SóProvas


ID
3093199
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Sertãozinho - SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      No livro Vidas Secas, Graciliano Ramos descreve uma cena em que Fabiano, o sertanejo do romance, perde uma aposta para o Soldado Amarelo. Quando percebe, está só, sentado na sarjeta, falido, bêbado e sem argumento para explicar em casa que o dinheiro para os mantimentos fora gasto em finalidades menos nobres. É a chegada ao inferno sem escaladas: em silêncio, Fabiano busca um resquício de bom pensamento para se acalmar. Em vão, conclui: a vida seria mais suportável se houvesse ao menos uma boa lembrança. Ele não tinha. Sua vida era seca. Infrutífera. Vulnerável. Como ele.

      Em tempos de secura do ar, de reservatórios, de ideias ou desculpas convincentes sobre nossas faltas, eu deveria voltar a Graciliano Ramos, mas confesso que ando ocupado demais matando o tempo que juro não ter. Todos os meus objetos pontiagudos estão empenhados em matar o tempo na internet, mais especificamente no Facebook, espécie de redutor do muro que antes separava o que sentíamos e o que pronunciávamos.

      Com ele, não faz o menor sentido ter uma ideia e não compartilhá-la. As ideias trancafiadas nos pesam: elas nos levam ao silêncio e às desconfianças, entre elas a de que não são originais, não valem ser ditas. Tarde demais: quando pensamos em dizer, já dissemos. Em conjunto, essa produção industrial de bobagens e reduções explícitas da realidade replicadas na rede nos dá a sensação de preenchimento. De tempo encurtado. De tempo útil.

      Vai ver é por isso que, em um estudo recente publicado na revista Science, as pessoas diziam preferir causar dor a si mesmas do que passar 15 minutos em um quarto sem nada para fazer além de pensar. No experimento, os cientistas das Universidades da Virgínia e de Harvard confinaram cerca de 200 pessoas em um quarto sem celular nem material para ler ou escrever e concluíram: mais de 57% das pessoas acharam difícil se concentrar; 80% disseram que seus pensamentos vagaram; metade achou a experiência desagradável. E, o mais estarrecedor: dois terços, sem ter o que fazer diante do silêncio, resolveram se entreter dando choques em si mesmos – um deles estraçalhou o próprio tédio com 190 choques. Nada poderia ser mais revelador dos nossos dias.

      Pois ontem passei uma hora e quarenta minutos parado num ponto de ônibus à espera de um ônibus que não veio. Passaria uma hora e quarenta minutos me autoimolando se não fosse meu celular. Foram quase cem minutos contatando meio mundo que me desse uma palha de conversa, em aplicativos de mensagem instantânea, sobre a vida, sobre a seca, sobre o tempo que nos resta e não concede tempo para nada, nem para ler os livros e as revistas que apodreciam em conjunto na minha mochila.

(Matheus Pichonelli. “Vidas Secas”. www.cartacapital.com.br. 08.08.2014. Adaptado)

Assinale a alternativa em que o vocábulo sublinhado tem função pronominal, estabelecendo a coesão do texto ao retomar um substantivo.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito A

    Boa noite!

  • a) Pronome relativo. Admite substituição por "o qual";

    b) Conjunção integrante. "Explicar [...] que";

    c) Conjunção condicional. Sentido idêntico à conjunção "caso";

    d) Conjunção integrante. "Disseram que";

    e) Conjunção condicional. Sentido idêntico à conjunção "caso".

    Letra A

    Obs.: cuidado com os comentários de Arthur Carvalho, visto que grande parte deles incorre em erro. Além do mais, esse estudante não acolhe bem crítica. Ele me bloqueou após corrigi-lo diversas vezes.

  • Sr. Shelking deixa o cara, ele ajuda muito! "É inveja pae"

  • No livro Vidas Secas, Graciliano Ramos descreve uma cena em que (o qual) Fabiano, o sertanejo do romance, perde uma aposta para o Soldado Amarelo. (1° parágrafo)

    retomar palavra, retomar substantivo = pronome relativo -> possível substituir por a qual/o qual.

  • GAB: A

    O 'que' retoma 'uma cena'

    Uma cena na qual*

  • o   Gabarito: A.

    .

    A: correta, pronome relativo.

    B: conjunção subordinativa integrante.

    C: conjunção condicional.

    D: conjunção subordinativa integrante.

    E: conjunção condicional.

  • Sr. shelking quase não existe comentários seus nas questões, antes de criticar alguém que tenta ajudar, por favor ajude mais.

  • No livro Vidas Secas, Graciliano Ramos descreve uma cena em que (NA QUAL, retomando o termo "uma cena", em que pode ser substituído por NA QUAL, contração de "em" + artigo "a" (uma cena) + pronome relativo "QUE" que retoma o termo anterior) Fabiano, o sertanejo do romance, perde uma aposta para o Soldado Amarelo. (1° parágrafo)

    Diogo França

  • Sr. Shelking: o magoado