SóProvas


ID
3185935
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Sabará - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Todo filho é pai da morte de seu pai

Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete. E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:

— Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.

Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai. Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

— Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.

(Autor desconhecido. Disponível em: http://www.contioutra.com/todo-filho-e-pai-da-morte-de-seu-pai/. Acesso em: 27/12/2016.)

Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.” (1º§) Quanto à flexão do verbo haver, o trecho anterior apresenta a concordância correta. Assinale a alternativa INCORRETA em relação à flexão do verbo haver.

Alternativas
Comentários
  • A)Haviam filhos que se tornaram pais de seus pais.

    O verbo haver com sentido de existir, ocorrer ou acontecer é impessoal, logo não possui sujeito, portanto deve permanecer na terceira pessoal do singular(HAVIA).

    GABARITO. A

  • GABARITO: LETRA A

    ? Queremos a alternativa incorreta ? O verbo "haver" com sentido de "existir" é um verbo impessoal e não deve ser flexionado (=o correto é "havia").

    ? Haviam filhos que se tornaram pais de seus pais.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • GAB A

    ***SOBRE A= quando tem o sentido de "existir", o verbo "haver" é impessoal, isto é, não tem sujeito e fica sempre na terceira pessoa do singular, em qualquer tempo ou modo. Assim, se dizemos "Há muitos buracos em nossas rodovias" ("há" é a terceira pessoa do singular do presente do indicativo), dizemos "Havia (e não "haviam') muitos buracos em nossas rodovias"

    fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0506200302.htm

    ***sobre B= No sentido de “ter”, o verbo se torna auxiliar, possibilitando a conjugação para todas as pessoas: Elas haviam chegado mais tarde. fonte: encurtador.com.br/hiDQ3

    ***sobre C, D= A forma "houveram" surge quando se emprega "haver" com qualquer sentido que não seja o de "existir", "ocorrer" ou "fazer" (na indicação de fatos ligados ao tempo, fenômenos da natureza etc.): "Os sentenciados houveram do juiz a comutação da pena" (exemplo do "Aurélio"); "Os alunos houveram-se muito bem nas provas" (exemplo do "Houaiss") grifo meu: últimas frases significam= tiveram; se saíram

    fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0506200302.htm