SóProvas


ID
5075245
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Ministro Andreazza - RO
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.


De volta pra casa


Nos aeroportos, o cenário já me parecera realidade paralela de ficção científica. Estaria eu personagem de um filme ou de um livro? Todo mundo de máscara, alguns de luvas. Pessoas quietas, silenciosas, tentando manter espaço entre si. Cenário fantasmagórico. Estranhamento total.

Primeiro, paraliso-me concentrando apenas em estar ali, me dou uns momentos para sentir que estou em casa. Do ângulo em que me encontro observo a sala e a cozinha. Há algumas horas atrás saíra do hotel com o motorista da empresa, para o aeroporto. Álcool em gel, lavar as mãos com sabão.

Segundo, observo mala, mochila e bolsa na porta, levo para a área de serviço, esvazio e coloco quase tudo na máquina de lavar. Passo álcool em gel, água sanitária. Papéis, computador, na bancada de pedra na cozinha; descalço os tênis também na área. Limpo as solas. Estão lá até hoje, abertas, higienizadas e não tenho coragem de guardá-las. Idem os tênis. Não toquei mais, até parece trauma.

Terceiro, olho a geladeira, o freezer, bem abastecido. Na véspera, meu filho cozinhara, levara mantimentos e me dissera ao telefone: “quando chegares, tu não sais mais!” Frango ao catupiry, carne assada ao molho, arroz, lentilha, lasanha, vários potes. Frutas, legumes, ovos, leite, massa, mel. Produtos de limpeza. Filho de ouro! Começo a me conscientizar sobre o que poderia significar uma quarentena. E vou descansar, que o primeiro voo saíra às 3 da manhã e estou insone.

Começo a trabalhar online, o que já costumo fazer. Revisões e orientações, álcool em gel, lavar as mãos com sabão, relato do trabalho que realizara em março, álcool em gel, lavar as mãos com sabão. Telefonemas e mensagens de Whatzapp. Álcool em gel, lavar as mãos com sabão, noticiários na TV, séries e filmes na Netflix, sarau literário por google meet, como é bom rever o grupo! Mais disciplinado do que nunca por conta do encontro virtual, ninguém fala ao mesmo tempo. Que vírus danado!

Que mexida na ordem, que caos instalado! No 4º dia senti tontura, caminho meio torta pela casa, chequei se seria sintoma do corona, mas não. Qualquer arranhadinho na garganta lá ia eu para o termômetro. E vá gargarejo com água morna e sal. Litros de chá e água. Como tenho rinite alérgica e tosse de refluxo, às vezes pensava, “será o corona”? E dê-lhe desinfecção, álcool, água sanitária, desinfetante. E não deixar louça suja, meu pior pesadelo: o tempo de cozinha, de máquina de lavar, de limpar a casa, de lavar gêneros alimentícios. Essa higienização diária vai me deixar maluca!

Inicia uma reconstrução do dia a dia, novo cotidiano, álcool em gel, lavar as mãos com sabão. Enclausurada, sem liberdade de ir e vir, em contrapartida outras liberdades a serem exercidas. Não me abato. Mas reconheço que me sinto controlada, sem saber que novo mecanismo é esse. Gosto de estar em casa sozinha. Sempre tenho mil coisas para fazer: pensar, imaginar, arrumar, organizar, ler. Porém esse jeito compulsório e com esse vírus lá fora ameaçando, não é nada confortável.

O cara da fruteira se despediu após me entregar as sacolas no portão do edifício, e depois do ritual do pagamento com a maquininha envolta em papel filme (será que adianta?), ia saindo com meu cartão enfiado na máquina. Gritei, ei, meu cartão! Ele se voltou pedindo desculpas. Todo o mundo atrapalhado, álcool em gel, lavar as mãos com sabão. Uso máscara e luvas quando desço pra colocar o lixo e buscar a correspondência e o jornal. O novo mundo com Corona vírus. Álcool em gel, lavar as mãos com sabão. A vida em suspenso. A rua antes tão disputada para estacionamento, agora vazia, desfigurada.

Finalmente os 14 dias!! para ter certeza de que não retornei da viagem infectada. Mas não consigo me sentir aliviada. “O mundo, como o conhecemos, não existe mais”, ouço na TV. Frase forte. Meu sistema imunológico fraco.

Aglomerações, não uso de máscara, quebra do isolamento social. O ser humano se mostra mais onipotente, ignorante e alienado como nunca. Mecanismo maciço de negação. Mais do que medo! Um viruzinho que nem vivo é, uma proteína revestida, um microrganismo invisível, tão letal e perigoso, colocando o mundo de joelhos. Às vezes ainda perpassa uma sensação de irrealidade. Pandemia.

Zanzo pela casa durante o dia, passando por diversos estados de espírito: indignada, perplexa, compassiva, alarmada, vulnerável, repugnada, assustada, raivosa, envergonhada, fragilizada, impotente, raramente tranquila, álcool em gel, lavar as mãos com sabão. Respira a terra, gorjeiam as águas, limpa-se o ar. E morrem as pessoas.

Minhas mãos nunca estiveram tão cheirosas nas 24 horas do dia. Mesmo cortando cebola, elas rescendem a perfume. Mordo a cenoura crua, cansada de lavar panelas. Meus dentes hão de aguentar.


Berenice S. Lamas (Texto adaptado) 

No período “Como tenho rinite alérgica e tosse de refluxo, às vezes pensava, “será o corona”?, a oração grifada tem o mesmo valor semântico-sintático que o da oração que aparece na opção:

Alternativas
Comentários
  • Resposta: alternativa d

    Como tenho rinite alérgica e tosse de refluxo, às vezes pensava, “será o corona”

    A frase sublinhada tem o sentido de causa, em que a consequência é o pensamento "será o corona"

    A casa desmoronou fácil como um castelo de areia. - oração adv. comparativa

    B Fizemos o trabalho de casa como o professor pediu. - oração adv. conformativa

    C Quanto menos se sabe, mais dificuldade se encontra. - oração adv. proporcional

    D Não compareceu ao serviço já que estava doente. - oração adv. causativa

    E Embora soubesse o final, leu a obra com atenção. - oração adv. concessiva

  • A casa desmoronou fácil como um castelo de areia. - oração adv. comparativa

    B Fizemos o trabalho de casa como o professor pediu. - oração adv. conformativa

    C Quanto menos se sabe, mais dificuldade se encontra. - oração adv. proporcional

    D Não compareceu ao serviço já que estava doente. - oração adv. causativa

    E Embora soubesse o final, leu a obra com atenção. - oração adv. Concessiva

  • Quanto menos se sabe, mais dificuldade se encontra.... essa aí é a banca tirando sarro dos candidatos kkk

  • GABARITO - D

     Como tenho rinite alérgica e tosse de refluxo, às vezes pensava, “será o corona”?

    Já que tenho renite alérgica ....

    ( Causal )

    ________________________________

    a) A casa desmoronou fácil como um castelo de areia.

    Comparativa

    b) Fizemos o trabalho de casa como o professor pediu.

    Conforme o professor pediu

    Consoante o professor pediu

    _________________________________

    c) Quanto menos se sabe, mais dificuldade se encontra.

    Proporcional

    _________________________________

    d) Não compareceu ao serviço já que estava doente.

    Causal

    e) Embora soubesse o final, leu a obra com atenção.

    Concessiva

  • A questão trata das Orações subordinadas Adverbiais.

    A casa desmoronou fácil como um castelo de areia.

    Sentido de comparação

    Fizemos o trabalho de casa como o professor pediu.

    Sentido de conformidade

    Quanto menos se sabe, mais dificuldade se encontra.

    Sentido de proporção

    Não compareceu ao serviço já que estava doente.

    Sentido de causa

    Embora soubesse o final, leu a obra com atenção.

    Sentido de concessão

  • COMO- Início de frase = a já que- Causal

    COMO- Equivaler a conforme e unir orações com diferentes verbos- Conformativo

    COMO- Equivaler a igual a e unir orações que apresentem o mesmo verbo (implícito ou explícito)- Comparativo

    Aula: Marcello Giullian