SóProvas


ID
3720052
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
UFRB
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A cidade caminhava devagar
Henrique Fendrich

    Então você que é o Henrique? Ah, mas é uma criança ainda. Meu filho fala muito de você, ele lê o que você escreve. Mas sente-se! Você gosta de ouvir sobre essas coisas de antigamente, não é? Caso raro, menino. A gente já não tem mais com quem falar, a não ser com os outros velhos. Só que os velhos vão morrendo, e com eles vão morrendo as histórias que eles tinham para contar. Olha, do meu tempo já são poucos por aqui. Da minha família mesmo, eu sou o último, não tenho mais irmão, cunhado, nada. Só na semana passada eu fui a dois enterros. Um foi o do velho Bubi. Esse você não deve ter conhecido. Era alfaiate, foi casado com uma prima minha. E a gente vai a esses enterros e fica pensando que dali a pouco pode ser a nossa vez. Mas faz parte, não é? É assim que a vida funciona e a gente só pode aceitar. 
    Agora, muita coisa mudou também. A cidade já é outra, nem se compara com a da minha época. As coisas caminhavam mais devagar naquele tempo. Hoje é essa correria toda, ninguém mais consegue sossegar. Mudou muita coisa, muitos costumes que a gente tinha foram ficando para trás. Olha, é preciso que se diga também que havia mais respeito. Eu vejo pelos meus próprios netos, quanta diferença no jeito que eles tratam os pais deles! Se deixar, são eles que governam a casa. Consegue ver aquele quadro ali na parede? Papai e mamãe… Eu ainda tinha que pedir bênção a eles. A gente fazia as refeições juntos todos os dias, e sempre no mesmo horário. Hoje é cada um para um lado, uma coisa estranha, sabe? Parece que as coisas mudam e a gente não se adapta. E vai a gente tentar falar algo… Ninguém ouve, olham para você como se tivessem muita pena da sua velhice.
    Aqui para cima tem um colégio. Cinco horas da tarde, eles saem em bando. A gente até evita estar na rua nesse horário. Por que você pensa que eles se preocupam com a gente? Só falta eles nos derrubarem, de tão rápido que eles andam. As calçadas são estreitas e, se a gente encontrar uma turma caminhando na nossa direção, quem você acha que precisa descer, eles ou nós, os velhos? É a gente… Nem parece que um dia eles também vão ficar velhos como a gente. A verdade é que as pessoas estão se afastando, não estão se importando mais umas com as outras. Nem os vizinhos a gente conhece mais. Faz mais de um mês que chegou vizinho novo na casa que era do Seu Erico e até agora a gente não sabe quem é que foi morar lá. A Isolda veio com umas histórias de a gente ir lá fazer amizade, mas eu falei para ela que essa gente vive em outro mundo, outros valores, e é capaz até de pensarem mal da gente se a gente for lá.
    Mas você deve achar que eu só sei reclamar, não é? Tem coisa boa também, claro que tem. Hoje as pessoas já não sofrem como na nossa época. Ali faltava tudo, a gente não tinha nem igreja para ir no domingo, imagine só. O padre aparecia uma vez a cada dois meses e olhe lá. E viajar para o centro? Só de carroça, e não tinha asfalto, não tinha nada. Se chovia, a estrada virava um lamaçal e a gente tinha que voltar. Isso mudou, hoje está melhor. Hoje tem todas essas tecnologias aí, é mais fácil tratar doença também. Olha, se eu vivesse no tempo do meu pai, acho que não teria chegado tão longe assim, porque ali não tinha os remédios que eles precisavam, né? Só que também tem essa questão da segurança, que hoje a gente não tem quase nenhuma. A gente tem até medo que alguém entre aqui em casa. São dois velhos, o que a gente vai poder fazer contra o ladrão?
    Mas vamos sentar e tomar um café, a Isolda já preparou. Tem cuque, lá da festa da igreja. Se você viesse ontem, teria encontrado meu filho, ele quem trouxe. Depois quero te mostrar o álbum de fotos do papai. Está meio gasto, as fotos estão amarelas… Mas é normal, né? São coisas de outro tempo. Do tempo em que a cidade caminhava mais devagar.

Adaptado de: <http://www.aescotilha.com.br/cronicas/henrique-fendrich/a-cidade-caminhava-devagar>  . Acesso em: 28 jun. 2019.

No contexto da oração “Era alfaiate, foi casado com uma prima minha.”, a preposição em destaque indica

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C

    ✓ “Era alfaiate, foi casado com uma prima minha.”

    ➥ A preposição "com" indica companhia, indica a pessoa com que foi casado. 

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • DOIS GABARITOS POSSÍVEIS... B e C

  • COMPANHIA.

  • Amigo, Gedean Sá, tem que fundamentar sua opinião.

  • Não ficou meio cm cara de adição não galera?

    Fiquei em duvida entre adição e companhia e marquei a errada!rs

  • Eu estive casado , foi minha com panheira rs  ou seja minha Companhia.

  • não pode isso

  • casar com prima

  • Júnior Borges, pode sim.

    casamento entre primos é tabu em boa parte do mundo ocidental. Mas não no Brasil. Aqui, segundo o Artigo 1.521 do Código Civil, é proibido o casamento entre parentes colaterais até o terceiro grau - tio(a) e sobrinha(o), mas os chamados primos-primeiros são parentes em quarto grau.

  • QC, cadê o comentário do professor????

    Também faço parte do time da adição; alfaiate e casado e com sei la quem...

  • de companhia? e isso existe?

  • gente que questão é essa??????

  • 1. companhia: Viajei sempre com a Maria.

    2. adição, simultaneidade: Tomo café com açúcar.

    Pra diferenciar, tento trocar o "com" pelo "e", tipo: tomo café e açúcar. Quase sempre dá certo. Mas tendo essa ideia de simultaneidade em mente, dá pra acertar. Não daria pra eu dizer: viajei sempre e Maria.

    Fonte: https://www.infopedia.pt

  • Galera, isso é valor semântico!

    instrumental : o garoto feriu-se com o objeto cortante

    Adição : soma, Comi salgado e bolo

    Companhia : Irei com meus amigos à festa

  • Essa pra mim foi nova...

  • A questão é de morfologia e quer saber o valor da preposição "com" em “Era alfaiate, foi casado com uma prima minha.”. Vejamos:

     .

    Preposição: palavra invariável que une dois termos de uma oração, subordinando um ao outro, de tal modo que o sentido do primeiro (antecedente) é explicado ou completado pelo segundo (consequente). Ex.: Concordo com você.

    As preposições essenciais são: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, pe r, perante, por, sem, sob, sobre, trás.

     .

    RELAÇÕES EXPRESSAS PELAS PREPOSIÇÕES

    Isoladamente, as preposições são palavras vazias de sentido, se bem que algumas delas contenham uma vaga noção de tempo e lugar. Na frase, porém, exprimem relações as mais diversas, tais como:

     .

    assunto: Falou sobre política.

    causa: Morreu de fome.

    companhia: Jantei com ele.

    especialidade: Formou-se em Medicina.

    direção: Olhe para frente.

    fim ou finalidade: Trabalha para viver.

    falta: Estou sem recursos.

    instrumento: Feriu-se com a própria espada.

    lugar: Moro em São Paulo.

    meio: Viajei de avião.

    modo, conformidade: Trajava à moderna.

    oposição: João falou contra nós.

    posse, pertença, propriedade: Vi o carro de Mário.

    matéria: Era uma casa de tijolos.

    origem: Descendia de família ilustre.

    tempo: Viajei durante as férias.

     .

    A) instrumento.

    Errado. São exemplos de frases que contêm preposições com valor semântico de instrumento: Escreveu o texto a lápis. Empurrou a porta com o pé. Ela apanhou de chinelo.

     .

    B) adição.

    Errado. São exemplos de locuções prepositivas que indicam adição: "além de, ademais de".

     .

    C) companhia.

    Certo. "Com", nesse caso, traz ideia de companhia e indica com quem a pessoa foi casada. Outros exemplos: Vá com Deus. Irei fazer a prova com meus amigos.

     .

    D) conteúdo.

    Errado. Exemplos de frases que contêm preposições com valor semântico de conteúdo: O maço de cigarros estava sobre a mesa. Comi um prato de sopa. Papai Noel trouxe um saco com vários presentes dentro.

    (conteúdo)

     .

    Referência: CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, 48.ª edição, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

     .

    Gabarito: Letra C