SóProvas


ID
4008415
Banca
FUMARC
Órgão
Câmara de Igarapé - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A GENTE É VELHO...
Rubem Alves 



      A gente é velho quando, para descer uma escada, segura firme no corrimão. E os olhos olham para baixo para medir o tamanho dos degraus e a posição dos pés.
     Quando eu era moço, não era assim. Não segurava no corrimão e não media degraus e pés. Descia os dois lances de escada do sobrado do meu avô com a mesma fúria com que um pianista toca o prelúdio 16, de Chopin. Ele, pianista, não pensa. Se pensasse, não conseguiria tocar, porque o pensamento não consegue seguir a velocidade das notas. Toca porque seus dedos sabem sem que a cabeça saiba. O pianista se abandona ao saber do corpo. Assim descia eu as escadas do sobradão do meu avô. Mas no dia em que o pé começou a tropeçar, a cabeça compreendeu que eles, os pés, já não sabiam como sabiam antes. Agora é preciso o corrimão. Depois virão as bengalas, corrimões portáteis que se leva por onde se vai.
      A gente é velho quando, no restaurante, é preciso cuidado ao se levantar. Moço, as pernas sabem medir as distâncias que há debaixo da mesa. Mas, agora, é preciso olhar para medir a distância que há entre o pé da mesa e o bico do sapato. Há sempre o perigo de que o bico do sapato esbarre no pé da mesa e o pé da mesa lhe dê uma rasteira, você se estatelando no chão. Quando se é velho, até uma pequena queda pode se transformar em catástrofe. Há sempre o perigo de uma fratura.
     A gente é velho quando é objeto de humilhações bondosas. Como aquela que aconteceu comigo 25 anos atrás. O metrô estava cheio. Jovem, segurei-me num balaústre. Notei então que uma jovem de uns 25 anos me olhava com um olhar amoroso. Olhei para ela. E houve um momento de suspensão romântica. Minha cabeça e meu coração se alegraram. Até o momento em que ela se levantou com um sorriso e me ofereceu o seu lugar. Foi um gesto de bondade. Com o seu gesto ela me dizia: "O senhor me traz memórias ternas do meu avô..."
     A gente é velho quando entra no box do chuveiro com passos medrosos e cuidadosos. Há sempre o perigo de um escorregão. Por via das dúvidas, mandei instalar no box da minha casa uma daquelas barras metálicas horizontais que funcionam como corrimão.
    A gente é velho quando começa a ter medo dos tapetes. Os tapetes são perigosos de duas maneiras. Há os pequenos tapetes de fundo liso, que escorregam. E há os grandes tapetes que ficam com as pontas levantadas e que fazem ondas. O pé dos velhos movimenta-se no arrasto e tropeça na ponta levantada do tapete ou na armadilha da onda.
     A gente é velho quando começa a ter medo dos fotógrafos. Fugir das fotos de perfil porque nelas as barbelas de nelore aparecem. Nelore é um boi branco. Os pastos estão cheios deles, vivos, e as mesas também, sob o disfarce de bifes. E eles têm uma papada balançante, as barbelas, que vai da ponta do queixo (boi tem queixo?) até o peito. Velhice é quando as barbelas de nelore começam a aparecer. Aí vem a humilhação conclusiva. Prontas as fotos, eles nos mostram e dizem: "Como você está bem!"
    A gente é velho quando, tendo de subir ao palco para dar uma palestra, tem sempre uma jovem simpática que nos oferece a mão, temendo que a gente se desequilibre e caia. A gente aceita o oferecimento com um sorriso. Nunca se sabe...
    A gente é velho quando perde a vergonha e se desnuda fazendo as confissões que acabei de fazer... 


Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff3010200704.htm Acesso em: 27 ago. 2016 

A vírgula está empregada corretamente, EXCETO em:

Alternativas
Comentários
  • Os sinais de pontuação desempenham portentoso papel na frase, tendo em vista que facilitam a compreensão do discurso escrito, além de contribuir significativamente para a clareza do texto. Há uma miríade deles, dentre os quais se destacam: vírgula, pontos de exclamação e interrogação, dois-pontos, ponto e vírgula, aspas, travessão e parêntesis.

    Inspecionemos cada alternativa a fim de encontrar alguma em que há indevido uso de vírgula:

    a) As opiniões contrárias às minhas, devem ser ditas somente em particular.

    Incorreto. A vírgula é um obstáculo entre o sujeito (as opiniões contrárias às minhas) e o predicado (devem ser ditas somente em particular);

    b) Depois de meia noite, todos ficam receosos de sair sozinhos naquele bairro.

    Correto. O segmento "depois da meia-noite", é um adjunto adverbial que pode ou não ser virgulado, tendo em vista a extensão e posição dentro da estrutura;

    c) Eu, Maria Antônia, gostaria de pedir licença para falar.

    Correto. O nome "Maria Antônia" especifica quem é o "eu" anteriormente expresso, ou seja, funciona como uma aposto explicativo, sempre cerceado por vírgula;

    d) Todas as alunas, com exceção das que estão de uniforme azul, irão participar da dança.

    Correto. Todo o segmento entre vírgulas é uma estrutura indicativa de circunstância e deve estar virgulada.

    Letra A

  • Na letra A, é possível perceber não só erro de pontuação, mas também o emprego facultativo de crase. Em se tratando da pontuação, nota-se que houve separação entre sujeito e verbo. Por sua vez, a crase diante de pronomes possessivos não é obrigatória, porém devemos ficar atento à flexão número ao empregá-la.

  • As opiniões contrárias às minhas, devem ser ditas somente em particular.

    Sujeito Verbo

    Ordem direta: Sujeito --- verbo --- complemento

    ✔ Quando essa sequência é respeitada, não se coloca vírgula alguma. Então, resumidamente, não se separa por vírgula sujeito e predicado, nem verbo e complemento.

  • GAB. A

    NÃO SE SEPARA SUJEITO DO VERBO.

    As opiniões contrárias às minhas, devem ser ditas somente em particular.

  • GAB: A

    NÃO SE SEPARA SUJEITO DO VERBO.

    As opiniões contrárias às MINHAS(sujeito), DEVEM(verbo) ser ditas somente em particular.

    obs: SIGO DE VOLTA NO INSTA "carolrocha17" S2.. Tô sempre postando motivação nos storys