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ID
3043108
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de São José do Rio Preto - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                      O cemitério dos vivos: testemunho e ficção

                                                                                                         Alfredo Bosi


      Perplexo, o intelectual crítico Lima Barreto, cuja obra toda fora uma denúncia da mentira social, teme que os médicos do Hospício o tratem de maneira cega ou arbitrária. Teme principalmente que a ciência livresca que seguem, avessa à ideia mesma de enigma, não lhes permita ter dúvidas, nem Ihes faça ver pessoas, mas apenas casos exemplares devidamente catalogados e passíveis das terapias reificadas nos manuais de psiquiatria.

      A impotência do internado, que sofrera o arbítrio dos policiais com seus preconceitos de cor e classe, vê-se, de repente, confrontada com a onipotência do médico. A assimetria é brutal e, embora Lima tenha escapado ao risco de virar cobaia de alienistas enrijecidos ou precipitados, a sua crítica guarda um potencial de verdade ainda hoje ameaçador:

O terrível nessa coisa de hospital é ter-se de receber um médico que nos é imposto e muitas vezes não é da nossa confiança. Além disso, o médico que tem em sua frente um doente, de que a polícia é tutor e a impersonalidade da lei, curador, por melhor que seja, não o tem mais na conta de gente, é um náufrago, um rebotalho da sociedade, a sua infelicidade e desgraça podem ainda ser úteis à salvação dos outros, e a sua teima em não querer prestar esse serviço aparece aos olhos do facultativo como a revolta de um detento, em nome da Constituição, aos olhos de um delegado de polícia. (Lima Barreto, p.34)

(BOSI, Alfredo. O cemitério dos vivos: testemunho e ficção. Prefácio (adaptado) em Diário do hospício e O cemitério dos vivos, Lima Barreto. São Paulo: Cosac Naify, 2010)

Assinale a alternativa que conduz uma leitura do texto em pleno acordo com a norma-padrão quanto à concordância verbal.

Alternativas
Comentários
  • A - A consolidação de certas terapias nos manuais de psiquiatria faziam (fazia) com que Lima Barreto temesse ser tratado como um dos casos catalogados.

    B - Lima Barreto temia que os médicos do Hospício o maltratassem, como é possível deduzir por sua obra que, faziam (fazia) muitas décadas, já denunciava a mentira social.

    Fazer - verbo impessoal quando se refere a tempo decorrido, permanece no singular.

    Outros exemplos:

    Faz 6 meses que não viajo/Vai para 2 anos que não fumo/Há 6 meses não saio.

    C - Lima Barreto temia que os responsáveis por sua internação, ao promover estudo de caso, constatasse (constatassem) nele apenas um detento revoltado.

    D - O internado, que já houvera sofrido o arbítrio de policiais preconceituosos, deparou-se com a onipotência do médico.

    E- Despertados pelas condições de internação haviam (havia) muitos temores, depois registrados pelo intelectual em suas obras de ficção.

    Haver - verbo impessoal com sentido de existir, permanece no singular.

    Se o verbo for um sinônimo (ocorrer/acontecer/existir), o verbo pessoal sinônimo concordará com o sujeito.

    “Um passo de cada vez e uma conquista a cada passo!”

  • GABARITO: LETRA D

    A) A consolidação de certas terapias nos manuais de psiquiatria faziam com que Lima Barreto temesse ser tratado como um dos casos catalogados. → temos um sujeito simples com o núcleo no singular "consolidação" → a consolidação FAZIA.

    B) Lima Barreto temia que os médicos do Hospício o maltratassem, como é possível deduzir por sua obra que, faziam muitas décadas, já denunciava a mentira social. → "fazer" indicando tempo decorrido é impessoal e não deve ser flexionado, o correto é FAZIA...

    C) Lima Barreto temia que os responsáveis por sua internação, ao promover estudo de caso, constatasse nele apenas um detento revoltado. → sujeito simples com núcleo no plural "responsáveis", deveria estar no plural: ELES constatassem.

    D) O internado, que já houvera sofrido o arbítrio de policiais preconceituosos, deparou-se com a onipotência do médico. → está correto, visto que temos um sujeito simples com um núcleo no singular, dessa forma, a concordância está em perfeita sintonia com a norma-padrão.

    E) Despertados pelas condições de internação haviam muitos temores, depois registrados pelo intelectual em suas obras de ficção. → verbo haver com sentido de tempo decorrido, sendo um verbo impessoal e que não deve ser flexionado, devendo estar no singular: HAVIA.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! AVANTE NA LUTA!

  • GABARITO: LETRA D

    E) Despertados pelas condições de internação haviam muitos temores, depois registrados pelo intelectual em suas obras de ficção.

    → verbo haver com sentido de EXISTIR, correto: HAVIA.

  • Essa questão exige que o candidato conheça as normas de concordância verbal, lembrando sempre que o verbo concorda com o sujeito. Quando na voz passiva, o verbo concorda com o paciente. Para auxiliar a leitura, vamos sublinhas os sujeitos marcar em negrito os verbos.

    De acordo com o enunciado da questão, devemos procurar pela opção que aponta a redação correta quando à concordância verbal. Tomando essas informações como base, vamos para a análise de cada opção:


    Letra A: INCORRETA. O verbo faziam está conjugação na terceira pessoa do plural quando o sujeito está no singular. "A consolidação de certas terapias nos manuais de psiquiatria faziam com que Lima Barreto temesse ser tratado como um dos casos catalogados". É importante notar que devemos fazer a concordância com o núcleo do sujeito e não com os adjuntos adnominais. Na oração, o núcleo do sujeito é a consolidação, por isso, o verbo deveria estar no singular. Portanto, essa opção está incorreta.

    Letra B: INCORRETA. Na opção "Lima Barreto temia que os médicos do Hospício o maltratassem, como é possível deduzir por sua obra que, faziam muitas décadas, já denunciava a mentira social." o verbo fazer está sendo usado com o sentido temporal. Veja que quando estamos adicionando a noção de tempo, o verbo precisa vir no singular, visto que, nesse caso, é impessoal. Por isso, a opção está incorreta.

    Letra C: INCORRETA. Na opção "Lima Barreto temia que os responsáveis por sua internação, ao promover estudo de caso, constatasse nele apenas um detento revoltado.", o sujeito está no plural. O núcleo do sujeito é os responsáveis, por isso, o verbo deve concordar com o sujeito, estando conjugado na terceira pessoa do plural. O fato de haver uma oração encaixada antes do verbo, não significa que a concordância não precise ser feita. Por isso, essa opção está incorreta.

    Letra D: CORRETA. Exatamente. Em "O internado, que já houvera sofrido o arbítrio de policiais preconceituosos, deparou-se com a onipotência do médico.", o verbo haver assume o mesmo sentido do verbo ter, funcionando como um verbo auxiliar na locução verbal. Em locuções verbais o verbo auxiliar é conjugado e o principal é usado na forma nominal. Por isso, essa opção está correta.


    Letra E: INCORRETA. Segundo a opção, "Despertados pelas condições de internação haviam muitos temores, depois registrados pelo intelectual em suas obras de ficção.", o verbo haver precisaria estar conjugado na terceira pessoa do plural, entretanto, quando com sentido de existir, o verbo haver é impessoal. Note que apesar da construção, o verbo haver ainda está se referindo a existência de temores. Por isso, o correto seria "Despertados pelas condições de internação havia muitos temores". Por isso, essa opção está incorreta.

    Gabarito do professor: Letra D.