SóProvas


ID
3496513
Banca
IBADE
Órgão
SEJUDH - MT
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O PASTEL E A CRISE

Otto Lara Resende


      Quando a crise convida ao pessimismo ou a ameaça descamba na depressão, está na hora de ler poesia ou prosa, tanto faz.

      A partir de certa altura, bom mesmo é reler. Reler sobretudo o que nunca se leu, como repeti outro dia a um amigo que não é chegado à leitura. Ele mergulhou no Proust sem escafandro e se sente mal quando vem à tona e respira o ar poluído aqui de fora.

      Verdadeiro sábio era o Rubem Braga. Tinha com a vida uma relação direta, sem intermediação intelectual. Houvesse o que houvesse, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença, mas era também fruto do aprendizado que só a experiência dá. No pequeno mundo do cotidiano, sabia como ninguém identificar as boas coisas da vida. E assim viveu até o último instante.

      Certa vez, no auge de uma crise, crivada de discursos e de diagnósticos, o Rubem estava de olho nas frutas da estação. Madrugador, cedinho já sabia das coisas. Quando o largo horizonte nacional andava borrascoso, ele se punha a par das nuvens negras, mas não mantinha o olhar fixo no pé-direito alto da crise. Baixava o olhar ao rodapé, pois o sabor do Brasil está também no rés-do-chão.

      Num dia de greve geral, inquietações no ar, tudo fechado, o Rubem me telefonou: “Vamos ao bar Luís, na rua da Carioca? Vamos ver a crise de perto”. E lá fomos. O bar estava aberto e o chope, esplêndido. Começamos por um preto duplo, que a sede era forte. Depois mais um, agora louro. Claro que não faltou o salsichão com bastante mostarda. Calados, mas vorazes, cumpríamos um rito. Alguém por perto disse que a Vila Militar tinha descido com os tanques.

      Saímos dali e fomos a um sebo. O Rubem comprou “Xanã”, do Carlos Lacerda, com dedicatória. Depois pegamos o carro e voltamos pelo Aterro, onde se pode exercer o direito da livre eructação. Tinha sido um perfeito programa cultural. E sem nenhum incentivo do governo. Vi agora na televisão que o maracujá está em baixa e me lembrei do velho Braga.

      Nem tudo está perdido. Fui à feira e comprei também dois suculentos abacaxis. Caem bem nesta hora de atribulação nacional. Só falta agora descobrir um bom pastel de palmito na Zona Norte. Se o Rubem estivesse aí, lá iríamos nós atrás da deleitosa descoberta . Depois, de cabeça erguida , enfrentaríamos a crise e até o caos.

(RESENDE, O. Lara. Fonte: https://edoc.site/149572393-as-cem-melhores-cronicas-brasileiras-011-gpdf-pdf-free.html)

A vírgula empregada no período “O bar estava aberto e o chope, esplêndido.” (§ 5) está de acordo com a seguinte norma de pontuação:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    →  “O bar estava aberto e o chope, esplêndido.” (§ 5)

    → A vírgula está correta e marca a zeugma do verbo "estava" (omissão de um termo já mencionado → e o chope estava esplêndido), lembrando que a elipse refere-se a um termo que não foi mencionado.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • O autor recorreu a um subterfúgio linguístico cujo escopo é evitar a repetição enfadonha: o zeugma, que define a supressão de termo expresso, normalmente um verbo. Veja frase do enunciado reescrita e note a parte faltante:

    "O bar estava aberto e o chope estava esplêndido."

    Objetivando a riqueza textual e a parcimônia vocabular, é perfeitamente cabível evitar esse verbo:

    "O bar estava aberto e o chope, esplêndido."

    a) Correto. Conforme expresso, evitou-se a repetição de um termo;

    b) Incorreto. O verbo "estava" foi suprimido e por isso a vírgula;

    c) Incorreto. O objetivo, como já expresso, não foi enfatizar e sim economizar, evitar repetição;

    d) Incorreto. É incabível falar em vocativo. Inexiste termo solto na estrutura, característica dele;

    e) Incorreto. Não se marca pausa alguma mas supressão.

    Letra A

  • Um acréscimo.

    Usamos vírgulas quando omitimos verbos.

    Do lado , Um grade homem.

    Não esquecer que utilizamos ponto e vírgula em caso de conjunções subtendidas:

    Disse que viria; Não veio.

    Bons estudos!

  • Gab: A

    >> Usar a vírgula para omitir o verbo é uma estratégia de coesão que evita a repetição de um termo anteriormente citado.

     “O bar estava aberto e o chope, esplêndido.” >> Para evitar a repetição do verbo "estava", usou-se a vírgula para marcar sua omissão.

  • > Frase completa:

    "O bar estava aberto e o chope estava esplêndido."

    > Frase com a supressão verbal:

    "O bar estava aberto e o chope, esplêndido."

    > Objetivo da supressão: riqueza textual.

    > Percebe-se uma parcimônia vocabular (Parcimônia é a ação ou hábito de fazer economia, de poupar).

    a) Alternativa Correta. Evitou-se a repetição;

    b) Alternativa Incorreta. O motivo foi a supressão do verbo "estava".

    c) Alternativa Incorreta. Não existiu ênfase em nenhuma qualidade específica. 

    d) Alternativa Incorreta. Não há motivo para falar em vocativo, pois não existe termo solto na estrutura da frase.

    e) Alternativa Incorreta. Ao ler a frase mentalmente, no lugar da vírgula, a palavra "estava" aparece em nossa mente, mesmo que de uma forma mais fraca. 

  • Assertiva A

    indica a supressão de verbo.

  • dependendo de como se lê a frase, com a devida pausa, eu diria que pode sim ser uma ênfase...

  • Bom dia ! Indica supressão do verbo. Com isso o verbo estava não precisa ser repetido e continua sendo relacionado também com o " esplêndido".

  • GABARITO: LETRA A

    Importante saber quais são as finalidades da vírgula e quando são utilizadas.

    Usa-se vírgula para:

    Separar termos que possuem a mesma função sintática no período;

    Isolar o vocativo;

    Isolar um aposto explicativo;

    Isolar termos antecipados (complementos, adjuntos, predicativos);

    Separar expressões explicativas, conjunções e conectivos;

    Separar os nomes dos locais de datas;

    Isolar orações adjetivas explicativas;

    Separar termos de uma enumeração;

    Separar orações coordenadas;

    Omitir um termo;

    Separar termos de natureza adverbial deslocado na sentença.

    FONTE: QC

  • TEMOS A SUPRESSÃO DO VERBO "ESTAR", FORMANDO ASSIM UM ZEUGMA.

  • Famoso ZEUGMA.

  • Cuidado quem marcou a letra C achando que se tratava de um predicativo deslocado. Temos que "esplêndido" é uma qualidade atribuída ao chope. O predicativo está em sua posição original!

    O uso da vírgula se faz por "zeugma", ocultação do verbo de ligação "estava".

    Gabarito letra A!

  • O bar estava aberto e o chope estava esplêndido.

    A vírgula ocultou o verbo.