SóProvas


ID
3420622
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Patos de Minas - MG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Estamos tão acostumados a ler e escrever na nossa vida diária, que não percebemos que nem todos leem e escrevem como nós, mesmo os que vivem bem próximo. Em muitas famílias de classe social baixa, escrever pode se restringir apenas a assinar o próprio nome ou, no máximo, a redigir listas de palavras e recados curtos. Para quem vive nesse mundo, escrever como a escola propõe pode ser estranhíssimo, indesejável, inútil. Porém, os que vivem num meio social onde se leem jornais, revistas, livros, onde os adultos escrevem frequentemente e as crianças, desde muito cedo, têm seu estojo cheio de lápis, canetas, borrachas, régua etc. acham muito natural o que a escola faz, porque, na verdade, representa uma continuação do que já faziam e esperavam que a escola fizesse. Portanto, alfabetizar grupos sociais que encaram a comunicação como uma simples garantia de sobrevivência na sociedade é diferente de alfabetizar grupos sociais que acham que a escrita e fala, além de necessária, é uma forma de expressão individual de arte, de passatempo. [...]

      Ninguém escreve ou lê sem motivo, sem motivação. É justamente por isso que, em certas culturas, o uso da escrita se apresenta como algo secundário e dispensável mesmo e, em outras, como absolutamente imprescindível. Essa atitude perante a escrita não se observa só comparando, por exemplo, a cultura europeia com a cultura de tribos indígenas. Atitudes conflitantes com relação à escrita se podem observar numa grande cidade. Entre seus habitantes, sem dúvida alguma, todos necessitam de um modo ou de outro saber ler certas coisas, mas o número cai enormemente quando se conta quem necessita produzir a escrita na proporção do que lê. Muitas pessoas podem até ler jornal todos os dias, mas escrevem raramente.  

      Não basta saber escrever, para escrever. É preciso ter uma motivação para isso. Grande parte da população das cidades trabalha em serviços que não exigem a escrita. Por isso, os programas de alfabetização – sobretudo de adultos – precisam ser elaborados não em função de uma cultura julgada ideal e excelente para todos, mas de acordo com as reais necessidades e anseios de cada um. A arte literária não é motivação para a escrita para todas as pessoas [...].

      A escrita se diferencia de outras formas de representação do mundo, não só porque induz à leitura, mas também porque essa leitura é motivada, isto é, quem escreve, diferentemente por exemplo de quem desenha, pede ao leitor que interprete o que está escrito, não pelo puro prazer de fazê‐lo, mas para realizar algo que a escrita indica. [...]

      A motivação da escrita é sua própria razão de ser; a decifração constitui apenas um aspecto mecânico de seu funcionamento. Assim, a leitura não pode ser só decifração; deve, através da decifração, chegar à motivação do que está escrito, ao seu conteúdo semântico e pragmático completo. Por isso é que a leitura não se reduz à somatória dos significados individuais dos símbolos (letras, palavras etc.), mas obriga o leitor a enquadrar todos esses elementos no universo cultural, social, histórico etc. em que o escritor se baseou para escrever.

(CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. 11. Ed. São Paulo: Scipione, 2010.)

Considerando as informações e ideias trazidas ao 1º§ do texto, analise as afirmativas a seguir.


I. A habilidade da escrita é limitada em indivíduos de classe baixa social.

II. O meio social atua como fator de grande interferência de determinada aprendizagem.

III.Diferentes grupos sociais possuem diferentes necessidades que podem ser sanadas com as mesmas estratégias.


Está(ão) correta(s) apenas afirmativa(s)

Alternativas
Comentários
  • Gabarito C.

    Discordo do gabarito.

    A classe social não cria inabilidade, mas exite sim uma diferença habitual do uso e da visão que se tem sobre o ato de escrever e sua utilidade. Um indivíduo de classe social mais baixa pode, assim como bem diz o autor, ser/estar dotado de motivação, neste caso puramente interna, para a leitura e tornar a escrita parte do seu cotidiano. É discriminatório afirmar que classe social é elemento determinante para o indivíduo possuir ou não habilidade de escrita.

    Limitando-nos à interpretação do primeiro parágrafo, de acordo com o autor, "Em muitas famílias de classe social baixa, escrever pode se restringir apenas a assinar o próprio nome...", é possível eliminar a generalização da afirmativa I, na qual diz que "A habilidade da escrita é limitada em indivíduos de classe baixa social.", pois:

    A) Da a entender que todos possuem tal limitação e não apenas alguns muitos (não todos), como citado no texto;

    B) Afirma, "é limitada", enquanto no texto há mera possibilidade, "pode se restringir".

    Alguém saberia me explicar a justificativa de o item I estar correto?

  • No gabarito da banca a alternativa correta é a (A)