ligam duas orações, a segunda das quais justifica a ideia contida na primeira»; as mesmas conjunções são classificadas como subordinativas causais e elas «iniciam uma oração subordinada denotadora de causa».

    A) Eu fiquei sonolento, porque trabalhei muito na noite anterior. – O fato de eu ter trabalhado muito gerou uma consequência: eu fiquei sonolento. Se gerou consequência, posso dizer que é uma causa.

    (B) Aquele rapaz deve trabalhar de madrugada, porque está sempre sonolento durante o dia. – Ele trabalhar de madrugada não é uma consequência de ele estar sempre sonolento, mas apenas uma constatação. A oração iniciada pela conjunção apenas explica o porquê de ter-se chegado a tal constatação.

    Força, guerreiros(as)!!

  • GAB C

    Porque (junto) = explicação

  • pois antes do verbo explicativa

    pois depois do verbo conclusiva

  • Porque ou pois em início de oração tem função de explicação.

  • Gabarito''C''.

    Porque (junto, sem acento): É uma conjunção, portanto estará ligando duas orações, indicando causa (= já que), explicação (= pois) ou finalidade (= para que).

    Estudar é o caminho para o sucesso.

  • Aprendi aqui com os mestres do QC... e nunca mais errei...

    pois entre virgulas,CONCLUSIVO!

    pois sem virgula, EXPLICATIVO!

  • Repare: o ''porque'' está dando uma ideia de ''pois''

    Nesse caso é possível resolver a questão com a seguinte ideia

    Oração por coordenação sindética

    Conclusiva: Ideia de conclusão ( logo, portanto por isso...)

    Explicativa: Ideia de explicação

    Há um conectivo utilizado pelos dois: ''Pois''

    Quando saber se é ''pois'' conclusivo ou explicativo?

    Simples! Veja que...

    Explicativa: ''Pois'' quando vem antes da segunda oração

    Conclusiva: ''Pois'' quando aparece depois da segunda oração

    Ora, mas por quê a resposta não é a letra ''C''?

    Resposta: Na questão é encontrado o verbo ''ir''(vamos) antes do verbo negar que nos remete a lembrar sobre locuções verbais. O verbo ''ir'' é um verbo auxiliar e se está antes de um verbo, teremos uma locução verbal. Logo, teremos apenas 1 VERBO.

    Ex: ''Tive que ir na rua para comprar maçãs''

    Ir (verbo auxiliar) + comprar = Locução verbal

    Frase do texto :

    '' Mas não vamos nos negar esperanças, porque assim é que é humano;...”

    Ir +negar = locução verbal

    ''Porque'' com função de ''pois'' está antes da segunda oração cuja o verbo é: ''' (ser)

    Aqui tenho alguns dos verbos auxiliares:

    Ter/ Haver/ Dever/Ir/ Ser/Poder/Começar/ Chegar/Voltar

    Só mais uma dica: Eu não sei vocês, mas acho muito difícil criar associações mnemônicas para decorar alguns termos. Infelizmente eu ainda não consegui ou achei com os verbos auxiliares, mas eu achei uma com os principais verbos de ligação.

    Verbos de ligação: CAFESPP

    C - continuar

    A - andar

    F - ficar

    E - estar

    S - ser

    P - parecer

    P - permanecer

    Bom, espero ter ajudado. Bons estudos!

  • GABARITO::::::::C) explicação

  • A questão é sobre o uso do porque e quer saber a relação que a conjunção estabelece em "Mas não vamos nos negar esperanças, porque assim é que é humano;...". Vejamos:

     .

    A) finalidade

    Conjunções subordinativas finais: têm valor semântico de finalidade, objetivo, intenção, intuito...

    São elas: a fim de que, para que, que e porque (= para que)

    Ex.: Fazemos tudo, a fim de que você passe nas provas.

     .

    B) conclusão

    Conjunções coordenativas conclusivas: têm valor semântico de conclusão, fechamento, finalização...

    São elas: logo, portanto, por isso, por conseguinte, pois (depois do verbo), então, assim, destarte, dessarte...

    Ex.: Estudamos muito, portanto passaremos no concurso.

     .

    C) explicação

    Conjunções coordenativas explicativas: têm valor semântico de explicação, justificativa, motivo, razão...

    São elas: porque, pois (antes do verbo), porquanto, que...

    Ex.: Vamos indo, porque já é tarde.

     .

    D) negação

    Não há conjunção com valor de negação.

     .

    E) consequência

    Conjunções subordinativas consecutivas: têm valor semântico de consequência, resultado, produto...

    São elas: que (precedido de tão, tal, tanto, tamanho), sem que, de sorte que, de modo que, de forma que, de maneira que...

    Ex.: Estudou tanto que passou na prova.

     .

    Gabarito: Letra C

  • A construção adiante transcrita servirá de base para a questão: “Mas não vamos nos negar esperanças, porque assim é que é humano;...”  

     

    A conjunção “porque” estabelece, entre as orações da construção, uma relação de: 

    Alternativas

    A

    finalidade

    B

    conclusão

    C

    explicação

    D

    negação

    E

    consequência