SóProvas


ID
3038521
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Ji-Paraná - RO
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                   Como não ser feliz

                  Nós não nascemos pra ser felizes. Isso é  uma descoberta, um anseio recente


      A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, á queima-roupa:

      -Você é feliz? Respondi, afável mas secamente:

      - Não!

      - Jura? Não acredito!

      A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: - Você passa a impressão de que é bem feliz... Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:

      - Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente. Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:

      - Quantas “pessoas felizes” você conhece?

      - Não muitas - ela respondeu, já um tanto desolada.

      - Eu não conheço nenhuma - sentenciei, quase amargo.

      Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.

      - O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila. Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.

      Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:

      - “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo.

      A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.

      - Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa. Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.

      - É, mas... e o dinheiro? - ela retrucou, mostrando não sertão avoada assim.

      - Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede m a is . E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro...

      A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.

     Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:

      - É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.

      Sorri. Ela também sorriu.

      - Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde - ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.

BALEIRO , Zeca. Como não ser feliz. Isto É, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)

Sintaxe corresponde a um dos níveis de análise de uma língua, que tem como objetivo principal descrever as regras responsáveis pela formação de uma sentença, ou seja, estuda a disposição das palavras na frase e a das frases no discurso, bem como a relação lógica das frases entre si. Sintaticamente, o segmento destacado está corretamente analisado em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    A) “Ela balançou a cabeça, RESIGNADA .” /predicativo do sujeito. → temos um predicativo do sujeito "ela", uma característica momentânea do sujeito.

    B) “Mas vi que era a SÉRIO quando ela tascou.” /objeto direto. → adjunto adverbial de modo, era SÉRIO.

    C) “se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem SONHOS IMPOSSÍVEIS” / complemento nominal. → quem tem, tem alguma coisa (o termo é objeto direto).

    D) “E isso torna as pessoas bastante INFELIZES.” / adjunto adnominal. → é um predicativo do objeto, o sujeito "isso" atribui uma caraterísticas ao objeto direto "pessoas".

    E) “O outro fica SEM PALAVRAS.” /objeto indireto. → adjunto adverbial de modo, o modo como eles ficam.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☺

  • Ela balançou a cabeça, RESIGNADA .” /predicativo do sujeito. → temos um predicativo do sujeito "ela", uma característica momentânea do sujeito.

    Ela-Suj.

    Resig.= Predicativo do Sujeito.

  • Ela balançou a cabeça e estava resignada.

    perceba que temos um predicado verbo-nominal.

    ELA= sujeito.

    balançou= predicado verbal,

    (verbo transitivo direto- VTD)

    a cabeça= objeto direto (complementa o VTD)

    agora, para facilitar a compreensão eu inseri o verbo de ligação ESTAVA.

    Estava= Verbo nominal (verbo de ligação)

    resignada = predicadito do sujeito ( concorda em gênero e número com o sujeito)

    quandohá junção do predicado verbal e predicado nominal em uma oração. Dar se o nome de predicado verbo-nominal

    Bons estudos a todos!

  • Essa vírgula antes de RESIGNADA. .. é como se assinalasse a elipse de "estava" RESIGNADA.

    Foi por aí que tirei a questão.

  • Arthur carvalho, na letra E seria predicativo do sujeito, não um adjunto adverbial de modo. Temos um verbo de ligação e uma característica atribuida ao sujeito, não?