SóProvas


ID
2953339
Banca
CETREDE
Órgão
Prefeitura de Pacujá - CE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

 Medo da Eternidade


      Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.

      Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.

Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:

      — Como não acaba? — Parei um instante na rua, perplexa.

      — Não acaba nunca, e pronto.

      — Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.

      — Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.

      — E agora que é que eu faço? — Perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver.

      — Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.

      — Perder a eternidade? Nunca. O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.

      — Acabou-se o docinho. E agora?

      — Agora mastigue para sempre.

      Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito. Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.

Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.

      — Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!

      — Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.

      Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.

Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.

                                                                                                       Clarice Lispector 

Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou! Esse trecho apresenta três orações. Quanto à classificação do sujeito de cada oração, respectivamente, marque a opção CORRETA.

Alternativas
Comentários
  • Se tivesse a alternativa "simples, oculto e simples" eu erraria.

    raciocinei que teria um "EU" entre o agora e o não -----> "Agora (EU) não posso mastigar mais!".

    Vou acompanhar a questão caso alguém esclareça a questão.

    Desde já agradeço!

  • GABARITO: LETRA B

    → Disse eu em fingidos espanto e tristeza. → sujeito simples, quem disse? EU (um só núcleo, sendo, dessa forma, sujeito simples).

    → - Agora não posso mastigar mais! → o sujeito está oculto, o correto seria oculto, mas como não temos essa opção, sabemos que o sujeito é "eu → A MENINA", está oculto e subentendido (a banca considerou como simples, logo vamos na alternativa mais correta).

    → A bala acabou! → perguntamos ao verbo: o quê acabou? A BALA (um núcleo, sendo sujeito simples).

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☺

  • Disse eu em fingidos espanto e tristeza.

    Quem está fingindo espanto e tristeza?

    -EU

    O sujeito é determinado e é simples.

     Agora não posso mastigar mais!

    Sendo franco, a gramática determina duas formas de reconhecer o sujeito o culto;

    1º Pela desinência verbal

    (eu ) comi o bolo da sua prima.

    2º pelo contexto.

    sua prima fez um bolo delicioso. caprichou nos ingredientes.

    Não se confunde o conceito de sujeito simples x Desinencial/oculto/elíptico.

    Simples;

    Apresenta somente um núcleo explícito.(Pestana)

    Elíptico; pela desinência verbal ou pelo contexto(Pashoalin &Spadoto)

    O sujeito é oculto

    A bala acabou!

    o quê acabou?

    A bala!

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • também acho que para a segunda frase seria a opção de sujeito eliptico devido a conjugação do verbo poder (posso)

  • Questão merecia ser anulada !!!

    Na oração Agora não posso mastigar mais!

    O sujeito da oração e Oculto/Elíptico ou Desinencial

    Não sei de onde a banca tirou esse simples.

  • Dá até medo de responder

  • oraçao 02 o sujeito e oculto, questão passível de anulação.

  • DÁ MESMO, POIS O GABARITO ESTÁ ERRADO, O CORRETO SERIA "SIMPLES, OCULTO, SIMPLES"

    A MENOS ERRADA É A LETRA B.

  • B

    “Disse eu em fingidos espanto e tristeza.” - sujeito simples: EU (um só núcleo = sujeito simples);

    “Agora não posso mastigar mais!” - o sujeito É SIMPLES, mas está oculto. Não há aqui, candidato, uma nova classificação de sujeito, mas sim, uma condição (explícito ou implícito). É um sujeito simples (oculto) = “eu”;

    - "A bala acabou!" O que acabou? A BALA (um núcleo = sujeito simples).

  • o sujeito da segunda oração é oculto cara, que questão complicada

  • Disse eu em fingidos espanto e tristeza. (sujeito simples "eu")

    Agora não posso mastigar mais! (sujeito oculto "eu")

    A bala acabou! (sujeito simples "a bala")

    a alternativa mais próxima é a letra C