SóProvas


ID
3045229
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
Prefeitura de Rio de Janeiro - RJ
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto: Pescando na margem do rio


      Era um homem muito velho, que cada manhã acordava certo de que aquela seria a última. E porque seria a última, pegava o caniço, a latinha de iscas, e ia pescar na beira do rio. As poucas pessoas que ainda se ocupavam dele reclamaram, a princípio. Que aquilo era perigoso, que ficava muito só, que poderia ter um mal súbito. Depois, considerando que um mal súbito seria solução para vários problemas, deixaram que fosse, e logo deixaram de reparar quando ia. O velho entrou, assim, na categoria dos ausentes.

      Ausente para os outros, continuava docemente presente para si mesmo.

      Ia ao rio com a alma fresca como a manhã. Demorava um pouco para chegar porque seus passos eram lentos, mas, não tendo pressa alguma, o caminho lhe era só prazer. Não havia nada ali que não conhecesse, as pedras, as poças, as árvores, e até o sapo que saltava na poça e as aves que cantavam nos galhos, tudo lhe era familiar. E, embora a natureza não se curvasse para cumprimentá-lo, sabia-se bem-vindo.

      O dia escorria mais lento que a água. Quando algum peixe tinha a delicadeza de morder o seu anzol, ele o limpava ali mesmo, cuidadoso, e o assava sobre um fogo de gravetos. Quando nenhuma presença esticava a linha do caniço, comia o pão que havia trazido, molhado no rio para não ferir as gengivas desguarnecidas.

      À noite, em casa, ninguém lhe perguntava como havia sido o seu dia.

      Fazia-se mais fraco, porém.

      E chegou a manhã em que, debruçando-se sobre a água antes mesmo de prender a isca na barbela afiada, viu faiscar um brilho novo. Apertou as pálpebras para ver melhor, não era um peixe. Movido pela correnteza, um anzol bem maior do que o seu agitava-se, sem isca. Por mais que se esforçasse, não conseguiu ver a linha, enxergava cada vez menos. Nem havia qualquer pescador por perto.

      O velho não descalçou as sandálias, as pedras da margem eram ásperas.

      Entrou na água devagar, evitando escorregar. Não chegou a perceber o frio, o tempo das percepções havia acabado. Alongou-se na água, mordeu o anzol que havia vindo por ele, e deixou-se levar.

Marina Colasanti. In: Hora de Alimentar Serpentes. São Paulo: Global, 2013. Páginas 363 – 364.

“Não havia nada ali que não conhecesse.” O verbo em destaque, nesse contexto, é impessoal. Também é impessoal o verbo da frase:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    → queremos um sujeito inexistente:

    a) Subitamente a tarde escurece no inverno. → sujeito simples: o quê escurece? A TARDE.

    b) Naquele lugar existia uma ventania contínua. → verbo "existir" não é impessoal, perguntando ao verbo: o quê existia? UMA VENTANIA (sujeito simples).

    c) De manhã cedo está fazendo muito frio. → temos um fenômeno da natureza, não há sujeito, fazendo a locução verbal "está fazendo" ser impessoal.

    d) Vinha amanhecendo o dia com a cantoria dos pássaros. → o quê vinha amanhecendo? O DIA → sujeito simples.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☺

  • Letra C

    Mas o verbo amanhecer muitas vezes também é impessoal por indicar fenômeno da natureza, assim como: chover, nevar, anoitecer, escurecer, alvorecer, ventar, relampejar, trovejar.

  • Apenas reforçando, os verbos impessoais são:

    . Haver;

    . Fazer;

    . Fenômeno da Natureza ou atmosférico.

    Conjugação:

    . 3ª pessoa do singular