SóProvas


ID
3720007
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
UFRB
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A cidade caminhava devagar
Henrique Fendrich

    Então você que é o Henrique? Ah, mas é uma criança ainda. Meu filho fala muito de você, ele lê o que você escreve. Mas sente-se! Você gosta de ouvir sobre essas coisas de antigamente, não é? Caso raro, menino. A gente já não tem mais com quem falar, a não ser com os outros velhos. Só que os velhos vão morrendo, e com eles vão morrendo as histórias que eles tinham para contar. Olha, do meu tempo já são poucos por aqui. Da minha família mesmo, eu sou o último, não tenho mais irmão, cunhado, nada. Só na semana passada eu fui a dois enterros. Um foi o do velho Bubi. Esse você não deve ter conhecido. Era alfaiate, foi casado com uma prima minha. E a gente vai a esses enterros e fica pensando que dali a pouco pode ser a nossa vez. Mas faz parte, não é? É assim que a vida funciona e a gente só pode aceitar. 
    Agora, muita coisa mudou também. A cidade já é outra, nem se compara com a da minha época. As coisas caminhavam mais devagar naquele tempo. Hoje é essa correria toda, ninguém mais consegue sossegar. Mudou muita coisa, muitos costumes que a gente tinha foram ficando para trás. Olha, é preciso que se diga também que havia mais respeito. Eu vejo pelos meus próprios netos, quanta diferença no jeito que eles tratam os pais deles! Se deixar, são eles que governam a casa. Consegue ver aquele quadro ali na parede? Papai e mamãe… Eu ainda tinha que pedir bênção a eles. A gente fazia as refeições juntos todos os dias, e sempre no mesmo horário. Hoje é cada um para um lado, uma coisa estranha, sabe? Parece que as coisas mudam e a gente não se adapta. E vai a gente tentar falar algo… Ninguém ouve, olham para você como se tivessem muita pena da sua velhice.
    Aqui para cima tem um colégio. Cinco horas da tarde, eles saem em bando. A gente até evita estar na rua nesse horário. Por que você pensa que eles se preocupam com a gente? Só falta eles nos derrubarem, de tão rápido que eles andam. As calçadas são estreitas e, se a gente encontrar uma turma caminhando na nossa direção, quem você acha que precisa descer, eles ou nós, os velhos? É a gente… Nem parece que um dia eles também vão ficar velhos como a gente. A verdade é que as pessoas estão se afastando, não estão se importando mais umas com as outras. Nem os vizinhos a gente conhece mais. Faz mais de um mês que chegou vizinho novo na casa que era do Seu Erico e até agora a gente não sabe quem é que foi morar lá. A Isolda veio com umas histórias de a gente ir lá fazer amizade, mas eu falei para ela que essa gente vive em outro mundo, outros valores, e é capaz até de pensarem mal da gente se a gente for lá.
    Mas você deve achar que eu só sei reclamar, não é? Tem coisa boa também, claro que tem. Hoje as pessoas já não sofrem como na nossa época. Ali faltava tudo, a gente não tinha nem igreja para ir no domingo, imagine só. O padre aparecia uma vez a cada dois meses e olhe lá. E viajar para o centro? Só de carroça, e não tinha asfalto, não tinha nada. Se chovia, a estrada virava um lamaçal e a gente tinha que voltar. Isso mudou, hoje está melhor. Hoje tem todas essas tecnologias aí, é mais fácil tratar doença também. Olha, se eu vivesse no tempo do meu pai, acho que não teria chegado tão longe assim, porque ali não tinha os remédios que eles precisavam, né? Só que também tem essa questão da segurança, que hoje a gente não tem quase nenhuma. A gente tem até medo que alguém entre aqui em casa. São dois velhos, o que a gente vai poder fazer contra o ladrão?
    Mas vamos sentar e tomar um café, a Isolda já preparou. Tem cuque, lá da festa da igreja. Se você viesse ontem, teria encontrado meu filho, ele quem trouxe. Depois quero te mostrar o álbum de fotos do papai. Está meio gasto, as fotos estão amarelas… Mas é normal, né? São coisas de outro tempo. Do tempo em que a cidade caminhava mais devagar.

Adaptado de: <http://www.aescotilha.com.br/cronicas/henrique-fendrich/a-cidade-caminhava-devagar>  . Acesso em: 28 jun. 2019.

Em qual forma verbal está a palavra “tivessem” na oração “Ninguém ouve, olham para você como se tivessem muita pena da sua velhice.”?

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C

    ✓ “Ninguém ouve, olham para você como se tivessem muita pena da sua velhice.”?

    ➥ SE ELES TIVESSEM (=3ª pessoa do plural do pretérito imperfeito do subjuntivo, utilizado na expressão de desejos, probabilidades e acontecimentos que estão condicionados por outros. Pode indicar uma ação presente, passada ou futura).

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Rapaz, até o momento conhecia o pretérito imperfeito do subjuntivo.

  • Gabarito Letra C

    a) Presente do Subjuntivo – Colocar o “que” antes do Verbo: que eu fale/beba/estude/caia

    b) Pretérito Imperfeito do Subjuntivo – Colocar o “se” antes do verbo: se eu falasse/bebesse/caísse...

    c) Futuro do Subjuntivo – Colocar o “quando” antes do verbo: Quando eu falar/beber/cair/comer

  • Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

  • Gabarito: C

    Em resumo:

    *QUE--> presente do subjuntivo

    ex: Espero que ela viaje mês que vem.

    *SE--> pretérito do subjuntivo

    ex: Teria sido mais fácil se tivesse estudado mais.

    *QUANDO--> futuro do subjuntivo

    ex: Quando ela vier morar aqui, tudo ficará mais fácil.

  • GAB C

    Que- presente do subjuntivo

    Se- pretérito imperfeito do subjuntivo

    Quando - Futuro do subjuntivo.

  • Em 26/01/21 às 17:11, você respondeu a opção C.Você acertou!

    Em 08/01/21 às 16:16, você respondeu a opção D. Você errou!

    Se meu irmão Rogesson passar por aqui,saiba que sou grato pela ajuda.

  • Modo subjuntivo

    pretérito imperfeito

    SS

  • "forma" verbal, AOCP? quanta técnica.