SóProvas


ID
3198712
Banca
IBADE
Órgão
SEJUDH - MT
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                      O PASTEL E A CRISE   

                                                                                                       Otto Lara Resende


      Quando a crise convida ao pessimismo ou a ameaça descamba na depressão, está na hora de ler poesia ou prosa, tanto faz.

      A partir de certa altura, bom mesmo é reler. Reler sobretudo o que nunca se leu, como repeti outro dia a um amigo que não é chegado à leitura. Ele mergulhou no Proust sem escafandro e se sente mal quando vem à tona e respira o ar poluído aqui de fora.

      Verdadeiro sábio era o Rubem Braga. Tinha com a vida uma relação direta, sem intermediação intelectual. Houvesse o que houvesse, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença, mas era também fruto do aprendizado que só a experiência dá. No pequeno mundo do cotidiano, sabia como ninguém identificar as boas coisas da vida. E assim viveu até o último instante.

      Certa vez, no auge de uma crise, crivada de discursos e de diagnósticos, o Rubem estava de olho nas frutas da estação. Madrugador, cedinho já sabia das coisas. Quando o largo horizonte nacional andava borrascoso, ele se punha a par das nuvens negras, mas não mantinha o olhar fixo no pé-direito alto da crise. Baixava o olhar ao rodapé, pois o sabor do Brasil está também no rés-do-chão.

      Num dia de greve geral, inquietações no ar, tudo fechado, o Rubem me telefonou: “Vamos ao bar Luís, na rua da Carioca? Vamos ver a crise de perto”. E lá fomos. O bar estava aberto e o chope, esplêndido. Começamos por um preto duplo, que a sede era forte. Depois mais um, agora louro. Claro que não faltou o salsichão com bastante mostarda. Calados, mas vorazes, cumpríamos um rito. Alguém por perto disse que a Vila Militar tinha descido com os tanques.

      Saímos dali e fomos a um sebo. O Rubem comprou “Xanã”, do Carlos Lacerda, com dedicatória. Depois pegamos o carro e voltamos pelo Aterro, onde se pode exercer o direito da livre eructação. Tinha sido um perfeito programa cultural. E sem nenhum incentivo do governo. Vi agora na televisão que o maracujá está em baixa e me lembrei do velho Braga.

      Nem tudo está perdido. Fui à feira e comprei também dois suculentos abacaxis. Caem bem nesta hora de atribulação nacional. Só falta agora descobrir um bom pastel de palmito na Zona Norte. Se o Rubem estivesse aí, lá iríamos nós atrás da deleitosa descoberta . Depois, de cabeça erguida , enfrentaríamos a crise e até o caos.

(RESENDE, O. Lara. Fonte: https://edoc.site/149572393-ascem-melhores-cronicas-brasileiras-011-gpdf-pdf-free.html)

O termo sublinhado em “Houvesse o que houvesse, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença...” (§ 3) tem com o restante do período uma relação de:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ? ?Houvesse o que houvesse, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença...?

    ? Temos uma ideia de concessão, vamos tentar usar a conjunção subordinativa adverbial concessiva "mesmo que", lembrando que o verbo "haver" está sendo empregado com sentido de "ocorrer": Mesmo que ocorresse algo, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença.

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    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Pensei assim.

    houvesse está no modo subjuntivo, logo a conjunção que possui esse sentido é concessão (embora) usando não frase ficaria.

    Embora com tantas dificuldades, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença..

  • As orações concessivas exprimem um obstáculo ao fato expresso na oração principal, porém sem impedi-lo.

    o caso mais tradicional já foi citado (Mesmo que) , mas fique atento com embora, conquanto..

     “Houvesse o que houvesse, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença.

    embora alguma coisa tentasse impedi-lo trazia no coração...

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!