A assinatura do protocolo de intenções do acordo Mercosul-UE (União Europeia) de livre comércio, em julho, foi festejada pela indústria nacional de veículos. Executivos de montadoras e associações de fabricantes consideram o tratado positivo para o carro brasileiro.
“A boa notícia é que a melhora no nível de competitividade agora tem prazo para acontecer, graças ao acordo Mercosul-UE”, diz Moraes. Para o presidente da Audi do Brasil, Johannes Roscheck, mercados como o brasileiro não estão prontos para competir globalmente. “Um mercado fechado cria suas próprias regras. É como um oligopólio, sem alternativas”, afirma o executivo.
Os dirigentes de todas as montadoras ouvidas concordam que o governo também precisa criar medidas para garantir a evolução do setor. A principal, segundo eles, é a reforma tributária, para reduzir a complexidade dos impostos no País. “Os custos que a burocracia desse sistema complexo causa às empresas encarecem o carro nacional”, diz Moraes.
A Anfavea recentemente divulgou um estudo sobre o papel do carro brasileiro no mundo. Entre os destaques, os veículos feitos no País respondem por 62% dos modelos vendidos na Argentina, por exemplo.
Na América do Sul, excluindo a Argentina e o México, o número cai para 10%. No México, o carro feito no Brasil representa 5,4% do mercado. “No mundo, a representatividade do carro brasileiro é zero”, afirma o presidente da Anfavea.
Por isso, segundo o setor, o acordo Mercosul-UE deve fortalecer o papel do Brasil como exportador. “Mas isso só vai acontecer quando o País reduzir custos”, pondera Moraes. Além disso, a utilização de autopeças importadas sem cobrança de impostos pode reduzir o preço do carro nacional vendido no mercado interno.
A reforma tributária é, na opinião de executivos do setor, o fator mais importante para aumentar a competitividade da indústria brasileira. “Neste momento, não há uma perspectiva de redução de impostos, e sim de simplificação”, diz Moraes. “A complexidade do sistema tributário brasileiro encarece o produto final”, afirma Gleide.
De acordo com Roscheck, o maior entrave à competitividade do Brasil é o que o executivo da Audi chama de impostos em cascata. “Não temos custos trabalhistas altos. São semelhantes aos dos novos países da União Europeia (os do Leste Europeu). Mas temos gastos para lidar com a complexidade dos impostos, que acabam gerando também burocracia.”
Segundo o executivo, por causa dos impostos em cascata, as empresas instaladas no Brasil têm três vezes mais pessoas trabalhando na área de finanças que na Europa. Ele afirma que os gastos com consultorias para lidar com as regulamentações também são muito altos.