SóProvas


ID
4138618
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Manhumirim - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Entre os mundos real e virtual

     Ninguém precisa mais se preocupar em invadir a nossa privacidade. Nós nos expomos em rede global.

           Nosso mundo pós-moderno é fragmentado. Uma de suas expressões mais evidentes é o videoclipe. Enxurrada de flashes, vibrações acústicas, sons distorcidos. Rompe-se a linearidade, enquanto a simultaneidade embaralha passado, presente e futuro. Tudo é simuladamente aqui e agora.
         O Iluminismo, ancorado na literatura, cede lugar à digitalização frenética. Mundo que carece de sentido. Forma que dispensa conteúdo. A performance do artista ultrapassa a arte que ele produz. Seu nome vale mais que seu desempenho. A valoração dá lugar à exaltação.
          Einstein, que desnudou o mistério do Universo com suas equações, foi sucedido por Steve Jobs, que nos ofereceu maravilhas tecnológicas embaladas de refinamento estético, movidas a velocidade que desafia o cérebro humano.
        Agora a alienação já não resulta de ideologias que distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade. Basta que sejamos deslocados do real para o virtual. Somos seres que trafegam simultaneamente em dois mundos: o da realidade de nossas necessidades e o da virtualidade de nossos sonhos e desejos.
       Trancados em nossos egos, avessos à sociabilidade, navegamos nas redes sociais que dispensam texto e contexto. Bastam vocábulos desconexos, abreviações, o balbuciar de sinais gráficos que nos conectam com a plateia global que, acomodada no teatro do mundo, desconectada do real, mantém os olhos fixos no palco vazio.
     As grandes narrativas são deletadas por esse tempo desprovido de memória e utopia. O passado passou, o futuro é uma quimera... Só resta o presente que se sucede prisioneiro da circularidade infinita.
      Ninguém ingressa em uma casa sem antes avisar ou ser convidado, marcar hora, identificar-se com o porteiro e justificar a espera e atenção.
       No entanto, centenas de pessoas invadem, pelas redes sociais, o nosso espaço privado, ferem a nossa sensibilidade com ofensas e desaforos, desafiam os nossos valores, jogam-nos na vala comum das emoções cifradas. Tudo se assemelha a um jogo de pingue-pongue com rede, porém sem mesa.
    Viciados em digitalização, aprisionados pela tecnologia que assegura retorno imediato ao capital, perdemos horas e horas da vida atirados ao ringue onomatopaico. Não navegamos, naufragamos. Deixamo-nos aprisionar pelas redes que nos favorecem a evasão de privacidade.
        Ora, ninguém precisa mais se preocupar em invadir a nossa privacidade. Nós mesmos nos expomos em rede global, arrancamos máscaras e roupas, escancaramos nossa indigência cultural e nossa miséria espiritual.
     Como artefato tecnológico, somos também apenas uma forma. Um objeto jogado aleatoriamente no turbulento mar da dessignificação.
     Escravos da virtualidade, acorrentados nas redes, não somos mais capazes de desligar o celular e de nos desligar dele. É ele que nos permite olhar o mundo pela janelinha eletrônica dessa prisão em que nos trancamos, cuja chave jogamos nas águas que cercam a ilha na qual nos isolamos, desprovidos de alteridade e sentido.

(Frei Betto. O Globo, 10/08/2015.) 

Quanto às estratégias de referenciação, pode-se afirmar que referentes já existentes podem ser modificados ou expandidos de acordo com as informações textuais apresentadas. Dentre os termos (expressões) destacados a seguir, pode-se indicar como elementos anafóricos, de papel relevante na construção da coesão e coerência textuais, EXCETO:

Alternativas
Comentários
  • Nas alternativas A,B e C temos Pronomes Pessoais, Relativos, contrações de preposição com pronomes pessoais. Esses Pronomes indicados nas alternativas têm papel anafórico, exceto a alternativa D que é advérbio de tempo.

  • GABARITO - D

    a) dele - o Celular

    b) - a ilha

    c) ele - O artista

    Bons estudos!

  • Coesão é o conjunto de mecanismos linguísticos por meio dos quais se integram as partes de um texto. Essa integração pode ocorrer com o emprego de conectores (preposições, conjunções, advérbios) ou com a referenciação , a reiteração, a substituição de palavras e a elipse. 

    Referência

    Pessoal: utilização de pronomes pessoais e possessivos. Exemplo: João Maria casaram. Eles são pais de Ana e Beto. (Referência pessoal anafórica)

     Demonstrativa: utilização de pronomes demonstrativos e advérbios. Exemplo: Fiz todas as tarefas, com exceção desta: arquivar a correspondência. (Referência demonstrativa catafórica)

    Comparativa: utilização de comparações através   

    de semelhanças Exemplo: Mais um dia igual aos outros… (Referência comparativa endofórica)

    Observe essa frase:

    Contratei quatro pedreiros; eles vieram esta manhã para orçar o serviço. 

    - Nessa frase, verificamos o uso da forma pronominal "eles" (terceira pessoa do plural) e a flexão verbal "vieram". A forma "eles vieram" faz referência a outro elemento, presente na primeira oração (Contratei quatro pedreiros). Sabemos que a forma pronominal "eles" faz referência 

    ao termo "quatro pedreiros".

    - A esse processo de sequenciação que assegura (ou torna recuperável) uma ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual damos o nome de Coesão textual.

  • Termo anafórico: Retoma uma ideia ou palavra já utilizada.

    O texto quer o termo que NÃO retoma uma ideia ou palavra e neste caso o único termo que não se referencia a nada é o da alternativa D.

  • A questão é sobre coesão textual e quer saber, dentre os termos (expressões) destacados abaixo, qual NÃO podemos indicar como elementos anafóricos, de papel relevante na construção da coesão e coerência textuais. Vejamos: 

     .

    Anáfora: retoma algo que já foi dito. Ex.: Português e Direito Constitucional: essas são as matérias mais cobradas em concurso.

    Catáfora: apresenta algo que ainda não foi dito. Ex.: Eu pretendo fazer isto: resolver mais questões.

     .

    A) “não somos mais capazes de desligar o celular e de nos desligar dele” (12º§)

    Certo. Aqui há uma referência anafórica: o pronome "dele" retoma "o celular".

     .

    B) “a ilha na qual nos isolamos” (12º§)

    Certo. Aqui há uma referência anafórica: "na qual" (preposição "em" + pronome "a qual) retoma "a ilha".

     .

    C) “A performance do artista ultrapassa a arte que ele produz” (2º§)

    Certo. Aqui há uma referência anafórica: o pronome "ele" retoma "o artista".

     .

    D) “Tudo é simuladamente aqui e agora” (1º§)

    Errado. Aqui não há referência anafórica. "Aqui e agora" (advérbios) não retomam nada.

     .

    Gabarito: Letra D

  • A) Anafórico (Endofórica)

    B) Anafórico (Endofórica)

    C) Anafórico (Endofórica)

    D) Exofórica, ou função dêitica: Palavras ou marcações gramaticais usadas para fazer referência a algo no contexto do enunciado ou do falante.