SóProvas


ID
3399232
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Câmara de Cabo de Santo Agostinho - PE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                        Não o suficiente

                                                                                                               Carla Dias


      Sentado à mesa, cercado por tantos. Entende bem o que acontece ali, mas é experiente em enganar os próprios sentidos, mesmo não gostando dessa qualidade da qual não consegue se livrar. Vale-se dela sempre que a oportunidade se apresenta. É um talento. Um incômodo talento.

      Permanece ali, os braços cruzados, a cabeça levemente inclinada, como se observasse o cenário que se estende além.

      Já conhece as manifestações que se alardeiam, durante esses encontros sociais. Na verdade, compôs uma canção, certa vez, com uma inquietante letra gerada de combinações de algumas delas: não cabe aqui, não serve para isso, não orna com aquilo, não é sua culpa, mas não vai dar certo.

      É bom, só que não o suficiente.

      Não ser o suficiente é meio que o slogan da vida dele, alguém considerado nada suficiente, até mesmo quando transborda. Acostumou-se a ser visto dessa forma.

      A tal canção tomou conta dele. É capaz de cantá-la de trás para frente, formar novos versos, bagunçar as palavras e, ainda assim, elas continuam ridiculamente cruéis. A melodia, não... Nela ele se recusa a mexer. Ela é a única beleza que reina plena nesse baile da saudade que acontece em seu dentro. Há ternura nessa afiada melodia, ela que é a única cria da qual ele não sente vergonha de ter trazido ao mundo.

      Apegou-se a uma frase que escutou um alguém verbalizar, enquanto passava por ele, depois de um dia de inutilidades profissionais. “Equilibrar-se é saber se desequilibrar com elegância.” Achou aquilo de uma sabedoria profunda e profana. De uma dualidade revigorante, porque se considera equilibrado com a boca cheia de palavras engolidas, de mágoas salientes, de lamentos reverberantes. Daqueles que bufa, do nada, assustando a pessoa que dorme sentada ao lado, em alguma sala de espera da vida.

      A elegância do desequilíbrio é o que mantém à mesa. Ninguém ali se importa de fato com ele, ou deseja escutar o que ele tem a dizer. Sabem seu nome, porque saber o nome oferece pompa, na hora de chamar o insignificante para o campo, e que ele batalhe pelos que significam. É como se chamassem um animal de estimação. Ele atende, rasteja-se, servil, até eles. Atende aos desejos desses sujeitos que acham que a própria dignidade mora na indignidade do outro.

      Os nada suficientes.

      Estranhamente, essas pessoas significam para ele. Há algo de aprendizado nessa labuta de dissonantes inseguranças travestidas de hierarquia. Estranhamente, ele se alimenta da espera pelo dia em que, rebelde como jamais antes, ele se levantará e partirá dali, deles. Sumirá das vistas, das teias, das inseguranças desses significantes que não sabem significar sem desidentificar o outro.

      Equilibrar-se ao desequilibrar-se com elegância, para ele, é combater, na singeleza do insignificante, uma diplomacia mimada, das que atendem a todos os clichês abrandadores de mal-estar. Então, quando dão a vez a ele, permitem ao insuficiente se manifestar, ele sorri e se cala, enquanto rumina a ciência de que, sim, ele sabe que não é o suficiente, ao menos não para atender ao catálogo dos desejos impróprios. Porque acha de uma impropriedade sibilante ter de atender aos desejos alheios, enquanto sufoca os próprios. 

      Ele sorri a certeza de que acontecerá o dia em que ele os reconhecerá, os desejos que vem diluindo em vulgares ironias, recebidas assim, embrulhadas em pequenas doses de falseada gentileza. O dia em que os libertará de uma polidez adquirida como proteção e os soltará no mundo, rebeldes e eletrizantes. Livres. 

      E isso será o suficiente. Ele será o suficientemente corajoso para se despedir de seus apaixonantes flagelos. Desequilibradamente equilibrado, dará a vez a si.

Disponível em:<http://www.cronicadodia.com.br/2019/08/nao-o-suficiente-carla-dias.html> . Acesso em: 16 nov. 2019.

Em relação à colocação dos pronomes oblíquos, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

     a) Em ?Vale-se dela sempre que a oportunidade se apresenta.?, o pronome ?se? poderia ser utilizado antes do verbo ?vale? e ainda assim atenderia à norma culta ? incorreto, não podemos começar a frase com o pronome oblíquo átono, não podemos usar a próclise (=se vale).
     b) Em ?Ele atende, rasteja-se, servil, até eles.?, o pronome ?se? deveria ser colocado antes do verbo ?rasteja? ? incorreto, temos o começo de uma frase, a ênclise foi usada corretamente (=após o verbo).
     c) Em ?Ele será o suficientemente corajoso para se despedir de seus apaixonantes flagelos.?, o pronome ?se? não poderia ser utilizado após o verbo ?despedir?, pois ele está no infinitivo ? poderia sim (=verbo no infinitivo não flexionado, usa-se a próclise ou a ênclise ? para se despedir ou despedir-se).
     d) Em ?Nela ele se recusa a mexer.?, o pronome ?se? poderia ser colocado após o verbo ?recusa?, formando ?recusa-se?, visto que o sujeito da frase está explícito ? correto, temos um sujeito explícito sem qualquer palavra atrativa, pode-se usar a próclise (=se recusa) ou a ênclise (=recusa-se).

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Uma regra de colocação pronominal menos estudada:

    O inifinito regido de preposição admite a próclise ou a ênclise, mesmo havendo o fator de próclise:

    Para defender-se, atacou-o.

    Para se defender, atacou-o.

    Para não defender-se, saiu.

    Para não se defender, saiu.

    Com os pronomes o,a,os,as e verbo no infinitivo não-flexionado regido de preposição a, por eufonia, usa-se a ênclise: estavam ali a observá-lo.

  • Casos facultativos:

    1. Sujeito com núcleo substantivo.

    2. Conjunção coordenativa

    3. Pronome pessoal do caso reto

    4. verbo no infinitivo, mesmo com fator de próclise.

  • Regras básicas para facilitar a resolução>

    A)

    ☛Não é possível inciar o período por meio de pronome.

    Se vale dela (errado)

    B)

    ☛Após a pausa (,) utilizamos ênclise.

    Ele atende, se rasteja (errado)

    C) .

    ☛Sendo verbo no infinitivo e sem fator de próclise = Ênclise ou próclise.

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • Assertiva D

    Em “Nela ele se recusa a mexer.”, o pronome “se” poderia ser colocado após o verbo “recusa”, formando “recusa-se”, visto que o sujeito da frase está explícito.

  • A questão traz conhecimento de colocação dos pronomes oblíquos e quer que achemos a alternativa que a explicação esteja correta.

    COLOCAÇÃO PRONOMINAL Os pronomes pessoais oblíquos átonos me, te. se, lhe(s), o(s). a(s), nos e vos podem estar em três posições em relação ao verbo ao qual se ligam.

    O pronome colocado depois do verbo. Nesse caso, dizemos que há ênclise. Se estiver colocado antes do verbo, será um caso de próclise. O pronome oblíquo átono pode estar também no meio do verbo, colocação que é denominada mesóclise.

    Ênclise é a colocação normal do pronome na norma culta e geralmente é usada quando não cabe próclise e nem a mesóclise.

    Próclise é a colocação do pronome quando antes do verbo há palavras que exercem atração sobre ele

    ▪Palavra negativa (não, nem, nunca, ninguém, nenhum, nada, jamais, etc.) não seguida de pausa.

    ▪Advérbio não seguido de vírgula.

    ▪Pronomes relativos e indefinidos: que, quem, qual, todo, alguém…

    ▪Conjunção subordinativa.

    ▪Preposição “em” seguida de gerúndio.

    ▪Infinitivo pessoal precedido de preposição.

    ▪Orações exclamativas e interrogativas diretas.

    ▪Orações optativas, exclamativas ou interrogativas diretas.

    ▪Havendo entre o pronome oblíquo e a palavra que exerce atração um termo ou oração intercalados, a próclise continua sendo necessária

    Mesóclise é a colocação do pronome quando o verbo se encontra no futuro do presente ou no futuro do pretérito do modo indicativo desde que não haja condição de próclise.

    Após essas explanações podemos inspecionar os itens abaixo. Vejamos:

    a) Incorreta.

    Não se usa pronome oblíquo em começo de oração.

    b) Incorreta.

    O mesmo vale nessa alternativa, pois não se usa pronome oblíquo em começo de frase.

    c) Incorreta.

    A explicação está errada, pois o pronome diante de verbo infinitivo poderá formar a ênclise(indo para frente do verbo).

    d) Correta.

    A explicação está correta, porque não há nenhum termo atrativo. Nesse caso, é facultativo o uso da próclise ou ênclise.

    Referência bibliográfica:

    CEREJA, William Roberto. Conecte : gramática reflexiva / William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães - 2. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013.

    GABARITO: D

  • Sobre a letra D: é um caso de colocação facultativa, seguindo a regra de sujeito expresso próximo ao verbo.

    Em casos assim você pode usar a próclise ou ênclise.

  • Carai...nao vi a negação da alternativa C

  • Gab: D

    A) Em “Vale-se dela sempre que a oportunidade se apresenta.”, o pronome “se” poderia ser utilizado antes do verbo “vale” e ainda assim atenderia à norma culta. ERRADA

    B) Em “Ele atende, rasteja-se, servil, até eles.”, o pronome “se” deveria ser colocado antes do verbo “rasteja”.ERRADA

    C) Em “Ele será o suficientemente corajoso para se despedir de seus apaixonantes flagelos.”, o pronome “se” não poderia ser utilizado após o verbo “despedir”, pois ele está no infinitivo. ERRADA

    D) Em “Nela ele se recusa a mexer.”, o pronome “se” poderia ser colocado após o verbo “recusa”, formando “recusa-se”, visto que o sujeito da frase está explícito. CERTO

  • GABARITO: LETRA D

     a) Em “Vale-se dela sempre que a oportunidade se apresenta.”, o pronome “se” poderia ser utilizado antes do verbo “vale” e ainda assim atenderia à norma culta → incorreto, não podemos começar a frase com o pronome oblíquo átono, não podemos usar a próclise (=se vale).

     b) Em “Ele atende, rasteja-se, servil, até eles.”, o pronome “se” deveria ser colocado antes do verbo “rasteja” → incorreto, temos o começo de uma frase, a ênclise foi usada corretamente (=após o verbo).

     c) Em “Ele será o suficientemente corajoso para se despedir de seus apaixonantes flagelos.”, o pronome “se” não poderia ser utilizado após o verbo “despedir”, pois ele está no infinitivo → poderia sim (=verbo no infinitivo não flexionado, usa-se a próclise ou a ênclise → para se despedir ou despedir-se).

     d) Em “Nela ele se recusa a mexer.”, o pronome “se” poderia ser colocado após o verbo “recusa”, formando “recusa-se”, visto que o sujeito da frase está explícito → correto, temos um sujeito explícito sem qualquer palavra atrativa, pode-se usar a próclise (=se recusa) ou a ênclise (=recusa-se).

    #FORÇAGUERREIRO!

  • Infinitivo pode tudo, mesmo havendo palavra atrativa.

    Sujeito explícito pode tudo, desde que não haja palavra atrativa.

  • Alternativa correta:

     D) Em “Nela ele se recusa a mexer.”, o pronome “se” poderia ser colocado após o verbo “recusa”, formando “recusa-se”, visto que o sujeito da frase está explícito → correto, temos um sujeito explícito sem qualquer palavra atrativa, pode-se usar a próclise (=se recusa) ou a ênclise (=recusa-se).

    Nunca foi sorte.

  • Fernando Pestana. A Gramática para Concursos.

    Colocação Pronominal. Casos Facultativos. (pode próclise ou não).

    LETRA: C errada.

    Infinitivo não flexionado precedido de “palavras atrativas” ou das preposiçõespara, em, por, sem, de, até, a”.

    Exemplo:

    – Corri para o defender. / Corri para defendê-lo.

    LETRA: D correta.

    Sujeito explícito com núcleo pronominal (pronome pessoal reto e de tratamento) antes do verbo sem palavra atrativa.

    Exemplos:

    Ele se retirou. / Ele retirou-se.

    Eu te considerarei. / Eu considerar-te-ei.

    Sua Excelência se queixou de você. / Sua Excelência queixou-se de você.

  • Sujeito expresso: próclise ou ênclise facultativo