- ID
- 5046508
- Banca
- IBADE
- Órgão
- Prefeitura de Santa Luzia D`Oeste - RO
- Ano
- 2020
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
TEXTO
VOCÊ NÃO PODE TER SEMPRE O QUE QUER
A quarentena surpreendeu a todos. Havíamos recém
entrado em março, quando 2020 começaria pra valer, mas
em vez de dar início ao cumprimento das resoluções de fim
de ano, fomos condenados à prisão domiciliar, mesmo não
tendo cometido crime algum. Paciência: ser livre se tornou
um delito. Parece injusto, mas chegou a hora de entender
que não podemos ter sempre o que queremos.
Gostaríamos muito de rever os amigos e parentes, fazer a
viagem planejada, torcer pelo nosso time, ir ao pilates, ao
cabeleireiro, tomar uma caipirinha com o crush,
comparecer à formaturas e casamentos. Gostaríamos de
ver as lojas abertas, o comércio aquecido, os índices da
bolsa subindo, o dólar baixando.
Gostaríamos de acreditar que todos os líderes do mundo
estão errados e só o nosso presidente está certo.
Gostaríamos de ter alguém lúcido e responsável no
comando do país. Mas, infelizmente, you can´t always get
what you want. Não por acaso, foi essa a música escolhida
pelos Rolling Stones em sua participação no comovente
One World/Together at home, evento transmitido ao vivo
em 18 de abril, onde diversos artistas, personalidades e
profissionais da saúde uniram-se online, cada um em sua
casa, para lembrar que somos todos absolutamente iguais
diante de uma ameaça, e que o distanciamento social é a
saída, mesmo que não seja o que a gente quer.
Seu desejo é uma ordem? Não mesmo. Frase cancelada,
como canceladas foram as peças de teatro, os jogos de
futebol, as liquidações, o happy hour depois do expediente
– e o próprio expediente. Aposentadoria antes da hora,
por tempo indefinido. Qual será o legado, o que
aprenderemos desta experiência?
Que consumir por consumir é uma doença também. Que o
céu está mais azul, a vegetação mais verde e o ar mais
puro: não somos tão imprescindíveis, a natureza agradece
nossa reclusão. Que há muitas maneiras de se comemorar
um aniversário, mesmo sozinho em casa: vizinhos cantam
em janelas próximas, amigos deixam flores na portaria do
prédio, organiza-se uma reunião por aplicativo. Emoção
genuína, festa inimitável. E pensar que há quem gaste uma
fortuna com decoração de ambiente, DJ da moda e
champanhe francês para 500 convidados, e ainda assim
não consegue se sentir amado.
Já tivemos, poucos anos atrás, uma greve de
caminhoneiros que serviu de ensaio do apocalipse. Pois já
não é mais ensaio, é apocalipse now. Não desperdicemos a
chance de amadurecer, simplificar, mudar de atitude. De
valorizar o coletivo em detrimento do individual. De
praticar um novo método de convívio: uns pelos outros,
sempre, e não só na hora do aperto. De fazer deste imenso
país uma nação mais homogênea, em prol de uma
existência menos metida a besta.
(O GLOBO, Marta Medeiros, 2020)
“A quarentena surpreendeu a todos. Havíamos recém entrado em março (...)”. O tempo verbal de “Havíamos” no pretérito imperfeito do subjuntivo é: