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ID
3187219
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
TJ-AM
Ano
2019
Provas
Disciplina
Psicologia
Assuntos

Caso clínico 10A2-I

Francisca, de quarenta e um anos de idade, servidora pública, apresentou, há um ano, diagnóstico de depressão, quando descobriu que sua filha, Maria, havia sido abusada sexualmente pelo pai, marido de Francisca à época. A menina, atualmente com cinco anos de idade, permaneceu um ano sem acompanhamento psicológico, embora tenha sido encaminhada pela instância policial aos serviços especializados de apoio, no momento dos fatos. A mãe decidiu, então, procurar serviço interno de psicologia, orientada por uma colega de setor, onde fez o seguinte relato: “Estou perdida e não sei o que fazer. Minha filha me pede para brincar com ela de coisas estranhas, sempre mencionando que era assim que o pai brincava com ela. Na escola, apresenta choro fácil, retraimento e baixa autoestima. Não quer ficar sozinha com ninguém, em lugar nenhum. Só fica comigo. Não tenho conseguido nem levá-la à escola. Ela não fica. Tem feito xixi na cama todas as noites. Não sei mais o que fazer. Às vezes, penso que queria desligar um botão, dormir e nunca mais acordar. Quando esses pensamentos ‘agoniam’ muito minha cabeça, tomo uns remedinhos, mas acordo com peso na consciência por ter deixado minha filha sozinha. Se um dia eu for desta para uma melhor, eu a levo comigo. O pai dela saiu de casa no dia em que descobri tudo. Ele negou, mas não tive dúvida. Havia alguma coisa estranha. Minha filha vivia com assaduras. Um dia, ao lhe dar banho, ela me perguntou se eu gostaria que ela pegasse nas minhas partes como o ‘papai pedia para ela’. Fui direto para a delegacia”.

A criança mora com a mãe — sem contato com o pai, por determinação judicial —, sob medida protetiva e apoio do programa de proteção à vítima.

Ainda tendo como referência a situação descrita no caso clínico 10A2-I, assim como o conceito, as temáticas, os aspectos éticos e interdisciplinares da psicologia jurídica e o Código de Ética do profissional psicólogo, julgue o próximo item.


Na entrevista inicial com Maria, haveria divergência entre a atuação do psicólogo jurídico e a do psicólogo clínico pelo fato de o psicólogo jurídico, ao contrário do clínico, estar circunscrito em um ambiente institucional e, acima de tudo, pela utilização técnica de uma entrevista diretiva, em espaço adequado, a fim de que possa compreender, de maneira mais rápida, a situação de violência e interromper seu ciclo dinâmico de prejuízos.

Alternativas
Comentários
  • Alguém pra comentar?
  • Penso que não se trate de divergências, mas sim de objetivos diferentes. E também, o trabalho do psi jurídico, da forma como fora descrita na questão: "[...] acima de tudo, pela utilização técnica de uma entrevista diretiva, em espaço adequado, a fim de que possa compreender, de maneira mais rápida, a situação de violência e interromper seu ciclo dinâmico de prejuízos [...]". Acredito que esta parte também esteja errada, pois o trabalho do psi jurídico consiste em uma avaliação psicológica, que pode se estender por várias sessões. A entrevista é uma das etapas da avaliação.

    Se outra pessoa puder comentar, agradeço.

  • Acredito que o erro da questão também está relacionado ao trecho "utilização técnica de uma entrevista diretiva". Ora, assim como orienta o CFP, é prerrogativa do psicólogo escolher os recursos metodológicos que irá utilizar. Portanto, a entrevista diretiva não é obrigatória no dado contexto, tampouco ela teria a vantagem de "compreender, de maneira mais rápida, a situação de violência e interromper seu ciclo dinâmico de prejuízos".

  • Galera, o erro em si não está diretamente relacionado ao conceito de entrevista diretiva. Tanto o psicólogo clinico, quanto o jurídico lançam mão da entrevista diretiva para obter informações do entrevistado.

    O erro que consegui identificar na questão foi em dizer que há divergências na atuação do Psi Jurídico e Clínico com base nas características apresentadas. Além disso, a diferença essencial entre os dois ramos da psicologia está nos seus objetivos finais. Explico: geralmente o psi jurídico visa a atender uma demanda advinda do âmbito jurídico, muitas vezes encaminhada por um juiz. Nesse caso, aquele profissional deverá fornecer um PARECER ou LAUDO, a depender a demanda apresentada.

    Já o psi clínico poderá chegar às mesmas conclusões que o psi jurídico, contudo, o objetivo da clínica NEM SEMPRE estar em responder uma demanda jurídica. Às vezes, a descoberta de um quadro de abuso sexual pode estar relacionado com a demanda terapêutica; em outros casos, não necessariamente isso vai acontecer.

    Contudo, em ambas as situações o psicólogo deverá agir para interromper o ciclo de violência, através de uma denúncia, por exemplo. Lembrem-se, o sigilo profissional não é um direito absoluto. Se uma pessoal correr risco real de vida o profissional psicólogo deverá quebrar o sigilo acordado.

    LOGO, gabarito: ERRADO

  • Perfeito, Orlando. O erro está em que, o psicólogo, baseado em seu código de ética, deve impedir qualquer violência, negligência, crueldade e opressão. E especialmente quanto a crianças e adolescentes tem a OBRIGAÇÃO de informar ao Conselho Tutelar. Bons estudos.

  • Existem, de fato, diferenças marcantes entre a atuação clínica e a atuação do psicólogo no âmbito da Justiça: a primeira, tem a função de psicoterapia, um tratamento psicológico com demanda e regras próprias; e a segunda, de perícia, uma investigação psicológica - ainda que haja investigação psicológica na clínica, não há que se falar de psicoterapia na atuação do psicólogo jurídico.
    O erro da questão está em apontar a diferença do ambiente institucional - visto que o psicólogo clínico pode, também, estar inserido numa instituição -, e na utilização da entrevista diretiva. Entendendo-se tal instrumento como uma forma de entrevista que não especifica as questões, mas o tipo de resposta desejada - na qual o entrevistador formula as questões de acordo com o andamento da entrevista para obter o tipo de resposta ou informação requerida - há que se convir não tratar do instrumento mais ideal para investigações, e não é mesmo. A entrevista diretiva é geralmente utilizada para conhecer certos conceitos espontâneos do entrevistado.

    GABARITO: ERRADO
  • A entrevista diretiva não está no rol de diferencial das duas modalidades, a clínica utiliza entrevista diretivas tão abundantemente quanto ou até mais.

    A diferença essencial:

    Enquanto o psicólogo jurídico responde a uma demanda judicial, o psicólogo clínico realiza a escuta psicológica sem objetivar a produção de provas