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ID
5063122
Banca
IDIB
Órgão
Prefeitura de Jaguaribe - CE
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO I 


Desumano é quem perdeu a capacidade de ver o outro como ser humano


Por Élio Gasda*


   A desumanização é um processo que reduz a essência humana no indivíduo até eliminá-la. Desumanizar é eliminar restrições morais à crueldade. Agressões a animais despertam mais comoção e revolta do que a violência e a morte de crianças. Pessoas tratam seus bichos de estimação como filhos e apoiam linchamentos, chacinas e tortura. Desumano é quem perdeu a capacidade de ver o outro como ser humano. Uma sociedade desumanizada é aquela que define um grupo humano como não-humano, e que permite que esse grupo seja eliminado ou tenha negado seus direitos. Descartar pessoas tornou-se um fenômeno. 

   Sociedade desumana trata atos desumanos com banalidade. Um ato mau torna-se banal quando é vivenciado como se fosse comum. Monstruosidades tornam-se fatos corriqueiros por meio da superficialidade do agente e da descartabilidade da vítima. Quanto mais superficial alguém for, mais provável será que ceda ao mal. (...) 

   O servilismo também ajuda a entender a desumanização. O adesismo de parcelas da sociedade, mesmo aquelas formadas nos princípios morais, é um fato. Um povo torna-se cúmplice da loucura do sistema na medida em que partilha das suas mentiras. Além de ser enganado, se recusar em saber a verdade. Ao formatar os seres humanos, o sistema os desumaniza para apenas encaixá-los na sua engrenagem. Os efetivamente responsáveis que se sentem culpados pelos tempos sombrios (Hannah Arendt) são poucos. 

   A voz da consciência nos interpela sobre a responsabilidade de nossos atos. Podemos ouvir essa voz? Ainda temos acesso ao acervo de princípios éticos que nos alerta sobre o processo de desumanização em curso? Não precisamos mais fechar os ouvidos para a voz de uma consciência que incorporou o discurso da sociedade respeitável, a voz das “pessoas de bem”. São “humanos direitos” que não têm remorso. A desumanização não se origina do desconhecimento, mas da irreflexão. Entre todas as características, a mais determinante da desumanização é a incapacidade de pensar, de distinguir o certo do errado, a verdade da mentira. A superficialidade dos discursos medíocres avaliza a maldade. Acreditar é mais fácil do que pensar. É difícil pensar por si mesmo. A maioria repete o que lhes é dito. Conformistas, não aprenderam a duvidar. Resignados à ignorância dos lugares comuns. 

   Ubi dubium ibi libertas (onde há dúvida, há liberdade). Pensar é sair da mesquinhez do cotidiano, é refletir sobre os acontecimentos e dar significados. É buscar a verdade dos fatos por vias racionais. São muitas as informações, mas não se pensa sobre elas. O pensamento é diálogo silencioso consigo mesmo. Não é passividade, mas ação revolucionária. A desumanização impõe o desafio de educar para o pensamento imune aos clichês. Transmitir conhecimentos é imprescindível, mas educar para o pensamento é uma urgência. 

   O ódio desumaniza. No livro 1984 de George Orwell, os agentes do Grande Irmão assistiam sessões de ódio coletivo. Aparecia na tela a figura humana a odiar, e todos se sentiam transtornados por ela. A mídia parece servir-se dos mesmos procedimentos. Como definir aqueles que celebram a barbárie em um país que trata pessoas pior do que animais? Quem os ensinou a odiar? O ódio afeta o cérebro, emburrece. Quem odeia não tolera divergências. Não existem adversários, todos são inimigos. O ódio não faz parte da essência humana. Aprende-se a odiar (Mandela). (...) 

   Para você, quanto vale a vida dos ninguéns? “Menos do que a bala que os mata?” (Eduardo Galeano). Se eu não me importo com ninguém, alguém se importará comigo? Ninguém se humaniza desumanizando o outro. Somente psicopatas torcem para que pessoas morram ou sofram. Quem te deu o salvo-conduto para desejar a morte de alguém? Porque Jesus não foi. “É amando que o humano dá o melhor de si” (Nietzsche). Nada acima do ser humano. Nenhum ser humano abaixo de outro. 


Disponível em https://domtotal.com/noticia/1166208/2017/06/desumanizacao-em-tempos-sombrios/. Acesso em 28/09/2020. 


Na oração “Transmitir conhecimentos é imprescindível, mas educar para o pensamento é uma urgência”, a vírgula foi empregada corretamente, pois está

Alternativas
Comentários
  •  “Transmitir conhecimentos é imprescindível, mas educar para o pensamento é uma urgência”

    separando a oração coordenada assindética da oração sindética adversativa.

    Gabarito B

  • DUPLO GABARITO

    Segundo a teoria, a coordenação é a escrita de elementos que são independentes entre si, contrastando a subordinação, em que um elemento - uma oração, um período, que seja - é dependente do outro. O mas é classificado como conjunção coordenativa, ligando orações coordenadas. Essas orações, portanto, são elementos de mesma função e a alternativa C também está correta, além da B.

  • gaba B

    assindéticas → não tem conectivos

    sindéticas → com conectivos

    o "a" muita das vezes traz sentido de negação, "atemporal" "ateu" "assexual"

    pertencelemos!

  • CUIDADO

    A questão assume posição polêmica. Na humilde opinião deste professor que vos escreve, tal posição é incorreta.

    A banca utiliza construção munida de duas orações coordenadas, qual seja:

    Transmitir conhecimentos é imprescindível, mas educar para o pensamento é uma urgência”

    Segundo a banca, estaríamos diante de uma oração coordenada assindética e uma oração coordenada sindética.

    Mas qual seria o problema ? É importante termos claro o conceito de oração sindética e assindética. Quando falamos da classificação dos períodos compostos, os termos sindética e assindética vão nos dizer qual o tipo de ligação existente entre orações, se com uso de conjunção (sindética) ou se com ausência de conectivo (assindética).

    Ocorre que, uma vez que tais classificações dizem respeito a forma de ligação, não há pertinência em classificarmos uma oração que a nada se encontra ligada.

    Para exemplificar o raciocínio, vamos utilizar a construção do enunciado:

    Transmitir conhecimentos é imprescindível, mas educar para o pensamento é uma urgência”

    Indiscutível é que estamos diante de duas orações coordenadas, mas qual seria a pertinência de classificarmos a primeira oração como uma oração que se coordena a outra sem conjunção (é isso que a nomenclatura "assindética" indica) se quando analisamos o período percebemos que existe entre as orações uma conjunção de valor adversativo ?

    Assim como a primeira oração, se tomada isoladamente, não poderia ser classificada coordenada, por ausência de outra oração, o conjunto de duas orações ligadas por síndeto não pode aceitar a classificação de uma delas como assindética, vez que não há oração ao qual ela esteja ligada sem presença de conectivo.

    Mais acertada é a posição que, diante da situação em tela, classifica as duas orações como sindéticas, uma estando coordenada a outra pela presença da conjunção.

    Orlando Guimarães, não há correção em seu comentário, a separação de "elementos de mesma função sintática" é justificativa para a virgulação, mas orações coordenadas em um período composto não podem ser consideradas "função sintática".

  • Assertiva B

    separando a oração coordenada assindética da oração sindética adversativa.= Transmitir conhecimentos é imprescindível, mas educar para o pensamento é uma urgência”