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ID
4164436
Banca
IDECAN
Órgão
CREF - 5ª Região
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A arte de ser avó 

    Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...
    E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é “devolvido”. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração. 
    Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
    No entanto – no entanto! – nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do garoto. Não importa que ela, hipocritamente, ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de “vovozinha”, e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.
    Já a avó, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, “não ralha nunca”. Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café – café! –, mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser. Riscar a parede com o lápis dizendo que foi sem querer – e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó, e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna...
    E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade... 
    Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho – involuntariamente! – bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague...

(QUEIROZ, Rachel. – Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 – Texto adaptado.)

“Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice.” (3º§) O excerto anterior contém um exemplo de

Alternativas
Comentários
  • A questão em tela trata do assunto uso das linguagens e quer saber qual alternativa traz um conceito ocorrido na frase abaixo. Vejamos:

    “Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice.”

    a) coesão referencial.

    Incorreta. Usa-se essa técnica para se evitar repetições. Essa marca não é característica da frase acima.

    Ex: João sorriu.  Ele  gosta de ser agraciado. (Veja que foi usado o pronome "ele" para não repetir "João".)

    b) linguagem conotativa.

    Correta. Vejam que ao dizer "que a vida os dá os netos" não é a vida que dá os netos e sim o seu próprio filho. Ao dizer " mutilações trazidas pela velhice", ele quer dizer em tantas coisas ruins ou cansativas que a velhice traz, uma coisa é boa os netos. Assim podemos cactérizar a linguagem conotativa como uma forma de dizer algo a mais com outras palavras.

    c) linguagem denotativa.

    Incorreta. A função denotativa faz uso da linguagem do dicionário, ela diz aquilo que é sem estender o sentido.

    d) erro de regência nominal.

    Incorreta. Não há erro de regência nominal, contudo vale falar sobre o principal caso que poderia confundir. Vejamos: "certeza de que a vida" , o nome "certeza" rege a preposição "de" para dar início ao seu complemento nominal.

    GABARITO: B

  • "Nos compensar DE"??

  • entendi não

  • GABARITO - B

    Conotativa - Figurada

    Denotativa - Real / Dicionário

    a vida nosos netos 

    Não é a vida que dá os netos.

    Leiam o comentário do Diogo, meu amigo, está bem bacana!

  • Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice.”

    a) coesão referencial.

    Incorreta. Usa-se essa técnica para se evitar repetições. Essa marca não é característica da frase acima.

    Ex: João sorriu.  Ele gosta de ser agraciado. (Veja que foi usado o pronome "ele" para não repetir "João".)

    b) linguagem conotativa.

    Correta. Vejam que ao dizer "que a vida os dá os netos" não é a vida que dá os netos e sim o seu próprio filho. Ao dizer " mutilações trazidas pela velhice", ele quer dizer em tantas coisas ruins ou cansativas que a velhice traz, uma coisa é boa os netos. Assim podemos cactérizar a linguagem conotativa como uma forma de dizer algo a mais com outras palavras.

    c) linguagem denotativa.

    Incorreta. A função denotativa faz uso da linguagem do dicionário, ela diz aquilo que é sem estender o sentido.

    d) erro de regência nominal.

    Incorreta. Não há erro de regência nominal, contudo vale falar sobre o principal caso que poderia confundir. Vejamos: "certeza de que a vida" , o nome "certeza" rege a preposição "de" para dar início ao seu complemento nominal.

    GABARITO: B

  • Memorizo assim:

    Conotativa = Com mentirinhas

    Denotativa = É verdade, Deu no rádio - Didi Mocó

  • DEnotativa= DE verdade.

  • Denotação

    Uma palavra é usada no sentido denotativo quando apresenta seu significado original independentemente do contexto em que aparece.

     Conotação

    Uma palavra é usada no sentido conotativo quando apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes interpretações, dependendo do contexto em que esteja inserida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que vão além do sentido original da palavra, ampliando sua significação mediante a circunstância em que a mesma é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbólico.

    “Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice.” (3º§) O excerto anterior contém um exemplo de conotação

    * Dica: Procure associar Denotação com Dicionário: trata-se de definição literal, quando o termo é utilizado com o sentido que consta no dicionário.

  • Recurso bobo, mas eficiente para não trocar os significados de CONOTATIVO (CONto de fadas, CONta outra) e DENOTATIVO (DE verdade)

  • Típico exemplo de questão que traz o "universo" para dois quesitos ( letra B e letra C). percebam que a resposta, apenas poderia ser uma das duas alternativas. Pensem assim, pode ajudar bastante em alguns casos.
  • Galera, um bizu

    Linguagem conotativa -> Lembrar dos CONtos de fadas

    Linguagem Denotativa -> Dicionário.

  • Muitos comentários sem explicar o motivo do gabarito ser a alternativa "B".

    Linguagem Conotativa: É o sentido figurado, emprega um novo sentido.

    Linguagem Denotativa: É o sentido literal.

     "a vida nos dá os netos",

    Quem dá os netos são os próprios filhos, entretanto, na vida dos avós surgem os netos que lhes são fruto dos relacionamentos oriundo dos filhos.

  • sentindo conotativo = algo figurado e subjetivo. ex: "a vida nos dá os netos" ( a vida não dá, os filhos os geram )

    sentido denotativo = algo literal, real e objetivo. ex: " neto é realmente o sangue do seu sangue "

  • Linguagem Conotativa: uma forma de dizer algo a mais com outras palavras.

    Linguagem Denotativa: (Dicionário)