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ID
3843448
Banca
IESES
Órgão
CRM-SC
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto a seguir para responder a questão sobre seu conteúdo.

A moça em prantos

    O poeta encontrou uma pedra no meio do caminho, nunca esqueceu dessa pedra, que lhe deu assunto para o seu poema mais conhecido. Não sendo poeta, encontrei não uma, mas infinitas pedras no meio do caminho, e não só no meio, mas no início e no fim de cada caminho. Não me renderam um único poema, nem mesmo uma modesta crônica.
    Mas jamais esqueci a primeira moça que vi chorando. Eu devia ter seis ou sete anos, achava que só as crianças podiam e deviam chorar, tinham motivos bastante para isso, desde as fraldas molhadas nos primeiros meses de existência até a inexpugnável barreira dos “não pode”, que emparedam a infância e criam neuras para o resto da vida.
    Um adulto chorando era incompreensível para mim, um acontecimento pasmoso, uma aberração da natureza, pois os adultos podiam tudo e tudo lhes é permitido. E a moça era um adulto, ao menos para mim, embora ela fosse realmente moça, aí pelos 15 anos ou pouco mais.
    E chorava. Não abrindo o berreiro como as crianças, mas dolorosamente, e na certa misturando motivos.
    Mesmo assim fiquei imaginando a causa do seu pranto. Faltara à escola e por isso ficara sem sobremesa? Fora proibida de brincar na calçada? Queria ganhar uma bicicleta e fora convencida a continuar com o insípido velocípede?
    Vi muita gente chorando depois, homens feitos, mulheres maduras. Eu mesmo, quando levo meus trancos, repito o menino que ia para debaixo da mesa de jantar para poder chorar sem passar recibo da minha dor. Hoje, ficaria feio esconder-me debaixo das mesas, mas sei que é um bom lugar para isso. Melhor do que a cama, onde devemos fazer outras coisas. A moça que chorava não se escondera, chorava de mansinho, na verdade nem parecia estar chorando. Devia apenas estar muito triste porque misturava todos os motivos para a sua tristeza.
(Carlos Heitor Cony, Folha de São Paulo, 04/05/2003) 

O tempo verbal que predomina no texto é:

Alternativas
Comentários
  • Primeiro período: O poeta encontrou uma pedra no meio do caminho, nunca esqueceu dessa pedra, que lhe deu assunto para o seu poema mais conhecido.

    Logo no primeiro período do texto, já se evidencia a predominância de verbos no pretérito perfeito do indicativo, assim como nos demais.

    GABARITO. C

  • Gabarito: C

    ✓ Vejamos, no decorrer da cadeia discursiva, o predomínio da flexão verbal no Pretérito Imperfeito do Indicativo:

    ➥ O poeta encontrou uma pedra no meio do caminho, nunca esqueceu dessa pedra, que lhe deu assunto para o seu poema mais conhecido. Não sendo poeta, encontrei não uma, mas infinitas pedras no meio do caminho, e não só no meio, mas no início e no fim de cada caminho. Não me renderam um único poema, nem mesmo uma modesta crônica.

    ➥ Esse tempo verbal (cf. Celso Cunha & Lindley Cintra, na obra Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 465) encerra "uma ideia de continuidade, de duração do processo verbal mais acentuada do que os outros tempos pretéritos, razão por que se presta especialmente para narrações de acontecimentos passados", como se observa no contexto em análise.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!