SóProvas


ID
4867627
Banca
CONTEMAX
Órgão
Prefeitura de Orobó - PE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O Líder


O sono do líder é agitado. A mulher sacode-o até acordá-lo do pesadelo. Estremunhado, ele se levanta, bebe um gole de água. Diante do espelho refaz uma expressão de homem de meia-idade, alisa os cabelos das têmporas, volta a se deitar. Adormece e a agitação recomeça. “Não, não!” debate-se ele com a garganta seca.

O líder se assusta enquanto dorme. O povo ameaça o líder? Não, pois se líder é aquele que guia o povo exatamente porque aderiu ao povo. O povo ameaça o líder? Não, pois se o povo escolheu o líder. O povo ameaça o líder? Não, pois o líder cuida do povo. O povo ameaça o líder?

Sim, o povo ameaça o líder do povo. O líder revolve-se na cama. De noite ele tem medo. Mas o pesadelo é um pesadelo sem história. De noite, de olhos fechados, vê caras quietas, uma cara atrás da outra. E nenhuma expressão nas caras. É só este o pesadelo, apenas isso. Mas cada noite, mal adormece, mais caras quietas vão se reunindo às outras, como na fotografia de uma multidão em silêncio. Por quem é este silêncio? Pelo líder. É uma sucessão de caras iguais como na repetição monótona de um rosto só. Nas caras não há senão a inexpressão. A inexpressão ampliada como em fotografia ampliada. Um painel e cada vez com maior número de caras iguais. É só isso. Mas o líder se cobre de suor diante da visão inócua de milhares de olhos vazios que não pestanejam. Durante o dia o discurso do líder é cada vez mais longo, ele adia cada vez mais o instante da chave de ouro. Ultimamente ataca, denuncia, denuncia, denuncia, esbraveja e quando, em apoteose, termina, vai para o banheiro, fecha a porta e, uma vez sozinho, encosta-se à porta fechada, enxuga a testa molhada com o lenço. Mas tem sido inútil. De noite é sempre maior o número silencioso. Cada noite as caras aproximam-se um pouco mais. Cada noite ainda um pouco mais. Até que ele já lhes sente o calor do hálito. As caras inexpressivas respiram – o líder acorda num grito. Tenta explicar à mulher: sonhei que... sonhei que... Mas não tem o que contar. Sonhou que era um líder de pessoas vivas.


(LISPECTOR, Clarice. Para não esquecer. São Paulo: Siciliano, 1992.)

Observa-se que os vocábulos retirados do texto, nas opções abaixo, apresentam a mesma regra de acentuação gráfica; a alternativa que apresenta uma palavra acentuada por regra DIFERENTE da demais é:

Alternativas
Comentários
  • A palavra "têmporas" da alternativa B é acentuada por ser proparoxítona. As demais são paroxítonas. GAB: B. Bons Estudos! Pra Cima!
  • Por acentuação gráfica, entende-se a marcação, na escrita, da sílaba tônica da palavra por meio de dois distintos sinais de acento gráfico: agudo e circunflexo.

    Quanto à sílaba tônica, as palavras dividem-se em três grupos: oxítona (a última sílaba mais forte, p.ex. pontamaracuxilindró, etc.), paroxítona (a penúltima sílaba mais forte, p.ex. inexovel, rax, revólver, etc.) e proparoxítona (a antepenúltima sílaba mais forte, p.ex. matetica, hipotamo, geográfico, etc.).

    São paroxítonas terminadas em ditongo água, história, silêncio e inócua e por esse motivo são acentuadas. Já em têmporas, a justificativa de acentuação é distinta: trata-se de uma proparoxítona, de modo que precisa ser acentuada.

    Letra B

  • Não sabia ao certo a regra para todas, mas percebi que "água, história, silêncio e inócua" eram paroxítonas terminadas em ditongo crescente, enquanto "têmporas" é uma proparoxítona, o que a diferenciava das outras de maneira muito clara pra mim.

    • A
    • água ( PAROX. EM DIT. CRESC.)
    • B
    • têmporas ( PROPAROXÍTONA )
    • C
    • história ( PAROXÍTONA EM DIT. CRESCENTE OU PROPAROXÍTONA EVENTUAL)
    • D
    • silêncio ( PAROX. EM DIT. CRESC.)
    • E
    • inócua ( PAROX. EM DIT. CRESC.)