SóProvas


ID
3426478
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Cerquilho - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto para responder à questão.



         Um dia vou contar numa crônica a lenta agonia do meu gato amazonense quando tive de me separar dele para viver em São Paulo. Agora a história é outra: um cachorro…
         Um cão de raça, com pedigree, como se diz. Forte, belo, musculoso, de pelagem castanha, focinho altivo e dentes perfeitos. Um príncipe de quatro patas.
       Uma corrente de aço amarrava-o a um poste, enquanto o dono, que comprava brioches numa das boas padarias afrancesadas de São Paulo, andava livremente.
       Gania como um louco. Às vezes parecia chorar de dor, saudade, solidão ou desamparo. Dava dó. E o dono demorava. Então os transeuntes se apresentaram. Paravam perto do poste, admiravam a beleza do animal e se condoíam com o sofrimento alheio. Alguém se revoltou com tamanha insensibilidade do dono. Uma mulher se agachou, murmurou palavras ternas ao pobre bicho, acariciou-o com dedos cheios de anéis. Esse gesto comoveu o mundo.
         Enfim, ele apareceu à porta da padaria. É natural que o cão tenha sido o primeiro a farejar a presença de seu dono; os transeuntes abriram-lhe passagem, e o reencontro foi um alvoroço, uma festa diurna. “Ele é mimado”, disse o dono, como se falasse de um filho.
       O pelourinho foi banido, e o poste readquiriu sua função de poste. Solto e livre como um verdadeiro cidadão, o cachorro saltou de alegria, enchendo a manhã de esperança; depois, ele e outros bichos foram o centro da conversa. É uma dádiva que, num domingo ensolarado, o assunto não seja política.
       A calçada ficou quase deserta. Um homem a poucos metros do poste permaneceu na mesma posição. É um negro desempregado. Nesse domingo de Ramos ele é também um mendigo. O animal roubou-lhe a atenção, mas o homem ainda mantinha seus gestos. Sentado e com a mão espalmada, o homem pede uma moeda ou restos de comida.
       Outro dia, bem cedo, passei pela calçada da padaria e lá estava o homem. Uma roda de curiosos o observava. Sentado no mesmo lugar, mãos e braços caídos. Morto. Desde quando? Continuei meu passeio fútil. E perguntei a mim mesmo, com curiosidade, por onde andaria aquele belo cachorro.


(Milton Hatoum. “Domingo sem cachorro”.
http://terramagazine.terra.com.br, 17.04.2006. Adaptado)

Nos parênteses, encontra-se expressão equivalente ao trecho antecedente sem prejuízo da norma-padrão quanto ao emprego e à colocação dos pronomes:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

     a) o dono, que comprava brioches (o dono, que comprava-lhes) ? comprava alguma coisa (pronome oblíquo átono "lhes" usado incorretamente como objeto direto).
     b) todos admiravam a beleza do animal (todos admiravam-a) ? verbo terminado em som nasal, o correto é usar o pronome "lhe" como adjunto adnominal (=admiravam-lhe a beleza).
     c) murmurou palavras ternas ao pobre bicho (murmurou-lhe palavras ternas) ? correto, pronome oblíquo átono "lhe" usado corretamente como objeto indireto do verbo "murmurou" (algo a alguém).
     d) é uma dádiva que não falem de política (é uma dádiva que não fale-se de política) ? advérbio de negação sendo fator atrativo; o correto é usar a próclise (que não se fale).
     e) o homem ainda mantinha seus gestos (o homem ainda mantinha-os) ? advérbio de tempo sendo fator atrativo, o correto é usar a próclise (ainda os mantinha).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Assertiva C

    murmurou palavras ternas ao pobre bicho (murmurou-lhe palavras ternas)

  • A questão requer conhecimentos sobre Classes Gramaticais; Uso dos Pronomes Átonos; Colocação Pronominal; Predicação Verbal: verbo transitivo direto, transitivo indireto, intransitivo; Funções Sintáticas: objeto direto e indireto (complementos verbais).


    ALTERNATIVA (A) INCORRETA – Há dois erros na expressão entre parênteses: a posição do pronome átono e o emprego dele.

    Primeiramente, Ocorre a próclise (pronome átono antes do verbo) quando antes do verbo houver palavras atrativas, tais como: conjunções subordinativas, pronomes relativos, pronomes indefinidos, pronomes interrogativos,  palavras de valor negativo e advérbios sem pausa.

    Em: “o dono, que comprava-lhes", o vocábulo que é pronome relativo.


    Além disso, o emprego do pronome átono “lhes" está errado porque – como complemento verbal – ele deve funcionar sintaticamente como Objeto Indireto. O verbo “comprar" é Transitivo Direto, logo seu complemento é Objeto Direto devendo ser representado pelo pronome átono “os". O correto seria: “o dono, que os comprava".


    ALTERNATIVA (B) INCORRETA – A palavra “todos" é pronome indefinido, logo atrai o pronome átono para perto dele; sendo assim, ele deve vir antes do verbo. O correto seria: “Todos a admiravam."


    ALTERNATIVA (C) CORRETA – A posição do pronome átono “lhe" está correta porque, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, não se pode começar frase com pronome átono. Ademais, está exercendo corretamente a sua função sintática.


    O verbo “murmurar" é Transitivo Direto e Indireto (Quem murmura, murmura algo a alguém)

    Palavras ternas - Objeto Direto

    Ao pobre bicho (= lhe) - Objeto Indireto


     

    ALTERNATIVA (D) INCORRETA – A palavra “não" é advérbio de negação, logo atrai o pronome átono para perto dele; sendo assim, ele deve vir antes do verbo. O correto seria: “é uma dádiva que não se fale de política". Além disso, o verbo “falar" não manteve sua flexão no plural como na frase original.


    OBSERVAÇÃO: Caso haja uma pausa após o advérbio, o pronome átono ficará enclítico (após o verbo). Exemplo: “Antes, encontre-me em casa."


    ALTERNATIVA (E) INCORRETA – A palavra “ainda" é advérbio, logo atrai o pronome átono para perto dele; sendo assim, ele deve vir antes do verbo. O correto seria: “o homem ainda os mantinha."


     

     

    FUNÇÃO SINTÁTICA (COMPLEMENTOS VERBAIS) DOS PRONOMES ÁTONOS:

     

    o, a, os, as – sempre objeto direto

    lhe, lhes – sempre objeto indireto


     

    Os outros pronomes dependem da predicação verbal.


    GABARITO DA PROFESSORA: ALTERNATIVA (C)

  • B - O pronome indefinido "todo" atrai o outro pronome, portanto é um caso de próclise- "todos a admiravam".

  • GAB. C)

    murmurou palavras ternas ao pobre bicho (murmurou-lhe palavras ternas)

  • AVANTE PM-PR!!!