SóProvas


ID
3724
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2007
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: As questões de números 1 a 20 referem-se ao texto
que segue.

Para que servem as ficções?

Cresci numa família em que ler romances e assistir a
filmes, ou seja, mergulhar em ficções, não era considerado uma
perda de tempo. Podia atrasar os deveres ou sacrificar o sono
para acabar um capítulo, e não era preciso me trancar no
banheiro nem ler à luz de uma lanterna. Meus pais, eventualmente,
pediam que organizasse melhor meu horário, mas deixavam
claro que meu interesse pelas ficções era uma parte
crucial (e aprovada) da minha "formação". Eles sequer exigiam
que as ditas ficções fossem edificantes ou tivessem um valor
cultural estabelecido. Um policial e um Dostoiévski eram tratados
com a mesma deferência. Quando foi a minha vez de ser
pai, agi da mesma forma. Por quê?

Existe a idéia (comum) segundo a qual a ficção é uma
"escola de vida": ela nos apresenta a diversidade do mundo e
constitui um repertório do possível. Alguém dirá: o mesmo não
aconteceria com uma série de bons documentários ou ensaios
etnográficos? Certo, documentários e ensaios ampliam nossos
horizontes. Mas a ficção opera uma mágica suplementar.

Tome, por exemplo, "O Caçador de Pipas", de Khaled
Hosseini. A leitura nos faz conhecer a particularidade do Afeganistão,
mas o que torna o romance irresistível é a história singular
de Amir, o protagonista. Amir, afastado de nós pela particularidade
de seu grupo, revela-se igual a nós pela singularidade
de sua experiência. A vida dos afegãos pode ser objeto
de um documentário, que, sem dúvida, será instrutivo. Mas a
história fictícia "daquele" afegão o torna meu semelhante e meu
irmão.

Esta é a mágica da ficção: no meio das diferenças
particulares entre grupos, ela inventa experiências singulares
que revelam a humanidade que é comum a todos, protagonistas
e leitores. A ficção de uma vida diferente da minha me ajuda a
descobrir o que há de humano em mim.

Enfim, se perpetuei e transmiti o respeito de meus pais
pelas ficções é porque elas me parecem ser a maior e melhor
fonte não de nossas normas morais, mas de nosso pensamento
moral.

(Contardo Calligaris, Folha de S. Paulo, 18/01/2007)

Quanto à observância da necessidade do sinal de crase, a frase inteiramente correta é:

Alternativas
Comentários
  • b) Se à princípio os jovens demonstram pouco interesse pelas ficções, o contínuo estímulo a elas pode reverter esse quadro.

    ERRADA porque "princípio" é palavra masculina. E, só se usa crase antes de palavras femininas.


    c) Quem se entrega à boa leitura pode avaliar sua inestimável contribuição à uma vida interior mais rica e mais profunda.

    ERRADA porque "a uma" é artigo indefinido. E, antes de artigo indefinido não se usa crase.


    d) Ao se referir à ficção de "O Caçador de Pipas", o autor tomou-a como exemplo essencial a argumentação que desenvolvia.

    ERRADA porque "essencial" é termo regente, ou seja, exige complemento regido da preposição "a" para completar o sentido da frase. Dessa forma, o erro está na ausência da crase em " a argumentação". Portanto, o correto seria: Ao se referir à ficção de "O Caçador de Pipas", o autor tomou-a como exemplo essencial à argumentação que desenvolvia.


    e) Os que se dedicam à cultivar a boa literatura sabem o quanto é difícil dotar as palavras de um sentido verdadeiramente essencial.

    ERRADA porque não se usa crase antes de verbos.



  • Na questão D, eu entendo que "essencial" realmente necessita de preposição A, mas e se eu entender que a palavra argumentação está em sentido genérico, ou seja, sem artigo definido, então estaria correto a colocação somente da preposição A sem crase. Se alguém souber porque este item está errado, me mande a resposta diretamente na minha caixa de mensagens.

  • Diego, também fiquei nessa dúvida.


    Na minha primeira leitura eu entendi:  A argumentação que o autor desenvolvia serviu de exemplo para "Caçador de pipas".
  • Fiquei com dúvida na letra A após o gabarito, mas analisando a questão entendi que o "a" antes dos "que" não levam crase pq se referam a palavras masculinas, apesar de os verbos "dedicar" e assistir" serem, na questão, VTI, necessitando de preposição, portanto.
    Foi o que entendi...
  • caros,

    com relação às dúvidas geradas pelas letras "a" e "d":

    Letra "a": quando se faz a análise da crase diante de pronome relativo, você deverá procurar sempre o termo antecedente. Se o antecedente for ou uma palavra masculina ou outro caso impeditivo de crase, você não irá usar a crase. Na oração:  Voltam-me à memória os romances a que (TERMO ANTECEDENTE É PALAVRA MASCULINA E NO PLURAL, NAO POSSO DE FORMA ALGUMA USAR CRASE AQUI) me dediquei como jovem leitor, bem como os filmes a que (MESMO CASO QUE O ANTERIOR: PALAVRA MASCULINA E NO PLURAL) assisti com tanto prazer. 

    Letra "d": Em questões que possam gerar muitas dúvidas, busquem o macete da substituição por palavra masculina. Se ao realizarem, conseguirem obter "ao", leva-se crase. 
    o autor tomou-a como exemplo essencial a argumentação que desenvolvia. (ao desenvolvimento que desenvolvia).

    Só isso...

    "Fé em Deus"
  • Pessoal,

    Teve vários comentários aqui, mas eu continuo sem entender. Fiquei em dúvida na A e D. Optoei pela letra D.
  • Vimos  a  estrutura  de  um  verbo  ou  nome  que  exige  preposição  “a”.
    Agora, veremos a locução adverbial que não é exigida pelo verbo, mas possui a estrutura interna com a preposição.
    Exemplo: Estive aqui de manhã.
    Note  que  a  locução  adverbial  “de  manhã”  ocorreu  sem  exigência  do verbo, pois poderíamos dizer “Estive aqui.” Esta locução tem uma composição própria:  de  +  manhã.  Se  essa  estrutura  fosse  composta  por  preposição  “a” seguida de nome feminino que admitisse artigo “a”, haveria crase.  
    Exemplo: Estive aqui à noite. PORTUGUÊS P/ TRTs 12ªR e 18ªR (TEORIA E QUESTÕES COMENTADAS)  
    PROFESSOR TERROR

  • Volnei Moura, o erro da letra D está na ausência de acento grave em 'essencial à argumentação'

     

    O que é essencial, é essencial  algo/alguém + argumentação = ESSENCIAL À ARGUMENTAÇÃO

  • B) antes de palavra masculina não vai crase,
    C) antes de numeral não vai crase.
    D) O autor tomou-a como exemplo essencial à argumentação que desenvolvia ao se referir à ficção de " O Caçador de Pipas",
    E)antes de verbo  não vai crase.

  • GABARITO: LETRA A

    ACRESCENTANDO:

    Os casos proibidos, obrigatórios e facultativos de crase:

    Casos proibidos:

    • Palavras masculinas (ele fazia menção a dissídio trabalhista)

    • Palavras com sentido indefinido (o homem não assistia a filmes medíocres)

    • Verbos (os meninos estavam dispostos a estudar)

    • Pronomes pessoais, de tratamento e interrogativos (a Sua Excelência, dirigimos um comunicado)

    • Em expressões com palavras repetidas (cara a cara, dia a dia)

    • Topônimos (nomes de lugares) que não admitem artigo (João viajará a São Paulo). Cuidado: se for um lugar específico, haverá crase (João viajará à São Paulo de sua infância - "de sua infância" está especificando)

    • Palavra "casa" no sentido de própria residência (o menino voltou a casa para buscar sua carteira). Cuidado: se for casa de outra pessoa, haverá crase (o menino foi à casa de Mariana)

    • Palavra "terra" no sentido de solo (muitos virão a terra após navegar)

    Casos obrigatórios:

    • Locução adverbial feminina (à vista, à noite, à esquerda)

    • Expressão masculina ou feminina com o sentido de "à moda de" (gol à Pelé, cabelos à Sanção)

    • Locução prepositiva (à vista de, à beira de, à mercê de)

    • Locução conjuntiva proporcional (à medida que e à proporção que)

    • Para evitar ambiguidade (ama à mãe a filha e ama a mãe à filha - a crase indica quem é a pessoa amada)

    • Palavras "madame", "senhora" e "senhorita" (enviaremos uma carta à senhorita)

    • Palavra "distância", quando ela estiver determinada (o acidente se deu à distância de 100 metros)

    Casos facultativos:

    • Após a preposição "até" (caminharemos até a/à sala do diretor)

    • Pronome possessivo feminino (ninguém fara menção a/à sua citação)

    • Substantivo feminino próprio (houve uma homenagem a/à Cecília)

    • Palavra "dona" (enviamos a correspondência a/à dona Nádia)

    FONTE: QC

  • O verbo voltar exige preposição e a palavra memória é substantivo feminino, por isso o emprego da crase na alternativa A.

    "O verbo voltar é um verbo de movimento que pode reger diversas preposições, que introduzem um complemento do verbo:

    (1) «Ele voltou a Paris.»

    (2) «Ele voltou para casa.»

    (3) «Ele voltou de Paris.»

    Embora seja menos frequente, o verbo pode também reger a preposição por que introduz um complemento que indica o meio no qual se realiza o movimento:

    (4) «Ele voltou por terra."

    in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/os-complementos-do-verbo-voltar/35778 [consultado em 08-07-2021]