SóProvas


ID
4068643
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de São José dos Campos - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um pouco de gentileza

    Pessoas bem educadas pedem “por favor”. A ideia prática por trás da polidez sempre foi esta: se você pede com bons modos, tem mais chance de conseguir o que quer. Funcionava.

    Em algum momento, que não consigo localizar no tempo exato da minha vivência, mas calculo que tenha sido pela metade dos anos 1960, o desrespeito, e logo a grosseria, e daí a pouco a arrogância, e já, já a truculência, contrabandeados para a vida civil e aprendidos em culturas de fora, instalaram-se nos modos do morador civilizado das nossas cidades, aquele que dava lugar no bonde às senhoras e aos mais velhos, dizia “bom dia” aos que passavam, pedia licença, não economizava o “por favor”, deixava entrar primeiro as damas, abria a porta do carro para a namorada, e tantas gentilezas extintas ou em extinção.

    Noto, circulando pela cidade, que há sinais de amabilidade por aí, uma cordialidade escrita. Pedidos e avisos delicados, dirigidos aos cidadãos passantes. Pode ser uma retomada, por que não?

    Uma placa bem no centro do muro do estacionamento de uma farmácia na Pompeia: “Este estabelecimento cuida da sua saúde, portanto o aspecto de limpeza é muito importante. Por favor, não piche. Contamos com a sua colaboração”. O muro tem estado limpo de rabiscos nestes dois anos em que venho andando por lá a caminho da hidroginástica.

    Há quem junte humor e ironia ao pedido, sem perder a delicadeza. Em uma aréola na Pompeia (Sabem o que é uma aréola? Pois aprendi que o pequeno ajardinado que circula o pé das árvores nas calçadas se chama aréola. Quem terá posto nome tão delicado quanto apropriado ao jardinzinho?), então, eu dizia, em uma aréola na Pompeia, encontro fincada uma plaquinha com os dizeres: “Senhor Cão, favor não fazer suas necessidades neste local”.

    Bem perto dali, em um ajardinado que contorna um poste, fincaram um repique* com nova dose de humor: “Senhor Cão, favor não deixar seu dono fazer xixi aqui”.

    Quem mora perto de boteco, sabe que não é fácil a convivência. Reclamações resultam inúteis. Quando a iniciativa de serenar os alegrados fregueses parte dos donos, e num tom amável, o resultado é melhor. Está dando certo em um boteco de Belo Horizonte, onde se lê: “Pedimos a colaboração dos frequentadores quanto às palmas, à cantoria etc. para não termos problemas com a vizinhança”.

    Em um posto de gasolina no Pari: “Senhor ladrão, favor passar outra hora. Seu colega já levou tudo”. Será que adianta? Até quem tem mais de 100 anos e boa memória se lembra do aviso nas casas do pequeno comércio de bairro: “Fiado, só amanhã”. Achávamos graça nessa habilidade com as palavras.

    Até nas estradas, lugar de bravatas e desafios, encontro pacíficos. Em um automóvel em Itaboraí, no Rio de Janeiro: “Calma... Eu sou 1000 e ando a gás...”.

(http://vejasp.abril.com.br/materia/ivan-angelo-um-pouco-degentileza-cronica. Publicado em 12.02.2016. Adaptado)

*repique: advertência, aviso

No quinto parágrafo, ao afirmar “então, eu dizia”, o autor

Alternativas
Comentários
  • GABARITO - D

    ele retoma ao que estava dizendo. Um dos usos dos parênteses é incluir informações de ordem explicativa.

    Perceba que ele inicia o período, mas em determinado momento o interrompe para incluir informações de ordem explicativa. (fala sobre aréola). logo após incluir as informações, retoma ao que estava dizendo.

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    Há quem junte humor e ironia ao pedido, sem perder a delicadeza. Em uma aréola na Pompeia (Sabem o que é uma aréola? Pois aprendi que o pequeno ajardinado que circula o pé das árvores nas calçadas se chama aréola. Quem terá posto nome tão delicado quanto apropriado ao jardinzinho?), então, eu dizia, em uma aréola na Pompeia, encontro fincada uma plaquinha com os dizeres: “Senhor , favor não fazer suas necessidades neste local”.

  • retoma ideia iniciada anteriormente, ele começou falando sobre um determinado assunto, desfocou do assunto principal e ,por fim, retomou o assunto

    Outro exemplo: Eu gosto muito do site q concursos mesmo ele tendo problemas com questões repetidas. Afinal, por que será que ele tem tantas questões repetidas? Então, retomando o assunto, eu amo este site.

  • A questão requer interpretação textual, em que, a partir da leitura do texto, é possível chegar a uma conclusão.

    Alternativa (A) incorreta – Ele não demonstra hesitação, ou seja, estado de indecisão, embaraço ao relatar os fatos; ao contrário, ele demonstra convicção na sua fala.

    Alternativa (B) incorreta – Ele esclarece o termo entre parênteses, sinais de pontuação usados para intercalar dados acessórios, tais como, dados explicativos.


    Alternativa (C) incorreta – Ele não retifica, ou seja, ele não corrige a sua opinião a respeito dos jardins, ele apenas continua a fala dele.

    Alternativa (D) correta – Ele interrompe seu raciocínio, explicando o significado da palavra “
    aréola", explicação essa que vem entre parênteses. Logo após, ele retoma aquilo que iniciara antes da explicação e, para retomar seu raciocínio, ele faz uso da expressão “então, eu dizia", como se fosse um chamamento ao/a leitor(a) para não esquecer o assunto mencionado.

    Alternativa (E) incorreta – A expressão “então, eu dizia" serviu para retomar o que ele estava dizendo. Pode-se dizer que a ironia foi ressaltada pelas próprias palavras escritas na plaquinha.


    Gabarito da professora: Alternativa D.

  • ficou esquisito esses parênteses. Normalmente ao retirá-los não muda o entendimento da oração. Mas nesse caso ficou redundante.