Leia o texto para responder a questão.
Sons que confortam
Eram quatro da manhã quando seu pai sofreu um colapso
cardíaco. Só estavam os três na casa: o pai, a mãe e ele,
um garoto de 13 anos. Chamaram o médico da família. E
aguardaram. E aguardaram. E aguardaram. Até que o garoto
escutou um barulho lá fora. É ele que conta, hoje, adulto:
Nunca na vida ouvira um som mais lindo, mais calmante, do
que os pneus daquele carro amassando as folhas de outono
empilhadas junto ao meio-fio.
Inesquecível, para o menino, foi ouvir o som do carro do
médico se aproximando, o homem que salvaria seu pai. Na
mesma hora em que li esse relato, imaginei um sem-número
de sons que nos confortam. A começar pelo choro na sala de
parto. Seu filho nasceu. E o mais aliviante para pais que possuem adolescentes baladeiros: o barulho da chave abrindo a
fechadura da porta. Seu filho voltou.
Deixando a categoria dos sons magnânimos para a dos
sons cotidianos: a voz no alto-falante do aeroporto dizendo
que a aeronave já se encontra em solo e o embarque será
feito dentro de poucos minutos.
O telefone tocando exatamente no horário que se espera,
conforme o combinado. Até a musiquinha que antecede a chamada a cobrar pode ser bem-vinda, se for grande a ansiedade
para se falar com alguém distante.
O barulho da chuva forte no meio da madrugada, quando
você está no quentinho da sua cama.
Uma conversa em outro idioma na mesa ao lado da sua,
provocando a falsa sensação de que você está viajando, de
férias em algum lugar estrangeiro. E estando em algum lugar
estrangeiro, ouvir o seu idioma natal sendo falado por alguém
que passou, fazendo você lembrar que o mundo não é tão
vasto assim.
O toque do interfone quando se aguarda ansiosamente a
chegada do namorado. Ou mesmo a chegada da pizza.
O aviso sonoro de que entrou um torpedo no seu celular.
A sirene da fábrica anunciando o fim de mais um dia de trabalho. O sinal da hora do recreio. A música que você mais gosta
tocando no rádio do carro. Aumente o volume. O primeiro eu
te amo dito por quem você também começou a amar. E o
mais raro de todos: o silêncio absoluto.
(Martha Medeiros. Felicidade Crônica.Porto Alegre: L&PM, 2014)
Assinale a alternativa em que a forma verbal em destaque está correta