SóProvas


ID
3193504
Banca
FCC
Órgão
Câmara de Fortaleza - CE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder a questão, baseie-se no texto abaixo. 


          − Quer esse menininho para o senhor? Pode levar.

          Aconteceu no Rio, como acontecem tantas coisas. O rapaz entrou no café da rua Luís de Camões e começou a oferecer o filho de seis meses. Em voz baixa, ao pé do ouvido, como esses vendedores clandestinos que nos propõem um relógio submersível. Com esta diferença: era dado, de presente. Uns não o levaram a sério, outros não acharam interessante a doação. Que iriam fazer com aquela coisinha exigente, boca aberta para mamar e devorar a escassa comida, corpo a vestir, pés a calçar, e mais dentista e médico e farmácia e colégio e tudo que custa um novo ser, em dinheiro e aflição?

       − Fique com ele. É muito bonzinho, não chora nem reclama. Não lhe cobro nada…

        Podia ser que fizesse aquilo para o bem do menino, um desses atos de renúncia que significam amor absoluto. O tom era sério, e a cara, angustiada. O rapaz era pobre, visivelmente. Mas todos ali o eram também, em graus diferentes. E a ninguém apetecia ganhar um bebê, ou, senão, quem nutria esse desejo o sofreava. Mesmo sem jamais ter folheado o Código Penal, toda gente sabe que carregar com filho dos outros dá cadeia, muita.

         Mas o pai insistia, com bons modos e boas razões: desempregado, abandonado pela mulher. O bebê, de olhinhos tranquilos, olhava sem reprovação para tudo. De fato, não era de reclamar, parecia que ele próprio queria ser dado. Até que apareceu uma senhora gorda e topou o oferecimento:

         − Já tenho seis lá em casa, que mal faz inteirar sete? Moço, eu fico com ele.

         Disse mais que morava em Senador Camará, num sobradão assim assim, e lá se foi com o presente. O pai se esquecera de perguntar-lhe o nome, ou preferia não saber. Nenhum papel escrito selara o ajuste; nem havia ajuste. Havia um bebê que mudou de mãos e agora começa a fazer falta ao pai.

         − Praquê fui dar esse menino? − interroga-se ele. Chega em casa e não sabe como explicar à mulher o que fizera. Porque não fora abandonado por ela; os dois tinham apenas brigado, e o marido, no vermelho da raiva, saíra com o filho para dá-lo a quem quisesse.

          A mulher nem teve tempo de brigar outra vez. Correram os dois em busca do menino dado, foram ao vago endereço, perguntaram pela vaga senhora. Não há notícia. No estirão do subúrbio, no estirão maior deste Rio, como pode um bebê fazer-se notar? E logo esse, manso de natureza, pronto a aceitar quaisquer pais que lhe deem, talvez na pré-consciência mágica de que pais deixaram de ter importância.

         E o pai volta ao café da rua Luís de Camões, interroga um e outro, nada: ninguém mais viu aquela senhora. Disposto a procurá- -la por toda parte, ele anuncia:

        − Fico sem camisa, mas compro o menino pelo preço que ela quiser. 

(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Caso de menino”. 70 historinhas. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 101-102) 

O narrador recorre ao chamado discurso indireto livre no seguinte trecho:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? O discurso indireto livre é aquele que permite que os acontecimentos sejam narrados em simultâneo, estando as falas das personagens direta e integralmente inseridas dentro do discurso do narrador.

    Disse mais que morava em Senador Camará, num sobradão assim assim, e lá se foi com o presente ? indica uma falta transcrita de modo livre, sem qualquer marca de fala de um terceiro, o narrador expõe livremente aquilo que foi dito.

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • A) Disse mais que morava em Senador Camará, num sobradão assim assim, e lá se foi com o presente. (7º parágrafo)

    (Gabarito) Discurso indireto livre é a mistura do discurso direto e do indireto, quando não há uma separação das falas de ambos.

    B) rapaz entrou no café da rua Luís de Camões e começou a oferecer o filho de seis meses. (2º parágrafo)

    Discurso Indireto

    C) Uns não o levaram a sério, outros não acharam interessante a doação. (2ºparágrafo)

    Discurso Indireto

    D) - Já tenho seis lá em casa, que mal faz inteirar sete? Moço, eu fico com ele. (6ºparágrafo)

    Discurso Direto

    E) − Praquê fui dar esse menino? − interroga-se ele. (8º parágrafo)

    Discurso Direto

  • Discurso indireto livre, há um “conflito”. Não se sabe se a fala é do narrador ou do personagem.

    EX: “Ela também tinha o coração pesado, mas resignava-se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessária e justa. Pobre da Baleia”.

    Discurso direto é a própria fala da personagem. Observe:

    “Sinha Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta:

    – Vão bulir com a Baleia?

    […] Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.”

    Discurso indireto é a transcrição da fala da personagem: Sinha Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de perguntar se iriam bulir com a Baleia.

    Fonte:Ponto dos Concursos - Professora Beatriz.

    Me sigam no instagram > @amy_exemplar

  • Para mim a charada do discurso indireto livre é a mistura de tempos verbais, tanto no presente como no passado. Veja que quando temos um discurso direto, quando o próprio personagem fala, temos geralmente verbos no presente. Agora quando é o discurso indireto, em que o narrador fala sobre os personagens, temos alguém falando no passado, sobre algo que outra pessoa fez.

    Por conceito e lógica, o discurso indireto livre mistura o discurso direto com o indireto.

    Tomo como exemplo o gabarito dessa questão, alternativa A:

    Disse mais que morava em Senador Camará, num sobradão assim assim, e lá se foi com o presente.

    O verbo morava indica discurso indireto (o narrador fala sobre o personagem)

    A segunda parte, "[eu moro] num sobradão assim assim", mostra a fala do próprio personagem, caracterizando o lugar onde morava.

    Às vezes a diferença é muito sutil. Então é válido observar os tempos verbais.

    GABARITO A

  • gabarito A

    Exemplos de conversão de discurso direto para o indireto.

    DISCURSO DIRETODISCURSO INDIRETO  

    1º pessoa (eu) 3ºpessoa (ele)

    Presente     Pretérito imperfeito 

    Eu estudo →     ele estudava 

    Pretérito Perfeito → Pretérito Mais que perfeito

    Eu estudei           → ele estudara

    Futuro do Presente → Futuro do pretérito

    Eu estudarei          →  ele estudaria

    Presente do Subjuntivo → Pretérito Imperfeito do Subjuntivo 

    Que eu estude      →    se ele estudasse