SóProvas


ID
3475612
Banca
IBADE
Órgão
IDAF-AC
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1


      Antes que elas cresçam


    Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

    É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.

    Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.

    Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

    Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?

   Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.

   Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.

    Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.

    Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos. Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.

    Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, pôsteres e agendas coloridas de Pilot. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

     Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.

     No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.

    O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco.

     Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.



Affonso Romano de Sant´ Anna (Fonte: http://www.releituras.com/arsant_antes.asp, acesso em janeiro de 2020.) 




Texto 2


POEMA ENJOADINHO


Filhos... Filhos?

Melhor não tê-los!

Mas se não os temos

Como sabê-lo?

Se não os temos

Que de consulta

Quanto silêncio

Como o queremos!

Banho de mar

Diz que é um porrete...

Cônjuge voa

Transpõe o espaço

Engole água

Fica salgada

Se iodifica

Depois, que boa

Que morenaço

Que a esposa fica!

Resultado: filho,

E então começa

A aporrinhação:

Cocô está branco

Cocô está preto

Bebe amoníaco

Comeu botão. F

ilhos? Filhos.

Melhor não tê-los

Noite de insônia

Cãs prematuros

Prantos convulsos

Meu Deus, salvai-o!

Filhos são o demo

Melhor não tê-los...

Mas se não os temos

Como sabê-los?

Como saber

Que macieza

Nos seus cabelos

Que cheiro morno

Na sua carne

Que gosto doce

Na sua boca!

Chupam gilete

Bebem xampu

Ateiam fogo

No quarteirão

Porém, que coisa

Que coisa louca

Que coisa linda

Que os filhos são!


(Fonte: Vinícius de Moraes. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1987. p. 261-2.)

Nos versos: “Chupam gilete/ Bebem xampu/ Ateiam fogo”, o uso de verbos flexionados na terceira pessoa do plural expressam:

Alternativas
Comentários
  • Como pode ser sujeito simples? Não seria sujeito oculto por retomar o sujeito que está no outro período?

  • A questão requereu do candidato conhecimento relativo aos diversos sujeitos.

    Antes de tecer um comentário atinente ao caso, uma reiteração realizada outrora, noutros comentários: não responda a uma questão sem ler parte maior do texto — se possível, leia-o inteiramente. É pernicioso restringir a leitura ao exíguo fragmento que o enunciado trouxer. Veja que, se analisar apenas o excerto “Chupam gilete/Bebem xampu/Ateiam fogo”, você marcará como sujeito indeterminado; todavia, os verbos expressos possuem sujeito: filhos. Regresse sempre ao texto. Observe que o sujeito é notório, visível:

    "Filhos [...]/Melhor não tê-los/Chupam gilete/Bebem xampu/Ateiam fogo/No quarteirão."

    a) sujeito indeterminado.

    Incorreto. O sujeito está expresso;

    b) sujeito simples “filhos”.

    Correto, conforme explanação já feita;

    c) sujeito composto “filho” e “filha”.

    Incorreto. Só possui um núcleo;

    d) sujeito desinencial “eles”.

    Incorreto. O sujeito se manifesta;

    e) oração sem sujeito.

    Incorreto. Possui sujeito e está expresso.

    Letra B

  • Desculpe-me , mas é notório que o sujeito pode ser retomado pelo contexto, embora não esteja expresso. O que o leva a melhor classificação: sujeito oculto.

    Algumas gramáticas classificam o sujeito oculto como determinado simples..(1 só núcleo). Esse entendimento não é unânime.

    Sucesso, bons estudos não desista!

  • Nossa, li o texto e achei o sujeito oculto, pois está em outra oração. Cada oração tem o seu sujeito.

  • estou de acordo com Mateus

    considero a resposta sujeito oculto

    tendo em vista que o sinal gráfico de interrogação encerrou o período acima, “Chupam gilete/ Bebem xampu/ Ateiam fogo” por estarem no período seguinte, o qual não está explicito o sujeito "filhos", retomam o sujeito do período anterior, portanto, sujeito oculto!

    você é capaz!

  • Além de conhecer a gramatica, o aluno precisa ter atenção na hora da prova. Das alternativas apresentadas, a única que poderia se aproximar da resposta correta é "sujeito desinencial "eles'". Porém, o texto começa com a seguinte declaração: "Filhos...filhos?" e o texto todo, o autor repete a palavra "filhos". Trata-se de um sujeito simples pois apresenta apenas um núcleo.

    Gabarito: B

  • Eu também acho que o sujeito é oculto

  • Eles (os filhos), está sendo retomado nos trechos em qual o examinador citou. Não vejo como a resposta ser a sujeito simples. Mesmo lendo todo o texto, ainda assim vejo “Chupam gilete/ Bebem xampu/ Ateiam fogo” com sujeitos ocultos.

    (Filhos) Chupam gilete/ Bebem xampu/ Ateiam fogo

    (Eles) Chupam gilete/ Bebem xampu/ Ateiam fogo

    Em ambas as situações, sujeito oculto.

    Enfim, sigamos!

  • Para mim, tanto a B como a D estão corretas.

  • A meu ver, o comando gerou ambiguidade. O sujeito sintático é desinencial... mas o sujeito semântico está expresso (filhos).

  • A meu ver, o comando gerou ambiguidade. O sujeito sintático é desinencial... mas o sujeito semântico está expresso (filhos).

  • A meu ver, o comando gerou ambiguidade. O sujeito sintático é desinencial... mas o sujeito semântico está expresso (filhos).

  • ESSE QUESTÃO FOI ANULADA?

  • Gabarito totalmente questionável, visto que temos o presente termo "filhos" ,que se apresenta várias vezes no texto, mas não devemos confundir os tipos de sujeitos, haja vista que cada tipo de sujeito tem a sua classificação.

    Exemplos:

    João saiu para passear ( sujeito simples)

    João e Maria sairam para passear ( sujeito composto)

    Precisa - se de pedreiro ( sujeito indeterminado)

    Saiu para passear ontem à noite ( sujeito oculto, o sujeito oculto / elíptico/ desinencial é aquele que você não vê, mas fica subentendido na frase)

    GABARITO DA BANCA B

    GABARITO,para mim, D

    Agora vai de encontro com o que você acha.

    Boa sorte!

  • Não confundir sujeito semântico com sujeito sintático.

    Não confundir sujeito semântico com sujeito sintático.

    Não confundir sujeito semântico com sujeito sintático.

    Quando as bancas não especificam que querem sujeito semântico, pode ter certeza de que elas estão pedindo o sujeito sintático. Qual a diferença? Sujeito sintático é aquele que exerce a função sintática de sujeito e sujeito semântico é aquele termo ao qual o sujeito faz referência. No caso da questão, o sujeito sintático é oculto/desinencial (eles), porém o sujeito semântico (que se não fosse expresso pelo contexto seria indeterminado) é filhos. Logo o gabarito está corretíssimo.

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

    Gabarito: D

  • Na sua boca!

    Chupam gilete

    Bebem xampu

    Ateiam fogo

    No quarteirão

    Porém, que coisa

    Que coisa louca

    Que coisa linda

    Que os filhos são!

    Sujeito simples filhos

  • ERREI PQ FIQUEI COM PREGUIÇA DE IR PROCURAR O SUJEITO. KKKKK

  • no gabarito da banca eu olhei e está letra B

  • ...Filhos são o demo

    Melhor não tê-los...

    Mas se não os temos

    Como sabê-los?...

    kkkkkk

    Mlehor ficar sem saber.

    Enfim, Nos versos: “Chupam gilete/ Bebem xampu/ Ateiam fogo”, o uso de verbos flexionados na terceira pessoa do plural expressam um sujeito simples "filhos". :)

    Bons estudos, pessoal! ;)

  • Bem que o título já avisava: POEMA ENJOADINHO.

    Foi uma tortura ler essa coisa até o final kkkkk

  • Verbos de ligação são verbos que indicam um estado, ligando uma característica ao sujeito. Não indicam uma ação. São também chamados de verbos não nocionais ou verbos copulativos.

  • Quase errei pela regra genérica que terceira pessoa do plural impessoaliza e deixa o sujeito indeterminado. Mas logo vendo o texto da B... Aí tem coisa.

  • Existe uma regra que o sujeito na terceira pessoa do plural implica sujeito indeterminado, mas é somente se o sujeito não estiver no período ou no contexto.

    Assustador o número de erro numa questão dessa.

    GAB: Sujeito simples "Filhos"

  • Resposta da banca, quanto ao pedido de recurso dessa questão:

    Mantém-se o gabarito porque o sujeito simples “filhos” aparece anteriormente em “Filhos são o demo/ Melhor não tê-los.../ Mas se não os temos/ Como sabê-los?”, o que invalida a classificação como sujeito indeterminado (ainda que se empregue verbo na 3ª pessoa do plural). 

  • B

    Note que o sujeito oculto dos verbos “chupam”, “bebem” e “ateiam” está em outra oração, lá no início do poema: “Filhos”, dependeu do contexto, é um sujeito simples oculto que você pode facilmente confundir com indeterminado, caso não observe como a frase foi construída em um texto.

  • Letra B

  • Olha o tamanho desta merda, pqp. Custa ter a cortesia de colocar o número da linha para o candidato não ter o trabalho de ler isso tudo?

  • fui responder a questão sem ler o poema tomei na tarrasqueta