SóProvas


ID
2954254
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Itapevi - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto para responder à questão.

“Tire suas próprias conclusões” 

Essa é a frase que mais tenho ouvido recentemente. Passada a euforia de uma notícia qualificada como “bomba”, logo os atores de uma das partes corriam a público para disponibilizar a íntegra daquilo que antes foi veiculado em partes.

É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depender de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a uma experimentação libertária, e uma quase contradição do termo. O imperativo que liberta também aprisiona: você só passa a ser, ou a pertencer, se tiver uma conclusão. Sobre qualquer coisa.

Nas últimas décadas psicanalistas se debruçaram sobre as mudanças nos arranjos produtivos e sociais de cada período histórico para compreender e nomear as formas de sofrimento decorrentes delas. A revolução industrial, a divisão social do trabalho, a urbanização desenfreada e as guerras, por exemplo, fizeram explodir o número de sujeitos impacientes, irritadiços e perturbados com a velocidade das transformações e suas consequentes perdas de referências simbólicas.
Pensando sobre o imperativo “Leia/Veja/Assista” e “Tire suas próprias conclusões”, começo a desconfiar de que estamos diante de uma nova forma de sofrimento relacionado a um mal-estar ainda não nomeado.
Afinal, que tipo de sujeito está surgindo de nossa nova organização social? O que a vida em rede diz sobre as formas como nos relacionamos com o mundo? Que tipos de valores surgem dali? E, finalmente, que tipo de sofrimento essa vida em rede tem causado?
Vou arriscar e sair correndo, já sob o risco de percorrer um campo que não é meu: estamos vendo surgir o sujeito preso à ideia da obrigação de ter algo a dizer. Ao longo dos séculos essa angústia era comum aos chamados formadores de opinião e artistas, responsáveis por reinterpretar o mundo. Hoje basta ter um celular com conexão 3G para ser chamado a opinar sobre qualquer coisa. Pensamos estar pensando mesmo quando estamos apenas terceirizando convicções ao compartilhar aquilo que não escrevemos.
É uma nova versão de um conflito descrito por Clarice Lispector a respeito da insuficiência da linguagem. Algo como: “Não só não consigo dizer o que penso como o que penso passa a ser o que digo”. Se vivesse nas redes que atribuem a ela frases que jamais disse, o “dizer” e o “pensar” teriam a interlocução de um outro verbo: “compartilhar”.

(Matheus Pichonelli, Carta Capital. 18.03.2016. www.cartacapital.com.br. Adaptado)



No contexto do segundo parágrafo, a “experimentação libertária” refere-se

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    É preciso saber de tudo e entender de tudo. É preciso tirar as próprias conclusões para não depender de ninguém, e é esse o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a uma experimentação libertária

    → Ou seja, uma experimentação libertária é pensar livremente, criando suas próprias teorias e extraindo sem a ajuda de ninguém um pensamento singular e subjetivo.

    Força, guerreiros(as)!!

  • Pretensa é um adjetivo feminino. O termo vem do Latim praetendere, que significa “estender à frente, alegar, colocar adiante”. O significado de Pretensa indica aquela pessoa que pretende ou supõe ser o que de fato não é. Ou seja, pretensa define o que é suposto, imaginado, possível.

  • É preciso tirar as próprias conclusões para não depender de ninguém, e é esse ( não depender de ninguém ) o grande e contraditório imperativo dos nossos tempos. É uma ordem a uma experimentação libertária ( tirar as próprias conclusões e não depender de ninguém ) , e uma quase contradição do termo. 

     “experimentação libertária” refere-se ....

    A) a uma pretensa liberdade de interpretação sem intermediários. ( uma suposta liberdade de interpretação sem uma pessoa interferir )

    Gabarito ( A )

    Obs: Quando meus comentários estiverem desatualizados ou errados, mandem-me msgns no privado, por favor, porque irei corrigi-los.

  • Assertiva (A)

    Ideia de Não depender de Ninguém...

  • No contexto do segundo parágrafo, a “experimentação libertária” refere-se

    A) a uma pretensa liberdade de interpretação sem intermediários.

    PALAVRA que fez toda diferença: pretensa

    pretensa: fictícia, suposta.

    Portanto temos uma fictícia liberdade de interpretação SEM intermediários