SóProvas


ID
3127579
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Itapevi - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  As palavras e as coisas


      Confesso que, de início, não acreditava que Moana, aos 9 anos, pudesse se interessar pela leitura da versão integral do clássico de J.R.R. Tolkien, O Hobbit. É verdade que se trata de uma aventura povoada por magos e repleta de objetos encantados. Mas é um romance longo, com descrições densas e vocabulário sofisticado. Para minha surpresa, no entanto, seu envolvimento com a obra crescia a cada noite que a líamos juntos.

      Ao terminarmos a leitura do décimo capítulo, Moana não me desejou boa-noite. Com olhos ainda despertos, me perguntou se não podíamos comentar aquilo que mais havia agradado até então. Pensei que o pedido não passasse de mais uma de suas estratégias para adiar a hora de dormir. Recusei, mas ela argumentou: “Não é assim que vocês fazem, você e a mamãe, quando leem Arendt e Paul Ricoeur em seus grupos de estudos?”. Jamais imaginara que, quando a levamos a esses encontros – premidos por alguma necessidade – ela pudesse prestar qualquer atenção ao que se passava. Sempre a via absorta em suas tarefas, desenhos e leituras. Mas, em seu silêncio, ela se dava conta do sentido de uma leitura partilhada.

      Falamos, então, das transformações que ocorreram no personagem central, que abandonara sua vida confortável e pacata de hobbit, para se tornar um aventureiro épico. Mas foi só no dia seguinte que percebi a profundidade contida em seu pedido para que partilhássemos as impressões de nossas leituras. Lembrei-me de uma bela passagem de Homens em tempos sombrios, na qual Hannah Arendt afirma que o “mundo não é humano simplesmente por ter sido feito por mãos humanas, nem se torna humano meramente porque a voz humana nele ressoa. Por mais afetados que sejamos pelas coisas do mundo [como um livro], por mais profundamente que elas possam nos instigar e estimular, essas coisas só se tornam humanas para nós quando podemos discuti-las com nossos companheiros”.

       É porque a fala humaniza as obras que gostamos tanto de comentar um filme, de compartilhar a interpretação de um livro ou fazer uma refeição com nossos amigos. São as expressões do discurso humano que transformam uma coisa – como um livro – em objeto de um legado simbólico que nos humaniza.

      Na escola, é por meio das trocas discursivas entre professores e alunos que um romance ou um programa computacional deixam de ser coisas inertes para se transformarem em objetos que desempenham uma função educativa e, assim, adquirem seu sentido humanizador. São as palavras – e não as coisas – que conferem sentido às experiências humanas.

(José Sérgio Fonseca de Camargo, “As palavras e as coisas”. Em: http://www.revistaeducacao.com.br. Adaptado)

Assinale a alternativa cujo enunciado está em conformidade com a norma-padrão de regência.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    A) Moana ia nos grupos de estudos com os pais e ficava atenta de todas as coisas que aconteciam ali. ? ia a algum lugar (aos grupos).

    B) Moana, antes de dormir, queria falar com o pai sobre aquilo de que mais havia gostado na leitura de O Hobbit. ? correto, gostado de alguma coisa, preposição corretamente usada antes do pronome relativo "que".

    C) As transformações no personagem central mostram que o hobbit aspirava em ser um aventureiro épico. ? "aspirar" com sentido de almejar é um verbo transitivo indireto e exige a preposição a: a ser...

    D) Quando Moana pediu para comentar a leitura, o pai discordou com ela, achando que não queria dormir. ? quem discorda, discorda DE alguém, o correto é "discordou dela".

    E) O pai pensava de que Moana não estava apta em ler a versão integral do clássico de J.R.R. Tolkien, O Hobbit. ? apta a algo (a ler).

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    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Resposta letra B

    Moana, antes de dormir, queria falar com o pai sobre aquilo de que mais havia gostado na leitura de O Hobbit.

    Nas locuções formadas por TER ou HAVER + infinitivo admite-se QUE / DE QUE

  • A)

    Atenta a algo

    VTI= (A)

    B)

    Gostava de algo

    VTI (D)

    C)

    Aspirava a algo

    aspirar no sentido de sorver = VTD= aspirava o ar puro.

    aspirar no sentido de almejar= VTI= aspirava a um cargo público.

    D)

    Discorda de algo.

    VTI (DE)

    E)

    Pensava algo

    VTD

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • Parabéns VUNESP! Cobrando Português com extrema excelência, chega a dar gosto de fazer. Diferente da maioria que coloca pegadinhas, ou redações sem pé nem cabeça!

  • questão bem elaborada !

  • Acredito que o erro da C seria: As transformações no personagem. Devendo ser: As transformações do personagem. Já em relação a regência do verbo aspirar, acredito estar correta.

  • Gabriel, a regência do verbo "aspirar" não está correta. Veja:

    Aspirar com sentido de cheirar é VTD. Exemplo:

    "Ela aspirou as rosas do jardim"

    Já com sentido de almejar é VTI e pede preposição "a". Exemplo:

    "Maria aspira ao cargo de gerente"

    Na frase:

    "As transformações no personagem central mostram que o hobbit aspirava em ser um aventureiro épico."

    O hobbit aspirava, isto é, almejava a ser um aventureiro épico; deve haver, portanto, a preposição "a".

    Correção:

    "As transformações no personagem central mostram que o hobbit aspirava a ser um aventureiro épico."

    Espero ter ajudado.

    Bons estudos! :)

  • O pronome relativo está retomando qual termo ?