SóProvas


ID
5081458
Banca
VUNESP
Órgão
CODEN
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português

Lições de vida

    Em 2009, um avião pousou de emergência no rio Hudson. O piloto era Sully Sullenberger e as 155 pessoas a bordo foram salvas por uma manobra impossível, perigosa, milagrosa. Sully virou herói e a lenda estava criada.
    Em 2016, no filme “Sully, o herói do rio Hudson”, Clint Eastwood revisitou a lenda para contar o que aconteceu depois do milagre: uma séria investigação às competências do capitão Sully Sullenberger. Ele salvara 155 pessoas, ninguém contestava. Mas foi mesmo necessário pousar no Hudson? Ou o gesto revelou uma imprudência criminosa, sobretudo quando existiam opções mais sensatas?
    Foram feitas simulações de computador. E a máquina deu o seu veredicto: era possível ter evitado as águas do rio e pousar em LaGuardia ou Teterboro. O próprio Sully come- çou a duvidar das suas competências. Todos falhamos. Será que ele falhou?
    Por causa desse filme, reli um dos ensaios de Michael Oakeshott, cujo título é “Rationalism in Politics”. Argumenta o autor que, a partir do Renascimento, o “racionalismo” tornou- -se a mais influente moda intelectual da Europa. Por “racionalismo”, entenda-se: uma crença na razão dos homens como guia único, supremo, da conduta humana.
     Para o racionalista, o conhecimento que importa não vem da tradição, da experiência, da vida vivida. O conhecimento é sempre um conhecimento técnico, ou de uma técnica, que pode ser resumido ou aprendido em livros ou doutrinas.
    Oakeshott argumentava que o conhecimento humano depende sempre de um conhecimento técnico e prático, mes- mo que os ensinamentos da prática não possam ser apresentados com rigor cartesiano.
    Clint Eastwood revisita a mesma dicotomia de Oakeshott para contar a história de Sullenberger. O avião perde os seus motores na colisão com aves; o copiloto, sintomaticamente, procura a resposta no manual de instruções; mas é Sully quem, conhecendo o manual, entende que ele não basta para salvar o dia.
    E, se os computadores dizem que ele está errado, ele sabe que não está – uma sabedoria que não se encontra em nenhum livro já que a experiência humana não é uma equa- ção matemática.
    As máquinas são ideais para lidar com situações ideais. Infelizmente, o mundo comum é perpetuamente devassado por contingências, ambiguidades, angústias, mas também súbitas iluminações que só os seres humanos, e não as má- quinas, são capazes de entender.
    Quando li Oakeshott, encontrei um filósofo que, contra toda a arrogância da modernidade, mostrava como a nossa imperfeição pode ser, às vezes, uma forma de salvação. O ensaio era, paradoxalmente, uma lição de humildade e uma apologia da grandeza humana. Eastwood, aos 86 anos, traduziu essas imagens.

(João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 29.11.2016. Adaptado)

Com base no conteúdo do texto, é correto concluir que

Alternativas
Comentários
  • GABARITO:

    D - Oakeshott enaltece a grandeza humana ao afirmar que, apesar de sermos seres imperfeitos, somos inteligentes e intuitivos.

    "Clint Eastwood revisita a mesma dicotomia de Oakeshott para contar a história de Sullenberger. O avião perde os seus motores na colisão com aves; o copiloto, sintomaticamente, procura a resposta no manual de instruções; mas é Sully quem, conhecendo o manual, entende que ele não basta para salvar o dia."

    "Quando li Oakeshott, encontrei um filósofo que, contra toda a arrogância da modernidade, mostrava como a nossa imperfeição pode ser, às vezes, uma forma de salvação. O ensaio era, paradoxalmente, uma lição de humildade e uma apologia da grandeza humana."

  • Assertiva D

    Oakeshott enaltece a grandeza humana ao afirmar que, apesar de sermos seres imperfeitos, somos inteligentes e intuitivos.

     Quando li Oakeshott, encontrei um filósofo que, contra toda a arrogância da modernidade, mostrava como a nossa imperfeição pode ser, às vezes, uma forma de salvação. O ensaio era, paradoxalmente, uma lição de humildade e uma apologia da grandeza humana. Eastwood, aos 86 anos, traduziu essas imagens.

  • gaba D

    já dei essa dica na questão de cima, vou reprisar.

    Existe diferença de INTERPRETAÇÃO DE TEXTO x COMPREENSÃO TEXTUAL:

    INTERPRETAÇÃO DE TEXTO → não tá escrito, normalmente vem assim na questão "infere-se do texto....", ou seja, eu vou ter que inferir, deduzir.

    COMPREENSÃO TEXTUAL → está escrito, eu vou encontrar. Normalmente vem assim "de acordo com o texto...".

    "PATINIK, mas no que isso vai me ajudar??????!!!!!!1111ONZE"

    Olhe o enunciado: "Com base no conteúdo do texto, é correto concluir que"

    É compreensão textual, tá lá escrito, tu não tem que inferir nada só encontrar o trecho que condiz com a alternativa.

    "Quando li Oakeshott, encontrei um filósofo que, contra toda a arrogância da modernidade, mostrava como a nossa imperfeição pode ser, às vezes, uma forma de salvação. O ensaio era, paradoxalmente, uma lição de humildade e uma apologia da grandeza humana. Eastwood, aos 86 anos, traduziu essas imagens."

    pertencelemos!

  • O que nos leva à dúvida nessa questão é que Oakeshott não coloca a imperfeição como algo ruim, ele diz que ela nos beneficia como humanos. Então o comando da resposta não deveria dizer "apesar sermos seres imperfeitos".

  • D - é uma extrapolação do texto!

  • Por que as letras "A" e "C" estão erradas?

  • Gabarito A

    A questão não é passível de anulação.

    Por que a C está errada?

    C) os momentos críticos do voo levaram Sully e seu copiloto a basearem suas decisões na intuição e na vivência profissional.

    O avião perde os seus motores na colisão com aves; o copiloto, sintomaticamente, procura a resposta no manual de instruções; mas é Sully quem, conhecendo o manual, entende que ele não basta para salvar o dia.

    _si vis pacem para bellum

  • alguem poderia explicar porque A esta errada ?

  • Não concordo muito com a D, mas vá lá... os comentários dos colegas já esclarecem.

    Eu coloquei A por exclusão, mas tb nao acho ela correta, pois, para o racionalista, o saber não é produto da experiência, mas sim do conhecimento técnico, resumido em livros, etc. etc.

    Já a alternativa C está totalmente errada... o copiloto não baseou "suas decisões na intuição e na vivência profissional", ele foi no manual ver o q fazer.

  • DESCULPA, GALERA, MAS NÃO ACHO QUE O TEXTO EXTRAPOLOU.

    As máquinas são ideais para lidar com situações ideais. Infelizmente, o mundo comum é perpetuamente devassado por contingências, ambiguidades, angústias, mas também súbitas iluminações que só os seres humanos, e não as má- quinas, são capazes de entender. (INTUIÇÕES)

     Quando li Oakeshott, encontrei um filósofo que, contra toda a arrogância da modernidade, mostrava como a nossa imperfeição pode ser, às vezes, uma forma de salvação. O ensaio era, paradoxalmente, uma lição de humildade e uma apologia da grandeza humana... (GRANDEZA)

    NÃO ACHO QUE EXTRAPOLOU...

    ALÉM DISSO, BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A C e a A

    A) os racionalistas consideram que o conhecimento téc- nico e sobretudo o saber que é produto da experiên- cia são aprendidos em livros e manuais.

    Errada , pois ele disse que o conhecimento humano é fruto de um conhecimento técnico, aliado com algo mais prático.

    O ÚNICO CONHECIMENTO QUE VOCÊ ADQUIRE POR MEIO DE LIVROS E DOUTRINAS É O CONHECIMENTO TÉCNICO.

    C)os momentos críticos do voo levaram Sully e seu copiloto a basearem suas decisões na intuição e na vivência profissional.

    ERRADA, POIS COMO FOI BEM DITO EM ALGUNS COMENTÁRIOS, QUEM SE BASEOU NA VIVÊNCIA FOI APENAS SULLY...

  • Questão boa. Na prova seria um divisor de águas

  • Para matar a questão, temos que distinguir as passagens do Ensaio de Oakeshott, o que pensavam os racionaislitas, o argumento de Oakeshott e que dizia o Filósofo. Podemos até entender como personagens do texto. Então separe bem essas passagens.

    a)ERRADA, os racionalistas consideram que o conhecimento téc- nico e sobretudo o saber que é produto da experiên- cia são aprendidos em livros e manuais.

    R: Para o racionalista, o conhecimento que importa não vem da tradição, da experiência, da vida vivida (Matamos a A aqui, está explícito no texto que os racionalistas não defendem a experiência vivida como forma de conhecimento)

    b)ERRADA, o jornalista aprova a genialidade das manobras executadas por Sullenberger, porém reconhece a arro- gância do piloto em não admitir erros.

    R: A única passagem que se fala de arrogância, é quando o autor do texto cita o filósofo no último parágrafo. Então temos uma extrapolação.

    c)ERRADA, os momentos críticos do voo levaram Sully e seu copiloto a basearem suas decisões na intuição e na vivência profissional.

    R: Sully usou sua experiência por não acreditar no manual, que o copiloto começou a ler para tentar ajudar.

    d)CORRETA, Oakeshott enaltece a grandeza humana ao afirmar que, apesar de sermos seres imperfeitos, somos inteligentes e intuitivos.

    R: Oakeshott argumentava que o conhecimento humano depende sempre de um conhecimento técnico e prático, mes- mo que os ensinamentos da prática não possam ser apresentados com rigor cartesiano. - Ao citar seres imperfeitos, a assertiva remete ao trecho em que o Oakeshott cita o fato de muitas vezes o conhecimento não apresentar rigor cartesiano. Entende-se por cartesiano aquilo que passou por rigorosa metodologia científica. Mesmo sem isso, por vezes, acertamos, que foi o caso de Sully, ao deixar de lado o manual e confiar em si mesmo, na sua intuição.

    e)ERRADA,  filósofo defende que o aprendizado decorrente das experiências cotidianas seria impossível sem estu- dos acadêmicos rigorosos.

    R: Extrapolação,  "Quando li Oakeshott, encontrei um filósofo que, contra toda a arrogância da modernidade, mostrava como a nossa imperfeição pode ser, às vezes, uma forma de salvação. (...) Veja, essa é a única ideia do filósofo citada no texto, e não tem nenhuma relação com a assertiva.

  • Mesmo lendo o comentário dos colegas, continuo achando a D uma extrapolação.

    Complicado esse tipo de questão.

  • Temos aqui outra questão cujo objetivo é avaliar a capacidade de o candidato localizar informações no texto e interpretar fatos. Questões dessa natureza geralmente são vistas como difíceis, especialmente porque, via de regra, os textos associados a elas são um pouco extensos. Por isso, a atenção na leitura deve ser redobrada.

     

    Dito isto, vamos à resolução.

     

    O enunciado coloca cinco frases e o candidato deve apontar qual delas é verdadeira, de acordo com aquilo que está expresso no texto associado à questão. Analisando cada alternativa temos:

     

    A)    Incorreta. Os racionalistas prezam, sim, pelo saber adquirido por meio dos livros, mas descartam aquele conhecimento que advém da experiência. É importante estar atento a cada palavra de cada uma das frases, pois, em alguns casos, a simples presença de uma delas fora de contexto pode induzir ao erro. É isto o que ocorre aqui: a palavra experiência aparece no texto, porém, ela não está relacionada ao que os racionalistas pensavam, razão pela qual a letra A não é a resposta certa.

     

    B)    Incorreta. O jornalista não faz qualquer juízo de valor em seu texto. Portanto, a letra B também não é a resposta certa.

     

    C)    Incorreta. Tanto Oakeshott quanto seu copiloto conheciam o manual de voo, logo, a afirmação trazida pela letra C está errada.

     

    D)    Correta. Sim, esta é a grande mensagem que o texto tenta passar. Mesmo sendo passíveis de falhas, os humanos são capazes de superar dificuldades a partir de outras estratégias, usando, por exemplo, a intuição e a inteligência.

     

    E)     Incorreta. O filósofo mencionado no texto não defende essa posição, mas sim, argumenta que, no Renascimento, o conhecimento adquirido por meio de livros é mais valorizado.

     

    Gabarito do Professor: Letra D.