NOSSO TEMPO
(...)
V
Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa,
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso.
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida,
mais tarde será o de amor.
Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem.
O esplêndido negócio insinua-se no tráfego.
Multidões que o cruzam não veem. É sem cor e sem cheiro.
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul,
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões,
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, Poesia completa.
Considere as seguintes afirmações sobre o texto:
I A expressão “num passe” (verso 2) exprime noção de tempo.
II Segundo o poeta, “na hora formidável do almoço”, ocorrem os movimentos de fluxo e
refluxo, expressos, respectivamente, por “esvaziam-se” e “se recuperam”.
III O último verso contém dois verbos no imperativo (“toma” e “extrai”), por meio dos quais o
poeta se dirige ao leitor.
Está correto apenas o que se afirma em