- ID
- 3353182
- Banca
- VUNESP
- Órgão
- Prefeitura de São Roque - SP
- Ano
- 2020
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Leia o texto, para responder às questões de números 11 a 17.
Subi ao avião com indiferença, e como o dia não estava
bonito, lancei apenas um olhar distraído a essa cidade do Rio
de Janeiro e mergulhei na leitura de um jornal. Depois fiquei
a olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na
verdade, não estava no céu; pensava coisas da terra, minhas
pobres, pequenas coisas, uma aborrecida sonolência foi me
dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse
que “nós não podemos descer!” O avião já havia chegado
a São Paulo, mas estava fazendo sua ronda dentro de um
nevoeiro fechado, à espera de ordem para pousar. Procurei
acalmar a senhora.
Ela estava tão aflita que embora fizesse frio se abanava
com uma revista. Tentei convencê-la de que não devia se abanar, mas acabei achando que era melhor que o fizesse. Ela
precisava fazer alguma coisa, e a única providência que aparentemente poderia tomar naquele momento de medo era se
abanar. Ofereci-lhe meu jornal dobrado, no lugar da revista, e
ficou muito grata, como se acreditasse que, produzindo mais
vento, adquirisse maior eficiência na sua luta contra a morte.
Gastei cerca de meia hora com a aflição daquela senhora.
Notando que uma sua amiga estava em outra poltrona, ofereci-
-me para trocar de lugar, e ela aceitou. Mas esperei inutilmente
que recolhesse as pernas para que eu pudesse sair de meu
lugar junto à janela; acabou confessando que assim mesmo
estava bem, e preferia ter um homem – “o senhor” – ao lado.
Isto lisonjeou meu orgulho de cavalheiro: senti-me útil e responsável. Era por estar ali eu, um homem, que aquele avião
não ousava cair.
(Rubem Braga, Um braço de mulher. Os cem melhores contos
brasileiros do século.)
Nas passagens do segundo e do terceiro parágrafos, as
expressões destacadas (“o fizesse” e “Isto”) referem-se,
correta e respectivamente, às informações textuais