SóProvas


ID
5051944
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Câmara de Arcos - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

    Como é sabido, a infância não é algo que tenha existido desde sempre. Crianças sempre existiram, obviamente, mas o que entendemos por infância é um conceito recente em termos históricos. Basta lembrar que muitos de nós tiveram avós que trabalhavam na roça desde cedo e que se casavam aos 12, 13 anos. E só não se casavam antes porque o ato de casar estava ligado ao ato de engravidar. Assim, era necessário esperar a primeira menstruação não da menina, mas da mulher.

    É comum pessoas que visitam povos indígenas ou comunidades ribeirinhas da Amazônia se espantarem com a diferença do que é ser uma criança para esses povos e comunidades. O primeiro espanto costuma ser o fato de que meninos e meninas mexem com facas, em geral bem grandes, no cotidiano. Fazem quase tudo o que um adulto faz. Nadam sozinhas no rio, escalam árvores altas, cozinham, caçam e pescam. Aprendem com os adultos e com as crianças mais velhas.

    Não é que não se tenha cuidado com as crianças, mas o cuidado tem outras expressões e significados, obedece a outro entendimento da vida, variando de povo a povo. Dias atrás um amigo estava numa aldeia indígena e viu um menino pequeno ligando um motor de barco. Ele de imediato avisou ao pai que o filho estava mexendo com algo que poderia ser perigoso. O pai limitou-se a dizer, devolvendo o espanto: “Mas este é o motor dele”.

    É possível concluir que, nesta aldeia, para este povo, assim como para outras comunidades que vivem uma experiência diversa de ser e de estar no mundo, ser criança é outra coisa. O que quero sublinhar aqui é que nada é dado e determinado no campo da cultura. A infância foi inventada pela sociedade ocidental e continua sendo inventada dia após dia. Não existe nenhuma determinação acima da experiência de uma sociedade – e dos vários conflitos e interesses que determinam essa experiência – sobre o que é ser uma criança.

    Nesta época, na sociedade ocidental, a criança deve ser protegida de tudo. Mas não só. Há um esforço de apagamento de que a criança tem um corpo. Não um corpo para o sexo. Mas um corpo erotizado, no sentido de que meninos e meninas têm prazer com seu próprio corpo, têm um corpo que se experimenta.

    Esse apagamento do corpo da criança se entranha na vida cotidiana e também na linguagem. Eu mesma costumava escrever nos meus textos: “homens, mulheres e crianças fizeram tal coisa ou estão sofrendo tal coisa”, ou qualquer outro verbo. Até que uma amiga me chamou a atenção de que crianças têm sexo, e eu as estava castrando no meu texto. Então, passei a escrever: “homens e mulheres, adultos e crianças...”. Conto isso apenas para mostrar que rapidamente internalisamos uma percepção geral como se fosse um dado da natureza e, na medida que a assumimos como fato, paramos de questioná-la.

    Quando os adultos tentam apagar o corpo das crianças, criam um grande problema para as crianças. E para si mesmos. É um fato que as crianças têm sexualidade. Não é uma escolha ideológica. Essa experiência é parte da nossa espécie e de várias outras. Qualquer pessoa que tenha filhos saudáveis ou acompanhe crianças pequenas próximas sabe que elas se tocam e descobrem que seus pequenos corpos podem lhes dar prazer. E esta já se mostrou uma experiência fundamental para uma vida adulta responsável e prazerosa no campo da sexualidade, que respeite o corpo e o desejo do outro, assim como o próprio corpo e o próprio desejo.

    Qualquer adulto que não recalcou sua memória destas experiências com o corpo se vai lembrar delas se for honesto consigo mesmo. Quem tem corpo, tem sexualidade. O que não pode ter é violência contra esses corpos.


(Texto especialmente adaptado para esta prova. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/12/opinion/1520873905_5719 40.html. Acesso em: 12/12/2019.)

No excerto “Nadam sozinhas no rio, escalam árvores altas, cozinham, caçam e pescam.” (2º§), quantas orações coordenadas assindéticas podem ser identificadas?

Alternativas
Comentários
  • Nadam sozinhas no rio, escalam árvores altas, cozinham, caçam e pescam.”

    → Orações coordenadas assindéticas são as orações que não apresentam síndeto, ou seja, conjunção em sua estrutura. Temos quatro orações no período.

    GABARITO. C

  • A ultima é Sindética... " caçam e pescam." ligada pela conjunção aditiva "e".

  • Nadam sozinhas no rio, (primeira oração) escalam árvores altas, (segunda oração) cozinham, (terceira oração) caçam e pescam. (quarta oração)”

    Cuidado pois você pode colocar "pescam" como sendo oração assindéticas.

    No caso em tela ele esta associado ao verbo caçam por meio de uma oração coordenada sindética aditiva colocando a noção de soma, de adição, de acrescentar acontecimentos ou fatos.

  • ORAÇÃO é uma frase que tenha um verbo.

    GAB. C

  • Nadam sozinhas no rio, (primeira oração) escalam árvores altas, (segunda oração) cozinham, (terceira oração) caçam (quarta oração)”

    Creio que a maioria errou por pensar que "caçam e pescam" fosse uma oração SINDÉTICA por possuir o conectivo "e".

    Na verdade estariam certos se "caçam e pescam" fosse uma oração, porém é um PERÍODO composto por duas orações..... caçam(primeira oração) e e pescam(segunda oração). Devemos fazer a seguinte pergunta para o conectivo, "quem ele uniu?" , a resposta foi o "pescam" , logo consideramos uma oração coordenada ligada por um conectivo, assim sendo SINDÉTICA.