SóProvas


ID
3399112
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Câmara de Cabo de Santo Agostinho - PE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Insignificâncias indomáveis

Carla Dias


    Eu tenho medo de lagartixa e de atravessar rua quando o sinal está vermelho, ainda que não haja carros por perto. Meu medo é um algo estupendo, com suas pequenas armadilhas. Faz com que eu tema a alegria, enquanto me preencho de coragem ao lidar com desesperos indeléveis.

    Eu tenho medo de errar a palavra, de sair a outra, a mais torta, a menos a ver com o que eu, de fato, gostaria de dizer. E ainda tem o tom... sou desprovida de talento, quando dele depende o tudo do momento. Aquela coisa de a voz sair rascante, de se entregar à possibilidade de se aventurar no impossível, envergonhando-se dessa ousadia no segundo seguinte.

    Envergonhamento feroz é este.

    (...)

    Tenho medo reverberante de nunca chegar. Não a um lugar, a um destino. Falo sobre chegar ao ser invadida pelo pertencimento. Zerar a ansiedade desconcertante de não ter sido escolhida pela sensação plena de estar onde, tornar-se quem.

    Há quem diga que meus medos são banalidades travestidas de tragédias. Há os que não suportam meus dramas, de tão ridículos os tantos lhes parecem. Contudo, tenho certa dificuldade em compreender a irrelevância de se sentir deslocada no tempo e no espaço, desprovida de identidade, além daquela criada para atender à necessidade de tocar a vida, sem direito a toque que não seja o de recolher-se na própria impotência de provocar o movimento.

    Estagnar-se em conluio com um adiantamento robusto de arrependimentos.

    Meus dramas, essas insignificâncias indomáveis, embebidas em esperança desmilinguida de, dia desses, a vida me oferecer e entregar o oferecido.

    Que susto será!

    Que prazer de curar azedumes!

    Que loucura eficaz!

    Reviravoltas constantes me deixam com desejo aguçado de parar à porta da insanidade, para observar obsoletos santos sendo pessoas em busca de pessoas para conversar sobre seus desvios de conduta, ao se proclamarem heróis, enquanto comentem suas covardias e benevolências.

    Falar mal, fazer bem, desacreditar para então identificar o que vale a pena.

    Amar... odiar... amar odiar. Odiar a mando do tempo perdido com o vazio.

    Mas que o ser humano é de uma incoerência que encanta, enquanto aflige.

    (...)

    A mente tem seus truques, e como ótima equilibrista de absurdos que é, acontece de ela projetar na nossa história uma proteção que acaba por se mostrar precipício. Então, há vezes em que ela se desapega de nós, inventando uma realidade alternativa na qual nos enveredarmos, feito o filme que assisti, sobre a mente de um homem mudando todo o enredo do ocorrido, a fim de protegê-lo do impossível que ele acabara de cometer.

    Sim, ela também comete benevolência, improváveis realizações, descobertas necessárias.

    Sim, ela tem seu lado sórdido.

    A mente me mete medo. Ainda assim, é ela que mais me fascina. Não a minha, que dela eu nunca vou saber ao certo. A tal vai seguir os seus delírios e, talvez, eu nem me dê conta da existência deles ou venha a saber quais provocações eles lideraram.

    A do outro...

    A mente que para mim é mistério, que me provoca a curiosidade sobre o que não sou ou penso. Sobre as versões do que conheço. Basta um espaço que a mente injeta na certeza para se construir aquela pausa onde moram frágeis pontes que conectam improváveis, porém compatíveis buscas.

    Tenho medo de viver busca que é tempo perdido disfarçado de exuberante conquista. É ali, no limiar das suas agonias, que eu me esparramo. Meu corpo vibra buscas e medos e perdas e fantasias.

    Minha mente diz que não tenho saída.

    Permaneço.

    Meu sentimento diz que minha mente mente.

    Fujo.

    Meu medo, ah, meu medo...

    Ele me coloca cara a cara com a vida.

    Vivo.


Adaptado de: <http://www.cronicadodia.com.br/2019/10/insignificancias-indomaveis-carla-dias.html>. Acesso em: 17 nov. 2019.

Em relação à expressão destacada em “Eu tenho medo de lagartixa e de atravessar rua quando o sinal está vermelho, ainda que não haja carros por perto.”, é correto afirmar que ela

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ? ?Eu tenho medo de lagartixa e de atravessar rua quando o sinal está vermelho, ainda que não haja carros por perto.?

    ? Temos uma conjunção subordinativa concessiva dando início a uma oração subordinada adverbial concessiva (=orações que dependem uma da outra).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • A questão é sobre o período composto (orações).

    “Eu tenho medo de lagartixa e de atravessar rua quando o sinal está vermelho, ainda que não haja carros por perto.”

    Traço marcante da oração subordinativa concessiva e o verbo no subjuntivo ( não expressa certeza).

     Concessiva indica uma concessão à ideia expressa pelo verbo da oração principal, isto é, admitem uma contradição ou um fato inesperado. Elá é sempre subordinada a principal.

    Em orações subordinadas há dependências para terem sentidos completos.

    GABARITO C

  • Ainda não entendi porque a primeira oração depende da segunda.
  • Para compreendermos a oração " Tenho medo de atravessar a rua quando o sinal está vermelho", não precisamos ler "ainda que não haja carros por perto". Porém a presença da conjunção subordinativa indica que temos orações subordinadas entre si e, neste caso, a regra nos diz que elas complementam o sentido umas das outras. Nessa questão devemos nos ater ao que diz a norma e não à nossa "compreensão".

  • Assertiva C

    une orações que dependem uma da outra para ter sentido completo, estabelecendo uma relação de concessão.

  • A C só está correta porque não tem nenhum outro gabarito. A B, parece correta, mas a segunda oração é dependente da primeira, mas a primeira não depende da segunda, então elas não são dependentes entre si.

  • Conectivos que indicam concessão: embora, mesmo que, ainda que, por mais que, se bem que, posto que, ainda que, se bem que, posto que, conquanto, a despeito de que, apesar de que, não obstante, malgrado, em que pese.

  • GABARITO: LETRA C

    → “Eu tenho medo de lagartixa e de atravessar rua quando o sinal está vermelho, ainda que não haja carros por perto.”

    → Temos uma conjunção subordinativa concessiva dando início a uma oração subordinada adverbial concessiva (=orações que dependem uma da outra).

  • orações subordinadas Concessivas: introduzem uma oração que expressa ideia contrária à da principal, sem, no entanto, impedir sua realização. São elas: embora, ainda que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por mais que, posto que, conquanto etc.

     Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.

  • Ainda que = embora

    embora = concessiva

    portanto, letra C, sem ficar batendo cabeça e bora pra próxima!

  • Para responder esta questão, exige-se conhecimento de conectores. O candidato precisa indicar qual assertiva possui a classificação da conjunção em destaque na frase abaixo. Vejamos:

    Em relação à expressão destacada em “Eu tenho medo de lagartixa e de atravessar rua quando o sinal está vermelho, ainda que não haja carros por perto.”, é correto afirmar que ela

    A conjunção acima, cita uma ação, que não deveria correr perante a ação passada. Ou seja, a pessoa tem medo de atravessar a rua mesmo não tendo carro. Normalmente quem tem medo de atravessar a rua tem medo por causa do carro. 

    Não é possível fazer a leitura das orações acima sozinhas, uma precisa da oração, ou seja, trata-se de oração subordinada. 

    Sabendo isso, iremos à procura de uma conjunção subordinativa que indica sentido oposto, isto é, uma conjunção concessiva. Analisemos:

    a) Incorreta.

    "Ainda que" é uma locução subordinativa conjuntiva de concessão, dessa forma, existindo dependência entre as orações.

    b) Incorreta.

    Para uma oração caracterizar a outra, deve iniciar com pronome relativo "que", "a qual", "na qual", "cujo"...ou seja, devem ser orações subordinativas adjetivas.

    Ex: Recebi o bolo que você enviou.

    c) Correta.

    As conjunções de concessão estabelecem permissões e ações de um fato oposto. São estas: embora, conquanto, ainda que, mesmo que, se bem que, por mais que, etc.

    d) Incorreta.

    "Ainda que" é uma locução subordinativa conjuntiva de concessão, dessa forma, existindo dependência entre as orações.

    Gabarito: C