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ID
4177
Banca
FCC
Órgão
TRT - 20ª REGIÃO (SE)
Ano
2006
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: As questões de números 1 a 10 referem-se ao texto
seguinte.

Caso de injustiça

Quando adolescente, o poeta Carlos Drummond de
Andrade foi expulso do colégio onde estudava. A razão alegada:
"insubordinação mental". O fato: o jovem ganhara uma nota
muito alta numa redação de Português, mas o professor, ao lhe
devolver o texto avaliado, disse-lhe que ele talvez não a
merecesse. O rapaz insistiu, então, para que lhe fosse atribuída
uma nota conforme seu merecimento. O caso foi levado ao
diretor da escola, que optou pela medida extrema. Confessa o
poeta que esse incidente da juventude levou-o a desacreditar
por completo, e em definitivo, da justiça dos homens.
Está evidente que a tal da "insubordinação mental" do
rapaz não foi um desrespeito, mas uma reação legítima à
restrição estapafúrdia do professor quanto ao mérito que este
mesmo, livremente, já consignara. O mestre agiu com a
pequenez dos falsos benevolentes, que gostam de transformar
em favor pessoal o reconhecimento do mérito alheio.
Protestando contra isso, movido por justa indignação, o jovem
discípulo deu ao mestre uma clara lição de ética: reclamou pelo
que era o mais justo. Em vez de envergonhar-se, o professor
respondeu com a truculência dos autoritários, que é o reduto da
falta de razão. E acabou expondo o seu aluno à experiência
corrosiva da injustiça, que gera ceticismo e ressentimento.
A "insubordinação mental", nesse caso, bem poderia ter
sido entendida como uma legítima manifestação de amorpróprio,
que não pode e não deve subordinar-se à
agressividade dos caprichos alheios. Além disso, aquela
expressão deixa subentendido o mérito que haveria numa
"subordinação mental", ou seja, na completa rendição de uma
consciência a outra. O que se pode esperar de quem se rege
pela cartilha da completa subserviência moral e intelectual? Não
foi contra esta que o jovem se rebelou? Por que aceitaria ele
deixar-se premiar por uma nota alta a que não fizesse jus?
Muitas vezes um fato que parece ser menor ganha uma
enorme proporção. Todos já sentimos, nos detalhes de situações
supostamente irrelevantes, o peso de uma grande injustiça.
A questão do que é ou do que não é justo, longe de ser
tão-somente um problema dos filósofos ou dos juristas, traduzse
nas experiências mais rotineiras. O caso do jovem poeta
ilustra bem esse gosto amargo que fica em nossa boca, cada
vez que somos punidos por invocar o princípio ético da justiça.

(Saulo de Albuquerque)

Está inteiramente correta a pontuação da frase:

Alternativas
Comentários
  • Tentando corrigir as demais:

    a) Nesse caso, a suposta "insubordinação mental" do jovem bem poderia ter sido entendida como, de fato, uma legítima manifestação de seu amor-próprio.

    b) Esse mestre de português do jovem Drummond acabou por lhe dar, em vez de uma nota alta, uma lição inesquecível de injustiça.

    c) Houve grande dignidade na reação do jovem quando, descontente com a fala do professor, insurgiu-se contra o mestre.

    e) A medida extrema da expulsão foi, segundo Drummond, decisiva para que ele, a partir de então, deixasse de crer na justiça dos homens.
  • Vi essa dica em um comentário acima, vou postar aqui, pois é excelente.

    "Dica: quando um termo  vem entre duas vírgulas retira-se  o termo ente, vírgulas.   Caso  o  restante da  frase que sobrou  tenha sentido completo (sem aquele termo retirado) a vírgula  ou vírgulas estão empregadas corretamente!!"

    É exatamente isso que vemos aqui:

    A questão do que é ou do que não é justo não constitui, exclusivamente, um problema dos filósofos ou juristas, pois concerne à prática de todos.

    A questão do que é ou do que não é justo não constitui, um problema dos filósofos ou juristas, pois concerne à prática de todos.

    Ao tirarmos o termo que estava entre às vírgulas, a frase continua tendo sentido.