SóProvas


ID
3058135
Banca
FCC
Órgão
SANASA Campinas
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

[O tempo sem rumo]

     As datas deveriam nos fixar no tempo como as coordenadas geográficas nos fixam no espaço, mas a analogia não funciona. O tempo não tem pontos fixos, o tempo é uma sombra que dá a volta na Terra. Ou a Terra é que dá voltas na sombra. Nossa única certeza é que será sempre a mesma sombra – o que não é uma certeza, é um terror.

     Na nossa fome de coordenadas no tempo nos convencemos até que dias da semana têm características. Que uma terça-feira, por exemplo, não serve para nada. Que terça é o dia mais sem graça que existe, sem a gravidade de uma segunda – dia de remorso e decisões – e o peso da quarta, que centraliza a semana. Gostaríamos que passar pelos dias fosse como passar por meridianos e paralelos, a evidência de estarmos indo numa direção, não entrando e saindo da mesma sombra. Não passando por cada domingo com a nítida impressão de que já estivemos aqui antes.

     Já que não há coordenadas e pontos fixos no tempo, contentemo-nos com as metáforas fáceis. Este nosso milênio se estende como um imenso pergaminho à nossa frente, esperando para ser preenchido. Podemos escolher nosso destino, desenhar nossos próprios meridianos e paralelos e prováveis novos mundos. É verdade que a passagem do tempo não se mede apenas pelo retorno aos domingos, também se mede pela degradação orgânica, e que a cada domingo estaremos mais perto daquela sombra que nunca acaba... Nenhum de nós chegará muito longe neste milênio. Mas é bom saber que ele está, aqui, quase inteiro, sempre à nossa espera.

(Adaptado de VERISSIMO, Luis Fernando. Em algum lugar do paraíso. São Paulo: Objetiva, 2011, p. 7)

Ao se reescrever uma frase do texto, não haverá prejuízo para a sua clareza e correção gramatical no seguinte caso:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    A) Conquanto fossem um imenso pergaminho, metáforas fáceis podem contentar-nos. → originalmente: Já que não há coordenadas e pontos fixos no tempo, contentemo-nos com as metáforas fáceis: a ideia não é de concessão e sim de causa, esse foi o erro que localizei nesse item.

    B) Ao se medirem pela degradação orgânica, o curso dos anos nos deixa perto da sombra. → medirem alguma coisa (o curso...), vírgula separou o sujeito posposto do verbo, logo há incorreção.

    C) Não haveriam no tempo pontos fixos, seria como uma sombra que desse a volta na Terra. → verbo "haver" com sentido de "existir" sendo impessoal, logo não poderia ser flexionado: não HAVERIA no tempo...

    D) Estimaríamos a possibilidade de contar com meridianos que nos situassem no tempo. → CORRETO.

    E) Bem que poderiam nos valer de metáforas fáceis para que fixassem-se no tempo. → o "que" é fator atrativo, logo o correto seria: para que se fixassem.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☺

  • Pessoal, na letra B o erro também está no verbo medir que deveria ser no singular para concordar com curso?

  • Eu também vi mais como erro de concordância do que erro de vírgula.

    Até pq se fizesse a frase toda sem virgula ficaria um pouco estranha:

    B) Ao se medirem pela degradação orgânica o curso dos anos nos deixa perto da sombra.

    Não sei se é possível, mas ficaria melhor de se ler se talvez colocasse duas virgulas:

    B)Ao se medir, pela degradação orgânica, o curso dos anos nos deixa perto da sombra.

  • Sim, Jordana. Fica no singular

  • Como estariam corretas, segundo meu ver:

    A Conquanto fossem um imenso pergaminho, metáforas fáceis PODERÍAM contentar-nos.

    Justificativa: correspondência verbal entre verbo no Pret. do Sub. e Fut. do Pret. do Ind.

    Quanto ao pronome átono "nos" em "contentar-nos", ao final da frase, não incorre em qualquer caso que envolva obrigatoriedade da próclise. Portanto, a ênclise está correta.

    B Ao SER MEDIDO pela degradação orgânica, o curso dos anos nos deixa perto da sombra.

    Justificativa: o verbo medir possui as seguintes transitividades: transitivo direto, transitivo direto e indireto, intransitivo e pronomial. Quando reordenada, a frase fica com estrutura de voz passiva analítica: "O curso dos anos nos deixa perto da sombra ao ser medido pela degradação orgânica", satisfazendo aos requisitos de clareza e correção gramatical, conforme o dispositivo da questão pede.

    Ao meu ver, se a frase permanecesse "Ao SE MEDIR o curso dos anos pela degradação orgância nos deixa perto da sombra", numa estrutura de voz passiva sintética, a clareza da frase seria prejudicada por conta da parte final "nos deixa perto da sombra" ficar deslocada e desconexa da parte anterior.

    C Não HAVERIA no tempo pontos fixos, SERIAM como uma sombra que desse a volta na Terra.

    Justificativa: verbos no mesmo tempo e modo: nesse caso, "pontos fixos" seria o sujeito de "seriam como uma sombra..."

    E Bem que PODERÍAMOS nos valer de metáforas fáceis para que se FIXASSEM no tempo.

    Justificativa: mesma correspondência verbal da justificada na letra A.

  • Arthur Carvalho, acredito que a vírgula da B está correta. O erro está, como dito pelos colegas, na conjugação do verbo "medir".