SóProvas


ID
5045821
Banca
FACET Concursos
Órgão
Prefeitura de Capim - PB
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo e, em seguida, responda a questão pertinente:

Louco amor
(Ferreira Gullar)

    Era dado a paixões, desde menino. Na escola, aos oito anos, sentava-se ao lado de Nevinha, que tinha a mesma idade que ele e uns olhos que pareciam fechados: dois traços no rosto redondo e sorridente. Quando se vestia, de manhã cedo, para ir à escola, pensava nela e queria ir correndo encontrá-la. Puxava conversa a ponto da professora ralhar. Mas, chegaram as férias de dezembro, perguntou onde ela ia passá-las. “No inferno”, respondeu. Ele se espantou, ela riu. “É como minha mãe chama o sítio de meus avós em Codó.” No ano seguinte, sua mãe o matriculou numa escola mais perto de sua casa e ele nunca mais viu Nevinha.
    Na nova escola, enamorou-se de Teca, que tinha duas tranças compridas caídas nos ombros. Era engraçada e sapeca, brincava com todo mundo e não dava atenção a ele. Já no ginásio, foi a Lúcia, de olhos fundos, silenciosa, quase não ria. Amor à distância. Uma vez ela deixa cair o estojo de lápis e ele, prestimoso, o juntou no chão, e lhe entregou. Ela riu, agradecida.
    Enlouqueceu mesmo foi pela Paula, de 15 anos, quando ele já tinha 22 e se tornara pintor. Era filha de Bonetti, seu professor na Escola de Belas Artes e cuja casa passou a frequentar, bem como outros colegas de turma. A coisa nasceu sem que ele se desse conta, já que a via como uma menina. Mas, certo dia, acordou com a lembrança dela na mente, o perfil bem desenhado, o nariz, os lábios, os olhos inteligentes. Ela era muito inteligente, falava francês, já que vivera com os pais em Paris e lá estudara. A partir daquela manhã, quando visitava o professor era, na verdade, para revê-la. De volta a seu quarto, no Catete, sentia sua falta e inventava pretextos para visitas. Ficava a olhá-la, o coração batendo forte, louco para tomar-lhe as mãos e dizer-lhe: “Eu te amo, Paula”.
    Mas não se atrevia, embora já não conseguisse pintar nem sair com os amigos sem pensar no momento em que declararia a ela o seu amor. Mas não o fazia e já agora custava a dormir e, quando dormia, sonhava com ela. Mas eis que, numa das visitas à casa do professor, não a encontrou. Puxou conversa com a mãe dela e soube que havia ido ao cinema com um primo. Quando chegou, foi em companhia dele, de mãos dadas. Era o Eduardo, que chegara dos Estados Unidos, onde se formara.
    Sentiu que o mundo ia desabar sobre sua cabeça, mal conseguia ver os dois, sentados no divã da sala, cochichando e rindo, encantados um com o outro.
    Agora, acordar de manhã era um suplício, já que a lembrança dela não lhe saía da cabeça. Evitava agora ir à casa de Bonetti, que, entranhando-lhe a ausência, telefonava para convidá-lo. Temia ir lá, mas terminava indo, porque pelo menos podia revê-la, mas voltava para casa arrasado. Muitas vezes nem entrava em casa, com medo de se defrontar com a insuportável realidade. Ficava pela rua andando à toa, até altas horas da noite. Decidiu entregar-se totalmente a sua pintura, comprou telas novas, tintas novas, mas postado em frente ao cavalete, tudo o que conseguia era pensar nela. “Então, vou fazer dela o tema de meus quadros”, decidiu-se e iniciou uma série de retratos dela, que eram antes alegorias patéticas e dolorosas. Os colegas gostaram e contaram ao Bonetti, que pediu para vê-los. Levou-lhe alguns dos quadros, que mereceram dele entusiasmados elogios. Paula, depois de elogiá-los, observou: “Ela parece comigo!”. Ele a fitou nos olhos: “Ela é você”. Sem entender, ela sorriu lisonjeada.
    Paula e o primo se casaram e foram morar nos Estados Unidos. Júlio ganhou um prêmio de viagem ao exterior e foi conhecer os museus da Europa, fixando-se em Paris, que era na época o centro irradiador de arte e literatura. De volta ao Brasil, conheceu Camila, com quem se casou e teve dois filhos, uma menina e um menino, que hoje estão casados e lhe deram netos. Quanto a Paula, de que nunca mais tivera notícias, soube que se separara do marido e voltara ao Brasil, indo morar em São Paulo.
    Júlio e Bonetti continuaram amigos. Já sem a mesma frequência, ia visitá-lo naquele mesmo apartamento de Botafogo, onde viveu com a mesma mulher, mãe de Paula. Morreu dormindo, como queria. Júlio foi ao velório, no Cemitério de São João Batista, onde ele encontrou Paula, quarenta anos depois.
    Ela estava sentada junto ao caixão, ao lado de uma moça. “Júlio foi amigo de meu pai a vida toda... Me conheceu menina.”
    Falou aquilo com toda a naturalidade. “Que estranha é a vida”, pensou ele, fitando o rosto da mocinha que jamais poderia ter sido filha sua.

Gullar, Ferreira. A alquimia na quitanda: artes, bichos e barulhos nas melhores crônicas do poeta. São Paulo: Três Estrelas, 2016.

Releia e responda: “Ficava a olhá-la, o coração batendo forte, louco para tomar-lhe as mãos e dizer-lhe: “Eu te amo, Paula”.” Dê a classificação morfológica respectiva dos termos sublinhados, considerando a inserção na sentença:

Alternativas
Comentários
  • Gab letra C: " Louco para tomar-lhe as mãos (suas mãos, as mão dela), e dizer-lhe (dizer à ela)

  • Os pronomes possessivos são os tipos de pronomes que fazem uma referência às pessoas do discurso indicando uma relação de posse. Os pronomes possessivos mantêm uma estreita relação com os pronomes pessoais pois indicam aquilo que cabe ou pertence aos seres indicados pelos pronomes pessoais. 

    Exemplos:

    • Essa caneta é minha? (o objeto possuído é a caneta, que pertence à 1ª pessoa do singular)
    • O computador que está em cima da mesa é meu. (o objeto possuído é o computador, que pertence à 1ª pessoa do singular)
    • sua bolsa ficou na escola. (o objeto possuído é a bolsa, que pertence à 3ª pessoa do singular)
    • Nosso trabalho ficou muito bom. (o objeto possuído é o trabalho, que pertence à 1ª pessoa do plural)

  • O cão mordeu-lhe na perna.

    Refira-se que, na oração apresentada, o -lhe, pronome pessoal átono, assume o valor de possessivo, porque substitui, por exemplo, a sua ou é equivalente à construção possessiva a... dele: «o cão mordeu na sua perna» ou «o cão mordeu na perna dele». Este uso do possessivo é, no entanto, dispensável, porque quando nos referimos a partes do corpo, é possível omitir o pronome possessivo (é um caso de ). Neste caso, o pronome pessoal átono funciona como um possessivo: «o cão mordeu-lhe na perna» = «o cão mordeu na sua perna/na perna dele».

    assim ocorre na questão dada:

    Ficava a olhá-la, o coração batendo forte, louco para tomar-lhe as mãos e dizer-lhe: “Eu te amo, Paula”.

    Louco para tomar as suas mãos e dizer para ela (dizer-lhe) ( pronome pessoal do caso reto) : Eu te amo, Paula.

    Estou retomando os estudos e confesso que foi uma novidade saber que o lhe, também, assume a função de pronome possessivo.

  • Louco para tomar as mãos dela ( adjunto adnominal) e dizer a ela ( objeto indireto ).

    A crase é proibida antes de pronomes pessoais.

    Lembrem-se: O "lhe" será adjunto adnominal, quando apresentar sentido de posse, logo terá valor de pronome possesivo.

    EX: Cortou-lhe o braço / Cortou o braço dele.

    Pega-lhe na mão / Pega na mão dele.

    Fonte: Fernando pestana.

  • Se a questão parecer muito fácil, fique com um pé atrás!

  • Resposta correta: A

    O enunciado pede análise MORFOLÓGICA e morfologicamente o -LHE só pode ser PRONOME PESSOAL.

  • Releia e responda: “Ficava a olhá-la, o coração batendo forte, louco para tomar-lhe as mãos e dizer-lhe: “Eu te amo, Paula”.” Dê a classificação morfológica respectiva dos termos sublinhados, considerando a inserção na sentença:

    Alternativas

    A

    pronome pessoal / pronome pessoal

    B

    pronome possessivo / pronome possessivo

    C

    pronome possessivo / pronome pessoal

    " Louco para tomar-lhe as mãos (suas mãos, as mão dela), e dizer-lhe (dizer à ela)

    Os pronomes possessivos são os tipos de pronomes que fazem uma referência às pessoas do discurso indicando uma relação de posse. Os pronomes possessivos mantêm uma estreita relação com os pronomes pessoais pois indicam aquilo que cabe ou pertence aos seres indicados pelos pronomes pessoais. 

    Exemplos:

    • Essa caneta é minha? (o objeto possuído é a caneta, que pertence à 1ª pessoa do singular)
    • O computador que está em cima da mesa é meu. (o objeto possuído é o computador, que pertence à 1ª pessoa do singular)
    • sua bolsa ficou na escola. (o objeto possuído é a bolsa, que pertence à 3ª pessoa do singular)
    • Nosso trabalho ficou muito bom. (o objeto possuído é o trabalho, que pertence à 1ª pessoa do plural)

    O cão mordeu-lhe na perna.

    Refira-se que, na oração apresentada, o -lhe, pronome pessoal átono, assume o valor de possessivo, porque substitui, por exemplo, a sua ou é equivalente à construção possessiva a... dele: «o cão mordeu na sua perna» ou «o cão mordeu na perna dele». Este uso do possessivo é, no entanto, dispensável, porque quando nos referimos a partes do corpo, é possível omitir o pronome possessivo (é um caso de ). Neste caso, o pronome pessoal átono funciona como um possessivo: «o cão mordeu-lhe na perna» = «o cão mordeu na sua perna/na perna dele».

    assim ocorre na questão dada:

    Ficava a olhá-la, o coração batendo forte, louco para tomar-lhe as mãos e dizer-lhe: “Eu te amo, Paula”.

    Louco para tomar as suas mãos e dizer para ela (dizer-lhe) ( pronome pessoal do caso reto) : Eu te amo, Paula.

    Estou retomando os estudos e confesso que foi uma novidade saber que o lhe, também, assume a função de pronome possessivo.

    Louco para tomar as mãos dela ( adjunto adnominal) e dizer a ela ( objeto indireto ).

    A crase é proibida antes de pronomes pessoais.

    Lembrem-se: O "lhe" será adjunto adnominal, quando apresentar sentido de posse, logo terá valor de pronome possesivo.

    EX: Cortou-lhe o braço / Cortou o braço dele.

    Pega-lhe na mão / Pega na mão dele.

    D

    pronome relativo / pronome pessoal

    E

    pronome pessoal / pronome relativo