SóProvas


ID
423052
Banca
FCC
Órgão
INFRAERO
Ano
2009
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O primeiro voo

Mais do que um marinheiro de primeira viagem, o passageiro de primeiro voo leva consigo os instintos e os medos primitivos de uma espécie criada para andar sobre a terra. As águas podem ser vistas como extensão horizontal de caminhos, que se exploram pouco a pouco: aprende-se a nadar e a navegar a partir da segurança de uma borda, arrostando-se gradualmente os perigos. Mas um voo é coisa mais séria: há o desafio radical da subida, do completo desligamento da superfície do planeta, e há o momento crucial do retorno, da reconciliação com o solo. Se a rotina das viagens aéreas banalizou essas operações, nem por isso o passageiro de primeira viagem deixa de experimentar as emoções de um heróico pioneiro.

Tudo começa pelo aprendizado dos procedimentos iniciais. O novato pode confundir bilhete com cartão de embarque, ignora as siglas das placas e monitores do aeroporto, atordoa-se com os avisos e as chamadas da locutora invisível. Já de frente para a escada do avião, estima, incrédulo, quantas toneladas de aço deverão flutuar a quilômetros de altura - com ele dentro. Localizada a poltrona, afivelado o cinto com mãos trêmulas, acompanha com extrema atenção as estudadas instruções da bela comissária, até perceber que ele é a única testemunha da apresentação: os demais passageiros (maleducados!) leem jornal ou conversam. Quando enfim os motores, já na cabeceira da pista, aceleram para subir e arrancam a plena potência, ele se segura nos braços da poltrona e seu corpo se retesa na posição seja-o-que-Deusquiser.

Atravessadas as nuvens, encanta-se com o firmamento azul e não tira os olhos da janela - até perceber que é um embevecido solitário. Alguns buscam cochilo, outros conversam animadamente, todos ignoram o milagre. Pouco a pouco, nosso pioneiro vai assimilando a rotina do voo, degusta o lanche com o prazer de um menino diante da merenda, depois prepara-se para o pouso na mesma posição que assumira na decolagem. Tudo consumado, resta-lhe descer a escada, bater os pés no chão da pista e convencer-se de que o homem é um bicho estranho, destinado a imaginar o irrealizável só pelo gosto de vir a realizá-lo. Nos voos seguintes, lerá jornal, cochilará e pouco olhará pela janela, que dá para o firmamento azul.

(Firmino Alves, inédito)

Está correto o emprego do elemento sublinhado na frase:

Alternativas
Comentários
  • a) A expressão menino diante da merenda atesta de que há um prazer algo ingênuo e infantil no passageiro de primeiro voo.O verbo ATESTAR é transitivo direito, portanto, não exige nenhuma preposição.


    b) Diante do avião, em cujo avulta a gigantesca estrutura de aço, o passageiro demonstra sua preocupação e incredulidade.

    O pronome relativo CUJO não se adequa à frase.Seria correto ( em que avulta)


    • c) Ao se valer da expressão Tudo consumado, em cujo grave sentido se manifesta na Bíblia, o autor reveste de solenidade o final do voo.
    • Não há na frase termo que exija a preposição (em). Seria correto (cujo grave sentido)

    • d) O passageiro novato, na aterrissagem, assumiu a mesma posição defensiva a que recorrera na decolagem.
    • O verbo RECORRER é transitivo indireto, por este motivo exige a preposição (a). Portanto, alternativa CORRETA.

    • e) O homem é um bicho de quem a natureza imprimiu uma obsessiva necessidade de sonhar alto.
    • O verbo IMPRIMIR é transitivo indireto, mas exige a preposição (a), diferente da que é usada.

  • Discordo de Augusto Araújo;

    e) O homem é um bicho de quem a natureza imprimiu(o que?= VTD) uma obsessiva necessidade de sonhar alto. O verbo IMPRIMIR é VTD, NÃO exige a preposição DE.

    Exemplo: Imprimir(o que?= VTD) os passos na areia úmida(OD).