SóProvas


ID
3658723
Banca
IDIB
Órgão
Prefeitura de Farroupilha - RS
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 

Eloquência Singular


Mal iniciara seu discurso, o deputado embatucou:

— Senhor Presidente: eu não sou daqueles que...

O verbo ia para o singular ou para o plural? Tudo indicava o plural. No entanto, podia perfeitamente ser o singular:

— Não sou daqueles que...

Não sou daqueles que recusam... No plural soava melhor. Mas era preciso precaver-se contra essas armadilhas da linguagem — que recusa?

— ele que tão facilmente caia nelas, e era logo massacrado com um aparte. Não sou daqueles que... Resolveu ganhar tempo:

— ...embora perfeitamente cônscio das minhas altas responsabilidades como representante do povo nesta Casa, não sou...

Daqueles que recusa, evidentemente. Como é que podia ter pensado em plural? Era um desses casos que os gramáticos registram nas suas questiúnculas de português: ia para o singular, não tinha dúvida. Idiotismo de linguagem, devia ser.

— ...daqueles que, em momentos de extrema gravidade, como este que o Brasil atravessa...

Safara-se porque nem se lembrava do verbo que pretendia usar:

— Não sou daqueles que...

Daqueles que o quê? Qualquer coisa, contanto que atravessasse de uma vez essa traiçoeira pinguela gramatical em que sua oratória lamentavelmente se havia metido de saída. Mas a concordância? Qualquer verbo servia, desde que conjugado corretamente, no singular. Ou no plural:

— Não sou daqueles que, dizia eu — e é bom que se repita sempre, senhor Presidente, para que possamos ser dignos da confiança em nós depositada...

Intercalava orações e mais orações, voltando sempre ao ponto de partida, incapaz de se definir por esta ou aquela concordância. Ambas com aparência castiça. Ambas legítimas. Ambas gramaticalmente lídimas, segundo o vernáculo:

— Neste momento tão grave para os destinos da nossa nacionalidade.

Ambas legítimas? Não, não podia ser. Sabia bem que a expressão "daqueles que" era coisa já estudada e decidida por tudo quanto é gramaticoide por aí, qualquer um sabia que levava sempre o verbo ao plural:

— ...não sou daqueles que, conforme afirmava...

Ou ao singular? Há exceções, e aquela bem podia ser uma delas. Daqueles que. Não sou UM daqueles que. Um que recusa, daqueles que recusam. Ah! o verbo era recusar:

— Senhor Presidente. Meus nobres colegas.

A concordância que fosse para o diabo. Intercalou mais uma oração e foi em frente com bravura, disposto a tudo, afirmando não ser daqueles que...

— Como?

Acolheu a interrupção com um suspiro de alívio:

— Não ouvi bem o aparte do nobre deputado.

Silêncio. Ninguém dera aparte nenhum.

— Vossa Excelência, por obséquio, queira falar mais alto, que não ouvi bem — e apontava, agoniado, um dos deputados mais próximos.

— Eu? Mas eu não disse nada...

— Terei o maior prazer em responder ao aparte do nobre colega. Qualquer aparte.

O silêncio continuava. Interessados, os demais deputados se agrupavam em torno do orador, aguardando o desfecho daquela agonia, que agora já era, como no verso de Bilac, a agonia do herói e a agonia da tarde.

— Que é que você acha? — cochichou um.

— Acho que vai para o singular.

— Pois eu não: para o plural, é lógico.

O orador seguia na sua luta:

— Como afirmava no começo de meu discurso, senhor Presidente...

Tirou o lenço do bolso e enxugou o suor da testa. Vontade de aproveitar-se do gesto e pedir ajuda ao próprio Presidente da mesa: por favor, apura aí pra mim, como é que é, me tira desta...

— Quero comunicar ao nobre orador que o seu tempo se acha esgotado.

— Apenas algumas palavras, senhor Presidente, para terminar o meu discurso: e antes de terminar, quero deixar bem claro que, a esta altura de minha existência, depois de mais de vinte anos de vida pública...

E entrava por novos desvios:

— Muito embora... sabendo perfeitamente... os imperativos de minha consciência cívica... senhor Presidente... e o declaro peremptoriamente... não sou daqueles que...

O Presidente voltou a adverti-lo que seu tempo se esgotara. Não havia mais por que fugir:

— Senhor Presidente, meus nobres colegas!

Resolveu arrematar de qualquer maneira. Encheu o peito de desfechou:

— Em suma: não sou daqueles. Tenho dito.

Houve um suspiro de alívio em todo o plenário, as palmas romperam. Muito bem! Muito bem! O orador foi vivamente cumprimentado.

Fernando Sabino

Vossa Excelência, por obséquio, queira falar mais alto, que não ouvi bem...”. A palavra “obséquio” recebe acento porque:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C

    OBQUIO (=ob-sé-quio → temos uma paroxítona terminada em ditongo crescente, semivogal+vogal; penúltima sílaba tônica).

    ➥ Existem dois tipos de ditongos: crescente ou decrescente (oral ou nasal).
    Crescente (SV + V, na mesma sílaba): Ex.: magistério (oral), série (oral), várzea (oral), quota (oral), quatorze (oral), enquanto (nasal), cinquenta (nasal), quinquênio (nasal)...
    Decrescente (V + SV, na mesma sílaba): Ex.: cãibra (nasal), caule (oral), ouro (oral), veia (oral), fluido (oral)...

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Semivogal, para ser uma semivogal, deve-se respeitar essas 3 regras, se desrespeitar pelo menos uma, não será uma semivogal:

    ·        Tem que ter som de I ou de U

    ·        Estar ao lado de uma vogal (lembrando que o A sempre é vogal)

    ·        Tem que ter som fraco.

    Dia -> O “i” tem som forte, é uma vogal.

    Caiu -> O “a” é vogal; o “i” é vogal (pois o som “i” é forte”) o “u” é semivogal; pois respeitou as regras.

    Fluir -> O “u” é vogal, pois o U é forte; o “i” é vogal, pois o i é forte. 

    Sabendo o que é uma semivogal, podemos saber como identificar um ditongo crescente ou decrescente, conforme comentário do @Arthur.

  • Resposta da banca/qc: alternativa c

    Minha resposta: alternativa b

     

    Nos discionários onlines que eu consultei a divisão silábica de obséquio era ob-sé-qui-o, sendo, por tanto, proparoxítona.

  • Rhuan, tome cuidado, pois as paroxítonas terminadas em ditongos crescentes podem ser consideradas como proparoxítonas eventuais. Como muitos gramáticos consideram essas terminações como paroxítonas, então as bancas seguem esta linha.

  • A questão em tela versa sobre regra de acentuação gráfica e teremos que indicar qual alternativa traz corretamente o motivo da palavra abaixo está acentuada.

    Ob- sé- quio

    Notem que a palavra acima tem 3 sílabas e que o acento está na penúltima. Diante dessa observação, iremos analisar cada alternativa. Vejamos:

    a) É uma oxítona terminada em “O”.

    Incorreta. Oxítonas são aquelas cuja sílaba tônica é a última: você, café, jiló… Acentuam-se as palavras oxítonas terminadas em a(s), e(s). o(s) e em (ens) e nos ditongos abertos éi(s). éu(s), ói(s): 

    b) Toda palavra proparoxítona é acentuada.

    Incorreta. Proparoxítonas - são aquelas cuja sílaba tônica é a antepenúltima: lágrima, trânsito…São todas acentuadas.

    c) É uma paroxítona terminada em ditongo crescente.

    Correta. Paroxítonas são aquelas cuja sílaba tônica é a penúltima: gente, âmbar, éter…

    São as palavras mais numerosas da língua e justamente por isso as que recebem menos acentos. São acentuadas as que terminam em: i, is, us, um, l, n, r, x, ps, ã, ãs, ão, ãos, , ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou não de s: águas, árduo, pônei…

    É uma ditongo crescente, porque começa com semivogal (u) e termina com vogal (o).

    d) É uma paroxítona terminada em ditongo decrescente.

    Incorreta. Para ser ditongo decrescente, deve começar com vogal (a, e , o) e ir para semivogal (i, u)

    Ex: pônei

    e) É uma oxítona terminada em ditongo crescente.

    Incorreta. Não acentuam as oxítonas terminadas em ditongo crescente.

    GABARITO: C

  • gab; C

    O ditongo é crescente quando a segunda vogal do ditongo é a mais forte.

     Exemplos:

    Qua-se. Goe-la, a-quá-rio, sa-gui, fre-quen-te. 

    FOCO NOS ESTUDOS!

    Não desista NUNCA dos seus sonhos. Acredite!

  • ⨠ Ditongo: apresenta semivogal (i,u) e vogal (a,e,o) ou vice-versa.

    Crescente = semivogal + vogal;

    Decrescente = vogal + semivogal. (Brasileira = Bra-si-lei-ra)

    NÃO SE SEPARAM OS DITONGOS E TRITONGOS:

    AU-LAS = ditongo decrescente oral.

    GUAR-DA = ditongo crescente oral.

    A-GUEI = tritongo ora

    Oxítonas ↳ Última sílaba tônica.

    Paroxítonas ↳ Penúltima sílaba tônica.

    Proparoxítonas ↳ Antepenúltima sílaba tônica.

    Monossílabos ↳ Acentuam-se monossílabos tônicos terminados em "A, E, O com ou sem S".

    Oxítonas ↳ Acentuam-se as oxítonas terminadas em "A, E, EM, ENS e DITONGO".

    Ditongos abertos  ÉU, ÉI, ÓI.

    a) Monossilábicos: véu, rói, dói, réis.

    b)Oxítonos: caracóis, pincéis, troféus.

    Paroxítonas ↳ Acentuam-se as paroxítonas terminadas em "L, I(s), N, US, PS, Ã, R, UM, UNS, ON, X, ÃO e

    DITONGO".

    OBS: Não se acentua prefixos terminados em Iou R”: Semi |Super.

  • Errei, pensei que fosse uma proparoxítona. Aprendi hoje que na separação silábica não se separam ditongos e tritongos. Então tem que ficar ligado também nos hiatos, para não errar nesses pequenos detalhes.

  • ob--quio (no Brasil) No Brasil é chamado paroxítona (Brasil)

    ob--qui-o (no Portugal e restante ) No Portugal e restante CPLP, é uma palavra proparoxítona (acento tónico na antepenúltima sílaba).