SóProvas


ID
4172554
Banca
FUMARC
Órgão
Prefeitura de Carneirinho - MG
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

UM EXEMPLO 

Sírio Possenti 

Publicado em 25 de novembro de 2016

Ref.: https://blogdosirioblog.wordpress.com/ [adaptado] 


    Uma amiga mexicana me mandou uma imagem: dois homens de terno (o terno indica uma classe social que não é a popular) conversam. Um diz: – Me corrigieran “Ler”. O outro responde: – No lo puedo “Crer”. 
    Não me dei conta, imediatamente, do que estava em jogo (tratando-se de outra língua, a presteza nunca é muito grande). Perguntei detalhes (não vou me imolar aqui…). Ela me deu o contexto, que é o seguinte: 
    Um Secretário de Instrución Pública falava a um grupo de alunos em uma escola e os incentivava a “ler” (ele disse “ler” mais de uma vez). Ao final, uma menina o chamou de lado e lhe informou que não se diz “ler”, “pero ‘leer’”. Ele achou graça, elogiou a aluna etc.
    Depois disso é que surgiu a piada narrada no primeiro parágrafo, uma montagem. A graça está no fato de que, na resposta (no lo puedo “crer”), ocorre o mesmo fenômeno que ocorre em “ler”. 
    Que é o seguinte: em espanhol “culto”, as formas do infinitivo destes dois verbos são “leer” e “creer”. O fato de o Secretário dizer “ler” indica, evidentemente, que esta pronúncia está desaparecendo: “ler” e “crer”.
    Observe-se que o fenômeno ocorre nos dois casos, o que favorece a tese dos sociolinguistas que defendem que, nos mesmos contextos, ocorrem as mesmas variações (ou mudanças).
    Observe-se, também, que esta mudança em curso no espanhol (do México, pelo menos), como o indica a fala do secretário, e depois, a montagem com “crer”, já ocorreu no português.
    Mesmo quem não conhece linguística histórica ou não tem um manual que descreva as mudanças ocorridas pode ver o registro em dicionários como o Houaiss, que fornece uma etimologia mínima (eu grifo leer e creer): 
    ler: cf. esp. leer, it. lèggere, fr. lire; ver le- e leg- e as remissivas aí citadas; f.hist. 1258-1261 leer, sXIII liia, sXIII leer, sXIV leendo, sXIV lyi, sXV le, sXV leese, sXV lia
    crer: pelo lat. vulg. *credére > port. arc. creer; ver cred-; f.hist. sXIII creer, sXIII creo, sXIV creyo, sXV crer, sXV creio

    O fato histórico pode ser atestado. E a variação no espanhol deve ser bem óbvia, pelo menos para muitos falantes. Se não fosse, a piada não funcionaria (como não funcionou comigo). 
    Observe-se, também, por muito relevante, que uma aluna de uma escola modesta aprendeu que se deve dizer “leer”.
   É um fato conhecido que instituições diversas (a escola, a imprensa, a própria escrita) retardam mudanças linguísticas. Pode-se apostar que, se essas instituições não existissem, ou se sua política fosse outra, ninguém mais saberia que as formas verbais em questão são (?) “leer” e “creer”. Aliás, para os falantes menos letrados, e mesmo para letrados em situação informal, já não são essas. 
    A piada seria impossível.
    O que seria lamentável. 

Considere as afirmativas abaixo:

I. No enunciado “Não me dei conta, imediatamente, do que estava em jogo (tratando-se de outra língua, a presteza nunca é muito grande).”, os parênteses foram utilizados para marcar um comentário do autor sobre o enunciado anterior a eles. O mesmo segmento poderia ter sido marcado por meio de travessão.
II. Em “É um fato conhecido que instituições diversas (a escola, a imprensa, a própria escrita)”, os parênteses foram utilizados para isolar um segmento explicativo. O mesmo segmento poderia ter sido isolado por meio de travessões.
III. Na passagem “O fato histórico pode ser atestado. E a variação no espanhol deve ser bem óbvia, pelo menos para muitos falantes. Se não fosse, a piada não funcionaria (como não funcionou comigo).”, o enunciado entre parênteses poderia ser suprimido sem alterar os sentidos do texto.


Está CORRETO o que se afirma em: 

Alternativas
Comentários
  • não entendi o erro da 3

  • não entendi o erro da 3

  • vim nos comentários em busca de explicação e ninguém ta sabendo kkkkrying

  • O erro da 3 está no fato de que a supressão do enunciado no parágrafo alteraria o sentido do texto. No texto original, o autor explica que a piada não funcionou com ele, e com a alteração do texto (supressão do enunciado ), não há essa explicação do autor, e assim alterando o sentido.

  • Não sei porque a 3 está errada, nesse trecho:

    Não me dei conta, imediatamente, do que estava em jogo (tratando-se de outra língua, a presteza nunca é muito grande). Perguntei detalhes (não vou me imolar aqui…). Ela me deu o contexto, que é o seguinte: 

    O autor já reconhece que não entendeu a piada, afinal ele assume que a amiga mexicana precisou explicar a piada. "Ela me deu o contexto.." e depois parte para explicá-lo.

  • Preparem-se para os recursos depois da prova da PCMG... oremoss

  • hehehelp

  • A meu ver o erro da questão 3 está errada pelo fato de se vc suprimir os parênteses da frase ela passará de Oração Subordinada Explicativa para Oração Subordinada restritiva.

    Esse tipo de mudança não gera erro gramatical mas altera o sentido da frase

    Explicativas: acrescentam uma qualidade acessória ao antecedente e são separadas da oração principal por vírgulas.

    Ex: Os jogadores de futebol, que são iniciantes, não recebem salários.

    Restritivas: restringem o significado do antecedente e não são separadas da oração principal por vírgulas.

    Ex: Os artistas que declararam seu voto foram criticados.

  • O travessão é um sinal de pontuação representado por um traço na horizontal (–) maior que o hífen e que tem como finalidade indicar o discurso direto ou enfatizar trechos intercalados de textos, substituindo o papel da vírgula. Assim, para inserir uma explicitação de um enunciado anterior, pode-se também empregar travessões, portanto está correta a afirmativa em I. Em II, também se aplica o emprego dos travessões. Em III, a retirada dos parênteses alteraria os sentidos: "Se não fosse, a piada não funcionaria como não funcionou comigo", pois estabeleceria sentido comparativo e não como acréscimo de informação, como é ressaltado nos parênteses.

  • O parentes da 2 eu entendo que é enumerativo e não explicativo, porém se é o entendimento da banca, segue o jogo e eu que me atente para questões assim!

  • Eu entendo que o erro da 3 é que, assim como na 1, os parêntesis foram usados para marcar um comentário do autor. Assim não dá para retirar sem alterar o sentido de texto como um todo e não só da frase.