SóProvas


ID
3395980
Banca
AOCP
Órgão
Prefeitura de Juiz de Fora - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  Considerações sobre a loucura

                                                                                                            Ferreira Gullar


      Ouço frequentemente pessoas opinarem sobre tratamento psiquiátrico sem na verdade conhecerem o problema. É bacana ser contra internação. Por isso mesmo traçam um retrato equivocado de como os pacientes eram tratados no passado em manicômios infernais por médicos que só pensavam em torturá-los com choques elétricos, camisas de força e metê-los em solitárias.

      Por isso mesmo exaltam o movimento antimanicomial, que se opõe à internação dos doentes mentais. Segundo eles, os pacientes são metidos em hospitais psiquiátricos porque a família quer se ver livre deles. Só pode fazer tal afirmação quem nunca teve que conviver com um doente mental e, por isso, ignora o tormento que tal situação pode implicar.

      Nada mais doloroso para uma mãe ou um pai do que ter de admitir que seu filho é esquizofrênico e ser, por isso, obrigado a interná-lo. Há certamente pais que se negam a fazê-lo, mas ao custo de ser por ele agredido ou vê-lo por fim à própria vida, jogando-se da janela do apartamento.

      Como aquelas pessoas não enfrentam tais situações, inventam que os hospitais psiquiátricos, ainda hoje, são locais de tortura. Ignoram que as clínicas atuais, em sua maioria, graças aos remédios neuroléticos, nada têm dos manicômios do passado.

      Recentemente, num desses programas de televisão, ouvi pessoas afirmarem que o verdadeiro tratamento psiquiátrico foi inventado pela médica Nise da Silveira, que curava os doentes com atividades artísticas. Trata-se de um equívoco. A terapia ocupacional, artística ou não, jamais curou algum doente.

      Trata-se, graças a Nise, de uma ocupação que lhe dá prazer e, por mantê-lo ocupado, alivia-lhe as tensões psíquicas. Quando o doente é, apesar de louco, um artista talentoso, como Emygdio de Barros ou Arthur Bispo do Rosário, realiza-se artisticamente e encontra assim um modo de ser feliz.

      Graças à atividade dos internados no Centro Psiquiátrico Nacional, do Engenho de Dentro, no Estado do Rio, criou-se o Museu de Imagens do Inconsciente, que muito contribuiu para o reconhecimento do valor estético dos artistas doentes mentais. Mas é bom entender que não é a loucura que torna alguém artista; de fato, ele é artístico apesar de louco.

      Tanto isso é verdade que, das dezenas de pacientes que trabalharam no ateliê do Centro Psiquiátrico, apenas quatro ou cinco criaram obras de arte. Deve-se reconhecer, também, que conforme a personalidade de cada um seu estado mental compõe a expressão estética que produz.

      No tal programa de TV, alguém afirmou que, graças a Nise da Silveira, o tratamento psiquiátrico tornou-se o que é hoje. Não é verdade, isso se deve à invenção dos remédios neurolépticos que possibilitam o controle do surto psíquico.

      É também graças a essa medicação que as internações se tornaram menos frequentes e, quando necessárias, duram pouco tempo – o tempo necessário ao controle do surto por medicação mais forte. Superada a crise, o paciente volta para casa e continua tomando as doses necessárias à manutenção da estabilidade mental.

      Não pretendo com esses argumentos diminuir a extraordinária contribuição dada pela médica Nise da Silveira ao tratamento dos doentes mentais no Brasil. Fui amigo dela e acompanhei de perto, juntamente com Mário Pedrosa, o seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional. 

      Uma das qualidades dela era o seu afeto pelas pessoas e particularmente pelo doente mental. Eis um exemplo: como o Natal se aproximava, ela perguntou aos pacientes o que queriam de presente. Emygdio respondeu: um guarda-chuva.

      Como dentro do hospital naturalmente não chovia, ela concluiu que ele queria ir embora para casa. E era. Ela providenciou para que levasse consigo tinta e tela, a fim de que não parasse de pintar.

      Ele se foi, mas, passado algum tempo, alguém toca a campainha do gabinete da médica. Ela abre a porta, era o Emygdio, de paletó, gravata e maleta na mão. “Voltei para continuar pintando, porque lá em casa não dava pé.” E ficou pintando ali até completar 80 anos, quando, por lei, teve que deixar o hospital e ir para um abrigo de idosos, onde morreu anos depois.

(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ferreiragullar/2016/02/174 1258-consideracoes-sobre-a-loucura.shtml)

Assinale a alternativa em que os vocábulos estão de acordo com as regras de acentuação ortográfica vigentes.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    A) Idéia crêem vôo. ? paroxítona com ditongo aberto -ei e -oi não tem mais acento (ideia, geleia, prosopopeia, alcateia, assembleia, androide, tiroide); vogais duplicadas "ee" e "oo" também não são mais acentuadas (leem, creem, veem, abençoo, magoo, enjoo).

    B) Assembleia ? vêem enjôo.

    C) Papeis ? reveem - perdoo. ? o correto é "papéis" (aqui temos uma oxítona e não paroxítona, o acento continua ? pastéis, anéis, anzóis, herói, heróis).

    D) Heroico ? descreem - magoo.

    E) Herói ? lêem abençôo.

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    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • A questão em tela versa sobre acentuação, mais precisamente sobre o novo acordo ortográfico e quer saber qual alternativa traz a afirmação correta. Vejamos algumas mudanças:

    A reforma ortográfica de 2009 Em 2009, entrou em vigor no Brasil o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa assinado em 1990 pelos países lusófonos: Brasil, Portugal, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Timor Leste e São Tomé e Príncipe. Contudo, somente a partir de 2016 passaram a valer. Para chegar ao acordo, todos os países tiveram de fazer algumas concessões. Para nós, brasileiros, as mudanças foram pequenas e afetaram apenas 0,5% das palavras

    Explicação 1- De acordo com a reforma ortográfica, não se acentuam os ditongos abertos ei, oi nas palavras paroxítonas: assembleia, ideia, boia, heroico. 

    Explicação 2- Nao se acentuam os hiatos oo e ee: enjoo, voo, coo, deem, veem, releem. 

    Explicação 3- Vem ou vêm? Tem ou têm? Intervém ou intervêm?

    1. Os verbos vir e ter na 3, pessoa do plural do presente do indicativo, apesar de serem monossílabos tônicos terminados em -em, recebem o acento circunflexo para diferenciarem-se da 3, pessoa do singular: ele vem - eles vêm ele tem - eles têm. Os verbos derivados de ter e vir, como deter, manter, reter, intervir, convir, etc., por não serem monossílabos, obedecem à regra das oxítonas. Na 3, pessoa do plural. entretanto, usa-se o acento circunflexo para a diferenciação: ele intervém - eles intervêm ele mantém - eles mantêm 2. Não se deve confundir o plural dos verbos citados com o dos verbos crer, ler, ver e dar: ele crê - eles creem ele lê - eles leem ele vê - eles veem ele dê - eles deem

    Deixei alguns conceitos e explicação acima, agora iremos analisar as alternativas e apontarei qual explicação está o erro de cada alternativa. Analisemos:

    a) Idéia – crêem – vôo.

    Incorreta. Não tem acento na palavra "ideia" (segue a explicação 1), não tem acento na palavra "creem" segue a explicação 3, não tem acento na palavra "voo", segue a explicação 2.

    b) Assembleia – vêem – enjôo.

    Incorreta. Não há acento na palavra "enjôo" segue a explicação 2.

    c) Papeis – reveem - perdoo.

    Incorreta. "Papeis" é uma oxítona (última sílaba forte) e de regra acentua-se quando em ditongo aberto "oi" seguida ou não de S.

    d) Heroico – descreem - magoo.

    Correta. Segue respectivamente a explicação 1, 3 e 2 que irão perceber que não acentuam essas palavras.

    e) Herói – lêem – abençôo.

    Incorreta. Não há acento na palavra "leem" , segue a explicação 3 e não há acento na palavra "abençoo", segue a explicação 2.

    Referência bibliográfica:

    Cereja, William Roberto Conecte : gramática reflexiva Thereza Cochar Magalhães 2. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013.

    GABARITO: D

  • CADE O COMENTÁRIO DO PROFESSOR, QC??? PLEASE.

  • juntou duas vogal acento nem a páu

  • C- acentua as oxítonas terminadas em ditongo aberto (oi / eu / ei ) ex: herói

    D- não se acentua os ditongos aberto (oi / eu / ei ) nas paroxítonas - ex: heroico