SóProvas


ID
3497872
Banca
FCC
Órgão
SABESP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Escrevo estas linhas


      Escrevo estas linhas em agosto de 1943, depois da batalha de Stalingrado e da queda de Mussolini. É um livro de prosa, assinado por quem preferiu quase sempre exprimir-se em poesia. Esse suposto poeta não desdenha a prosa, antes a respeita a ponto de furtar-se a cultivá-la. Seria inútil repisar o confronto das duas formas de expressão, para atribuir superioridade a uma delas. Mas a verdade é que se a poesia é a linguagem de certos instantes, e sem dúvida os mais densos e importantes da existência, a prosa é a linguagem de todos os instantes, e há uma necessidade humana de que não somente se faça boa prosa como também que nela se incorpore o tempo, e com isto se salve esse último.

      Não há muitos prosadores entre nós que tenham consciência do tempo e saibam transformá-lo em matéria literária. Frequentemente a literatura se faz à margem do tempo ou contra ele – seja por incapacidade de apreensão, covardia ou cálculo. Daí o vazio e o desconforto do texto literário, como a insatisfação que ele desperta em cada vez mais descrentes leitores.

      Este livro começa em 1932, quando Hitler era candidato (derrotado) a presidente da República e termina em 1943, com o mundo submetido a um processo de transformação pelo fogo. Os que viveram em tal período terão de confessar-se transformados, mais sérios e esclarecidos, mais determinados quanto aos problemas fundamentais do indivíduo e da coletividade. Não lhes bastará fazer uso contínuo da palavra cultura ou da palavra justiça, mas antes devem contribuir com tudo o que tenham de bom para que essas palavras assumam seu conteúdo verdadeiro ou, então, sejam varridas do dicionário. E digo aos rapazes: Rapazes, se querem que a literatura tenha algum préstimo no mundo de amanhã, reformem o conceito de literatura. Reformem a própria capacidade de admirar e de imitar, inventem olhos novos ou novas maneiras de olhar, para merecerem o espetáculo novo de que estão participando.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Confissões de Minas. São Paulo: Cosac Naify, 2011, p. 11-13)

Esse suposto poeta não desdenha a prosa, antes a respeita a ponto de furtar-se a cultivá-la.

Uma nova e coerente redação da frase acima, na qual se mantém seu sentido básico, está na seguinte formulação:

Alternativas
Comentários
  • Que texto que não agrega em nada!
  • Furtar-se = evitar

    .

    O poeta respeita tanto a prosa que evita cultivá-la.

    "Tanto esse presumido poeta respeita a prosa que se esquiva de frequentá-la."

  • A frase é irônica.

  • GAB E

    Esse suposto poeta (esse presumido poeta) não desdenha a prosa, (tanto respeita a prosa) antes a respeita a ponto de furtar-se a cultivá-la. (que se esquiva de frequentá-la)

    Furtar-se = fugir, recusar, afastar, evitar, ''esquivar''.

  • cultivá-la = frequentá-la ?????????????

  • Qual o erro da letra A??

  • Prova pra estagiário nesse nível

  • A alternativa A passa a ideia de que o Drummond não escreve prosas por ser um "suposto" poeta e poetas escrevem apenas poesias. (Causa e Consequência)

    Já no texto, há a ideia de uma concessão: O drummond (que se considera um suposto poeta), não desdenha da prosa. Ele a respeita, apesar de esquivar-se dela.

    Já na alternativa E, creio que o termo frequentar tenha sido utilizado no sentido de "esquivar-se de frequentar os campos da prosa". Frequentar não é sinônimo de cultivar. Ficou confuso.