SóProvas


ID
3718828
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Prefeitura de Betim - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Conto: uma morada

O sonho de uma velha senhora

Juremir Machado da Silva


Contava-se que ela havia passado a vida lutando contra homens, doenças e intempéries. Dizia-se que criara sozinha onze filhos e enfrentara oito tormentas de derrubar casas e deixar muita gente desesperada. Durante muito tempo, teve um apelido: a flagelada. Era alta, magérrima e de olhos muito negros, duas bolas escuras que pareciam cintilar à beira do abismo. Era uma mulher de fala forte, voz rouca, agravada pelo cigarro, não menos de trinta por dia, do palheiro ao sem filtro, o que viesse, qualquer coisa que lhe permitisse sair do ar.

– Meu silêncio diz tudo – era o máximo que concedia a algum vizinho.

Apesar do seu jeito esquisito, era amada por quase todos. Gostava-se da sua coragem, da sua franqueza, alguns até falavam de uma ternura escondida por trás dos gestos de fera indomável. Muitos nem sabiam mais o nome dela. Era chamada simplesmente de “a velha”. Contava-se que prometera a si mesma viver cem anos para debochar das agruras da vida. Servira durante décadas de parteira, de benzedeira e até de responsável pela ordem nas redondezas. Impunha respeito, resolvia litígios, dava bons conselhos, sentia pena das jovens apaixonadas. Com o passar do tempo, ficou mais impaciente e menos propensa a ouvir longas e repetitivas histórias.

      (...)

Destino – Não se contava, porém, quando havia perdido tudo. Ficara sem casa. Vivia na cidade num quarto emprestado por um velho conhecido. Quando se imaginava que estava esgotada, que só esperava o fim para se livrar dos tormentos, ela se revelou mais firme do que nunca. Queria viver. Mais do que isso, deu para dizer a quem quisesse ouvir que tinha um sonho.

– Um sonho?

– Sim, a Velha tem um sonho.

A notícia espalhou-se como um acontecimento improvável. Com o que podia sonhar a velha? Contava-se que homens faziam apostas enquanto jogavam cartas ou discutiam futebol, mulheres especulavam sobre esse sonho, crianças se interessavam pelo assunto, todos queriam entender como podia aquela mulher árida ter um sonho, algo que a maioria, mais nova, já não tinha. Por alguns meses, pois ela fazia do seu novo silêncio um trunfo, foi cercada de atenção na busca obsessiva por uma resposta. Teriam até lhe oferecido dinheiro para revelar o seu sonho num programa de rádio.

Conta-se que numa tarde mormacenta de janeiro, com um temporal prestes a desabar, ela disse com a sua voz grave um pouco mais vibrante para quem pudesse ouvir (nunca se soube quem foi o primeiro saber):

– Quero voltar para casa.

Que casa era essa? A velha queria retornar ao lugar onde havia nascido, um lugar perdido na campanha onde vicejava solitário um cinamomo. Sonhava em ter uma casinha ali para viver os seus últimos anos. Desse ponto de observação, podia-se enxergar um enorme vazio. A comunidade, sempre tão dispersa, mobilizou-se como se, de repente, tudo fizesse sentido. O dono da terra aceitou que lhe erguessem um rancho no meio do nada para que ela fincasse suas raízes por alguns anos. Um mutirão foi organizado para erguer a morada. Até políticos contribuíram para a compra do modesto material – tábuas, pregos, latas – necessário à construção da residência. Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida.

Um rancho de duas peças: quarto e cozinha. Uma latrina a dez passos do cinamomo. Caía a noite quando tudo ficou pronto. Os homens embarcaram na carroceria de um velho caminhão e partiram. Ela ficou só no lugar que escolhera para viver depois de tantas lutas encarniçadas com o destino. Sentia-se vitoriosa. A lua cheia banhou os campos naquela noite. Ela passeou até onde as velhas pernas lhe permitiram. Deitou-se no catre com colchão novo. Fez questão de manter a sua cama. Morreu ao amanhecer com o sol faiscando na cobertura de lata reluzindo de tão nova e duradoura.

Adaptado de:<https://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/conto-uma-morada-1.392657>. Acesso em 26 jan. 2020.

O texto se trata de um conto, visto que

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: D

    ➥ Um conto é uma narrativa que cria um universo de seres, de fantasia ou acontecimentos. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e um enredo

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • A questão é sobre interpretação textual. Todas as informações para acertarmos a questão está no texto.

    a) Incorreta.

    O autor não passa sua opinião, apenas narra que a senhora tinha um sonho de voltar pra casa.

    b) Incorreta.

    Não relata a vida de outro personagem apenas da senhora.

    c) Incorreta.

    Por mais que o texto nos informa que vivia numa cidade, morava no quarto emprestado e que "Conta-se que numa tarde mormacenta de janeiro,", não se objetiva descrever minuciosos detalhes de tempo e espaço da história, tanto isso é verdade que não sabemos a data que isso ocorreu e nem a cidade que se passou. Objetivo era falar da vida da senhora.

    d) Correta.

    O conto de fato é um narrativa curta e o texto nos fala de personagens, a principal e os secundários que foram surgindo como o dono da terra, os políticos, os homens que faziam apostas..., nos informa tempo e lugar mesmo de forma pouco detalhada. Portanto, esse é o nosso gabarito.

    Obs: uma narrativa curta se apresenta com poucos personagens e, somente,, um conflito, sendo que o espaço e o tempo são reduzidos, outro motivo é que a leitura se faz de forma rápida, em poucas horas é feita a leitura. O conto tem aproximadamente 7. 500 palavras.

    e) Incorreta.

    Não é o objetivo incentivar as pessoas, e sim contar a vida da personagem.

    GABARITO: D

  • Assertiva D

    é uma narrativa curta, que contém enredo, personagens, tempo e espaço.

  • gab- D É uma narrativa curta, que contém enredo, personagens, tempo e espaço.

  • Questão repetida. Prestem mais atenção.
  • Narrativa curta? Quem define o que é curto?

    Não é de uma subjetividade questionável?

  • Ewerton Generoso, concordo contigo. O que seria uma narrativa curta!?

  • Muito questionável essa questão, pois de curta, ela não tem nada.

  • O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. 

    Toda narração tem um enredo ou intriga – o encadeamento, a sucessão dos fatos, o conflito que se desenvolve, podendo ser linear ou não. 

     ✓ Características principais:

     • O tempo verbal predominante é o passado. 

    • Alguns gêneros textuais narrativos: piada, fábula, parábola, epístola (carta com relatos), conto, novela, epopeia, crônica (mix de literatura com jornalismo), romance. 

    • Quem conta (narrador), o que ocorreu (o enredo), com quem ocorreu (personagem), como ocorreu (conflito/clímax), quando/onde ocorreu (tempo/espaço) são elementos presentes neste tipo de texto. 

    • Foco narrativo com narrador de 1a pessoa (participa da história – onipresente) ou de 3a pessoa (não participa da história – onisciente). 

    • Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em prosa, não em verso.

    Exemplo: Numa noite brilhante do mês de fevereiro (tempo), Fernando e Juliana (personagens) caminhavam pela rua (espaço) que conduzia à praça, ao sabor das estrelas (foco narrativo de 3a pessoa). Como em um conto de fadas, ela estava totalmente apaixonada por mim, o Fernando da história (foco narrativo de 1a pessoa). Era o momento ideal para ser atrevido, surpreendendo-a. Foi nesse momento que o rapaz (infelizmente este sou eu de novo) tomou um tapa daqueles na cara! (clímax) (o todo é o enredo) Eita! Bendita autoestima. 

    A gramática para concursos públicos / Fernando Pestana

  • GAB D

    Narrativa curta: poucos personagens e somente um conflito, sendo que o espaço e o tempo são reduzidos, outro motivo é que a leitura se faz de forma rápida, em poucas horas é feita a leitura.

  • GABARITO: D

    Conto é uma narrativa curta que, em geral, apresenta apenas um conflito

  • Fico imaginando se não fosse curta essa narração.

  • temos o idioma português como nossa linga nativa, falamos ouvimos, entendemos, mais quando se trata de responder questões que essas bancas inventa para concurso da NASA, AI FICA COMPLICADO.

  • Li tudo isso para depois errar a questão kkkkkk que "narrativa curta" em?!

  • O conto pode ser definido como uma narrativa curta e com um único conflito. Isso significa que, nessas histórias, há poucos personagens, o tempo e o espaço são reduzidos ao essencial e, além disso, o enredo (a sequência de ações pelas quais os personagens passam) é marcado pela existência de um único acontecimento relevante.
  • pegadinha miserável quando a banca diz ser narrativa curta.

  • Gabarito letra D.

    Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas personagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações encaminham-se diretamente para um desfecho.

  • imagina se fosse uma narrativa longa.

  • Gab. D.

    Mesmo não parecendo ser ''curto'', é a que melhor se encaixa.

  • Enredo, tempo, personagens e espaço. São características de um conto.

  • Gêneros textuais:

    O conto é um gênero literário que possui narrativa curta e tem sua origem da necessidade humana de contar e ouvir histórias. Passa por narrativas orais de povos antigos, trilhando pelos gregos e romanos, pelas lendas orientais, parábolas bíblicas, novelas medievais, até chegar a nós como é conhecido hoje.

     Tipos de contos: 

    • Dependendo da temática explorada, há diversos tipos de contos, do qual se destacam:

    • Contos realistas, os que narram situações realistas e não imaginárias.

    •  Contos populares, os que narram histórias transmitidas de uma geração para outra.

    •  Contos fantásticos, aqueles em que as histórias apresentam mistura de realidade com ficção e confundem os leitores com acontecimentos absurdos.

    •  Contos de terror, os que narram histórias cheias de mistérios, suspense e medo.

    •  Contos de humor, os que narram histórias que têm como objetivo divertir os leitores.

    •  Contos infantis, os que narram histórias para crianças e que têm a intenção de transmitir uma lição moral.

    •  Contos psicológicos, os que narram histórias que envolvem lembranças e sentimentos, e têm a intenção de levar o leitor a refletir.

    •  Contos de fadas, os que narram histórias que envolvem príncipes e princesas, e se desenvolvem em torno de um acontecimento trágico, mas que têm um final feliz.

    Texto Narrativo: 

    Os textos narrativos apresentam ações de personagens no tempo e no espaço. A estrutura da narração é dividida em: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho. Alguns exemplos de gêneros textuais narrativos:

    • Romance, • Novela, • Crônica, • Contos de Fada, • Fábula, • Lendas