SóProvas


ID
3721
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2007
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: As questões de números 1 a 20 referem-se ao texto
que segue.

Para que servem as ficções?

Cresci numa família em que ler romances e assistir a
filmes, ou seja, mergulhar em ficções, não era considerado uma
perda de tempo. Podia atrasar os deveres ou sacrificar o sono
para acabar um capítulo, e não era preciso me trancar no
banheiro nem ler à luz de uma lanterna. Meus pais, eventualmente,
pediam que organizasse melhor meu horário, mas deixavam
claro que meu interesse pelas ficções era uma parte
crucial (e aprovada) da minha "formação". Eles sequer exigiam
que as ditas ficções fossem edificantes ou tivessem um valor
cultural estabelecido. Um policial e um Dostoiévski eram tratados
com a mesma deferência. Quando foi a minha vez de ser
pai, agi da mesma forma. Por quê?

Existe a idéia (comum) segundo a qual a ficção é uma
"escola de vida": ela nos apresenta a diversidade do mundo e
constitui um repertório do possível. Alguém dirá: o mesmo não
aconteceria com uma série de bons documentários ou ensaios
etnográficos? Certo, documentários e ensaios ampliam nossos
horizontes. Mas a ficção opera uma mágica suplementar.

Tome, por exemplo, "O Caçador de Pipas", de Khaled
Hosseini. A leitura nos faz conhecer a particularidade do Afeganistão,
mas o que torna o romance irresistível é a história singular
de Amir, o protagonista. Amir, afastado de nós pela particularidade
de seu grupo, revela-se igual a nós pela singularidade
de sua experiência. A vida dos afegãos pode ser objeto
de um documentário, que, sem dúvida, será instrutivo. Mas a
história fictícia "daquele" afegão o torna meu semelhante e meu
irmão.

Esta é a mágica da ficção: no meio das diferenças
particulares entre grupos, ela inventa experiências singulares
que revelam a humanidade que é comum a todos, protagonistas
e leitores. A ficção de uma vida diferente da minha me ajuda a
descobrir o que há de humano em mim.

Enfim, se perpetuei e transmiti o respeito de meus pais
pelas ficções é porque elas me parecem ser a maior e melhor
fonte não de nossas normas morais, mas de nosso pensamento
moral.

(Contardo Calligaris, Folha de S. Paulo, 18/01/2007)

Está correto o emprego da forma sublinhada na frase:

Alternativas
Comentários
  • Sinceramente, não entendi. Alguém pode me explicar?
  • "de cujas"?? tb não entendi!
  • O "de" concorda com o verbo agradar. Portanto, se vc retirasse a preposição antes do cujas, a oração ficaria errada.
  • a) lhes -> assistiam a eles.b) de cujas -> agradou das páginas.c) as -> considera as ficções.d) cujo -> ninguém contesta o valor.e) os -> o autor os louva (objeto direto).
  • Comentário objetivo:

    b) Quando o autor leu o romance "O Caçador de Pipas", de cujas páginas tanto se agradou, absorveu o sentido universal da história narrada.

    A alternativa acima está correta. Veja que são dois pontos a ser analisados:

    Em primeiro lugar o emprego do "cujas", que está corretíssimo, visto que ele faz a conexão entre o elemento possuidor (o romance "O Caçador de Pipas") e o elemento possuído (páginas).

    Por fim, a preposição "de" é necessária devida à regência do verbo "agradar". Note que "quem de agrada, se agrada DE alguma coisa". No caso, se agrada das páginas do romance "O Caçador de Pipas".

  • Sinceramente achei que o verbo louvar era transitivo indireto (quem louva, louva A alguém). No caso, louvar seria como amar? (quem ama, ama alguém)? Alguém pode explicar melhor? Obrigado.
  • Vinicius, neste caso quem louva, louva algo -> os hábitos de sua família.

    Entendeu?
  • AGRADAR: VTD (fazer agardo)
                        VTI (contentar)
  • Caros colegas,  o revisaço português 2015, 2 edição,  quanto à letra A  ele faz a seguinte obs : não será assistiam-nos nem assistiam -lhes. Será " assistiam a eles "》》 pq os verbos ASSISTIR, ASPIRAR, VISAR qnd VTI, não admitem a forma LHE.

  • Alguem poderia me explicar o erro da letra "D" 

  • Pedro Mendes, o erro da letra D:

     d) Admirar um romance de Dostoiévski, de cujo valor ninguém contesta, não exclui a possibilidade de se admirar o gênero policial.

    Sempre quando for resolver questões com o "cujo", lembre-se de que deves olhar sempre se se refere a um substantivo e olhar sua regência. Nesse caso o verbo constestar é verbo VTD, não sendo possível a preposição anteposta a ele. 

  • Gab B

    Correção em azul:

    Atentar-se à transitividade dos verbos.

    a)Na família do autor, romances eram lidos livremente; quanto aos filmes, todos também assistiam-nos com grande interesse. Assistiam aos filmes = assistiam-lhes. VTI>OI

    c)Muitos depreciam as ficções ? não o autor do texto, que lhes considera essenciais para a formação de um indivíduo. Considera essencial = considera – o. VTD>OD

    d)Admirar um romance de Dostoiévski, de cujo valor ninguém contesta, não exclui a possibilidade de se admirar o gênero policial. Ninguém contesta o valor = cujo valor ninguém contesta. VTD>OD.

    e)Rememorando os hábitos de sua família, louva-lhes o autor como estímulos essenciais para a sua formação de leitor. Louva os hábitos da família = louva-os. VTD>OD