SóProvas


ID
3050569
Banca
CETAP
Órgão
Prefeitura de Tailândia - PA
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                          A Grande Heresia do Simples


      Em seu livro Tristes Trópicos, Lévi-Strauss descreve os seus colegas brasileiros: “Qualquer que fosse o campo do saber, só a teoria mais recente merecia ser considerada. (...) Nunca liam as obras originais e mostravam um entusiasmo permanente pelos novos pratos. (...) Partilhar uma teoria conhecida era o mesmo que usar um vestido pela segunda vez, corria-se o risco de um vexame”.

      Cultivamos essa paixão pelas navegações intergalácticas e pelo modismo. Assim, acaba tudo muito complicado, inclusive na educação. Ouso arrostar a cultura nacional. Cometo a Grande Heresia do Simples: tento demonstrar que a educação brasileira precisa de um “feijão com arroz” benfeito, nada mirabolante, nada nos espaços siderais. Vejamos a receita que deu certo alhures.

      A escola precisa de metas. E que sejam poucas, claras, estáveis e compartilhadas. Se cada um rema para o seu lado, o barco fica à deriva.

      A escola tem a cara do diretor, o principal responsável pela criação de um ambiente estimulante e produtivo. Daí o extremo cuidado na sua escolha. Eleição por professores não será pior que indicação política? E, uma vez escolhido, o diretor precisa de autonomia, de par com cobrança firme do que for combinado.

      Boa gestão é essencial. Nem empresas, nem paróquias, nem escolas se administram sem dominar os princípios e técnicas apropriados. Ademais, as secretarias não devem atrapalhar, criando burocracias infinitas.

      O professor tem de dominar o assunto que vai ensinar e saber como dar aula. Infelizmente, as faculdades de educação acham isso irrelevante.

      Prêmios e penalidades. De alguma forma, o bom desempenho do professor deve ser recompensado. E, se falhar, que venham os puxões de orelha. Por que a atividade mais crítica para o futuro do país é uma das poucas em que prevalece a impunidade.

      Ensinou a teoria ou o princípio? Então, que sejam aplicados em problemas práticos e realistas. Diz a ciência cognitiva que sem aplicar não se aprende.

      Nova idéia? Então mostre sua conexão com alguma coisa que o aluno já sabe. Isso se chama “contextualizar”. Pelo menos, que não se ensine nada sem mostrar para que serve. Se o professor não sabe, como pode suceder na matemática, é melhor não ensinar. É preciso ensinar menos, para os alunos aprenderem mais. O tsunami curricular impede que se aprenda o que quer que seja. Ouve-se falar de tudo, mas não se domina nada. E como só gostamos do que entendemos, no ritmo vertiginoso em que disparam os assuntos, não é possível gostar e, portanto, aprender o que quer que seja.

      Valores e cidadania se aprendem na escola, tanto quanto a matéria ensinada. Só que não no currículo ou em sermões, mas na forma pela qual a escola funciona. Escola tolerante e justa ensina essas virtudes. Aprende-se pelo exemplo da própria escola e dos professores. Tão simples quanto isso. Com bagunça na aula não se aprende. Foi o que disseram os próprios alunos, em uma pesquisa do Instituto Positivo (confirmada por outros estudos). A escola precisa enfrentar com firmeza a assombração da indisciplina.

      Sem avaliação, a escola faz voo cego. Nossos sistemas de avaliação são excelentes. Mas ainda são pouco usados, seja pelos professores, pela escola ou pelas secretarias. É pena.

      A tecnologia pode ajudar, não há boas razões para desdenhá-la. Mostra o Pisa: na mão dos alunos, produz bons resultados. Mas não é uma ferramenta para alavancar mudanças. Escola travada não vai mudar com computadores, tablets ou smartphones. Pior, dentro da escola, escoam-se décadas e ela continua um elefante branco, incapaz de promover avanços na qualidade. E aos pais cabe vigiar. Conforme o caso, apoiando ou cobrando.

      O currículo é ler com fluência, entender o lido, escrever corretamente, usar regra de três, calcular áreas, volumes e um juro simples, ler gráficos e tabelas... Só depois de dominado isso podemos ir para as guerras púnicas, derivadas e integrais, reis da França, afluentes do Amazonas e a infinidade de bichinhos do livro de biologia.

      Onde está a complicação? Fazer bem o “feijão com arroz” seria uma revolução no nosso ensino. Mas, para muitos, o simples é a Grande Heresia.

(Fonte: CASTRO, Claudio de Moura. Veja-21 de outubro 2015)

Todas as palavras entre parênteses estão classificadas corretamente, exceto:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    → E, se falhar, que venham os puxões de orelha. Por que a atividade mais crítica para o futuro do país é uma das poucas em que prevalece a impunidade.

    → não é um pronome, é uma CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA CONDICIONAL, pode ser substituída, para ter certeza, por CASO: Caso falhar (expressando uma condição).

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☺

  • se formos verifica a sentença vemos que na alternativa d o se vem antecedido de virgula ocasionando um erro em sua estrutura já que se fosse o pronome seria fator ênclise e não próclise sendo assim a se e  CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA CONDICIONAL.

  • até tento ler todos os textos associados , mas tem hora que não dá, questão extremamente simples prum textão desse... kkkk

  • pera ai, SE não é pronome oblíquo?

  • "TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE"

    #PMMG

    D

    Conjunções Condicionais: iniciam uma oração subordinada em que é indicada uma hipótese ou uma condição necessária para que seja realizada ou não o fato principal:

    Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, dado que, desde que, a menos que, a não ser que.

    Caso fosse PRONOME ÓBLIQUO não poderia iniciar a frase, POIS seria fator ênclise e não próclise;

    Pronomes oblíquos tônicos são;

    • 1ª pessoa do singular (eu) - Mim / comigo

    • 2ª pessoa do singular (tu) - Ti / contigo

    • 3ª pessoa do singular (ele, ela) - Ele / ela

    • 1ª pessoa do plural (nós) - Nós / conosco

    • 2ª pessoa do plural (vós) - Vós / convosco

    • 3ª pessoa do plural (eles, elas) - Eles / elas

    Pronomes oblíquos átonos são:

    • 1ª pessoa do singular (eu) - Me

    • 2ª pessoa do singular (tu) - Te

    • 3ª pessoa do singular (ele, ela) - Se / o / a / lhe

    • 1ª pessoa do plural (nós) - Nos

    • 2ª pessoa do plural (vós) - Vos

    • 3ª pessoa do plural (eles, elas) - Se / os / as / lhes